O estado do conhecimento em publicações científicas: entre teorias, práticas e metodologias

The state of knowledge in scientific publications: between theories, practices and methodologies

El estado del conocimiento en las publicaciones científicas: entre teorías, prácticas y metodologías

Antônio Matheus do Rosário Corrêa¹

MOROSINI, Marília; KOHLS-SANTOS, Pricila; BITTENCOURT, Zoraia. Estado do Conhecimento: teoria e prática. Curitiba: Editora CRV, 2021

A obra Estado do Conhecimento: teoria e prática discute, em cinco capítulos, a elaboração de pesquisas denominadas Estado do Conhecimento (EC) – também conhecido como Estado da Arte –, na qual considera aspectos teóricos e metodológicos, disposição de repositórios de publicações científicas e a prática de escrita do EC, vislumbrando os resultados e análises, concentrado na área de conhecimento da Educação. As autoras convidam o leitor á conhecerem a conceituação e teoria do EC, os procedimentos metodológicos para sistematização dos resultados, além da prática que envolve tabulação, descrição e análise.

A obra tem como autoras Marília Costa Morosini, Pricila Kohls dos Santos e Zoraia Aguiar Bittencourt, conforme biografias são apresentadas de forma breve a seguir. Marília Costa Morosini está professora titular e coordenadora do Centro de Estudos em Educação Superior (CEES), vinculada a Escola de Humanidades e ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEdu) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), tendo como áreas de interesse o nível e a internacionalização da Educação Superior, competências acadêmicas e organismos internacionais.

Pricila Kohls dos Santos está professora e pesquisadora do PPGEdu da Universidade Católica de Brasília (UCB), integrante da Rede Sul-Brasileira de Investigadores em Educação Superior (RIES), tendo como temas de interesse a formação de professores, internacionalização e Educação Superior, permanência estudantil, informática na educação, ambientes de aprendizagem, tecnologias digitais, educação a distância e tutoria online.

Zoraia Aguiar Bittencourt está professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Universitas/RIES (PUC-RS), tendo como áreas de interesse a alfabetização, a Educação Integral, estudos da linguagem, estudos sobre infância, formação docente e Educação Superior.

O livro propõe contribuir para a discussão e construção do EC em publicações científicas, possibilitando a pesquisadoras, pesquisadores, docentes e estudantes a compreensão e formas de construção para suas pesquisas, além de propiciar o entendimento desse campo científico em aproximação com o objeto de estudo elencado. A arquitetura da obra dispõe de uma breve apresentação, o prefácio escrito por João Ferreira de Oliveira e o corpo do livro, composto por dois eixos – sendo o primeiro de caráter teórico e metodológico e segundo com teor prático, direcionado a escrita e a produção do EC –, além das referências bibliográficas e índice remissivo.

A princípio, o conceito de EC é fundamental para a leitura e entendimento da obra, sendo definido como uma pesquisa fundamentada na identificação, registro e categorização que induzem a reflexão e síntese da produção científica em determinada área ou campo do conhecimento. As autoras situam período de tempo (recorte temporal) e contexto (instituição e território) como relevantes para os critérios de mapeamento, assim como os gêneros textuais que podem ser contemplados, como artigos de periódicos, teses, dissertações, entre outros.

O primeiro capítulo, intitulado Estado do Conhecimento: aspectos teóricos e metodológicos, aborda questões substantivas sobre a construção da produção científica e, em específico, de Estados do Conhecimento na área da Educação. Destaca as políticas públicas traçadas na Educação Superior pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), na qual engloba gestão e avaliação da produção acadêmica em programas de pós-graduação, acentuando a problematização e discussão acerca da produtividade acadêmico-científica no Brasil.

Ressaltam a ruptura de preconceitos de pesquisadoras e pesquisadores, proporcionada por esse tipo de pesquisa, vislumbrando a qualidade interna do EC por critérios analíticos, referenciais para avaliação, articulação de variáveis e síntese do domínio em uma nova perspectiva de investigação. Ao final do capítulo, reforça a complexidade da produção científica, decorrente de inúmeras relações da estrutura da área de conhecimento, das políticas públicas científicas, órgãos gestores, comunidade acadêmica, entre outros agentes e instituições sociais.

O segundo capítulo, Estado do conhecimento: repositório de publicações científicas, versa sobre bases de dados que podem ser utilizadas para levantamento de produções sobre determinada temática, sendo contemplados os repositórios de publicações científicas: Catálogo de Teses e Dissertações da Capes (CTD/Capes), Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (BTD/IBICT), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), entre outros. São realizadas apresentações e caracterizações de cada repositório, assim como procedimentos de levantamento e estipulação de critérios de inclusão e exclusão de produções científicas, com a inserção de descritores e aplicação de filtros nos mecanismos de pesquisa dos sites, no qual as autoras utilizam texto descritivo-argumentativo e digitalização das páginas dos repositórios na internet, de modo a proporcionar ao leitor melhor visualização dos levantamentos do EC.

O terceiro capítulo, A metodologia do Estado do Conhecimento, discute sobre os percursos metodológicos para elaboração do EC, no qual se configura como um tipo de pesquisa bibliográfica que contribui para o avanço da pesquisa científica em determinada área do conhecimento. As autoras elucidam que o Estado do Conhecimento se constitui em quatro etapas, com base na Análise de Conteúdo em Bardin (2016), a saber: 1) bibliografia anotada: processo de leitura de resumos, extração de informações e organização de referência bibliográfica completa das produções; 2) bibliografia sistematizada: seleção direcionada ao objeto de estudo e a construção do conhecimento; 3) bibliografia categorizada: agrupamento de publicações científicas selecionadas, por aproximação temática; 4) bibliografia propositiva: realização de inferências no tocante às publicações e temáticas analisadas.

Tais etapas são fundamentais para a elaboração do corpus de publicações científicas, para o mapeamento, descrição e análise da produção de conhecimentos em determinado tempo e espaço, a dedicação de pesquisadoras e pesquisadores sobre uma temática, assim como desafios e avanços que podem ser visualizados no EC. Salienta-se que esses procedimentos bibliográficos não são fixos, estáticos, sendo necessário o redimensionamento as abordagens metodológicas e enfoques teóricos de análise, quando oportuno.

O capítulo denominado A escrita do Estado do Conhecimento se dedica a construção do texto analítico, compreendido como um processo dialógico entre autor e leitor. As autoras da obra acentuam a importância do detalhamento das etapas de realização do EC, a descrição dos resultados e análise dos achados da pesquisa com profundidade. Nesse cenário, orientam ser importante que o texto possua clareza e esteja pautado em três etapas: 1) planejamento: organização do roteiro do texto; 2) escrita: registro do que foi planejado; 3) revisão e reescrita: análise do que foi escrito. Reforçam a essencialidade da coesão e coerência para escrita, uma vez que são relevantes para a compreensão e interpretação da produção.

Destaca-se que as autoras fazem uma série de sugestões que podem ser utilizadas ao decorrer da produção escrita da pesquisa acadêmica, dentre essas estão quadros com expressões coesivas, verbos direcionados aos objetivos gerais e específicos (descritivos, analíticos, sintéticos e compreensivos) e variações de inserção de citações no texto, que diz respeito a forma de indicação da citação no desenvolvimento da produção escrita, como enunciados literais ou enunciados não literais de outros pesquisadores. Essas orientações são significativas para a iniciação a pesquisa cientifica e, principalmente, a construção do EC, contribuindo para uma escrita fluída e compreensível do conhecimento produzido.

No último capítulo, O Estado do Conhecimento na prática, é apresentada a produção de um EC na íntegra, no qual as autoras se baseiam no tema Inovação na Educação Superior, considerando a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016) e o recorte temporal de 2015 a 2020. Contemplam as diversas etapas de elaboração de pesquisa, desde a escolha do tema, perpassando pelos objetivos e seleção de descritores, assim como os procedimentos bibliográficos, elementares para a realização da pesquisa. Nesse cenário, concluem que o EC, na área da Educação e no tema da Inovação na Educação Superior, é uma metodologia que possibilita a publicação ser um caminho para construção de uma Educação de qualidade.

No decorrer da leitura, percebe-se a complexidade e relevância do EC para o mapeamento, compreensão e análise de campos de conhecimento que emergem na ciência, além das publicações cientificas em formato de dissertações, teses e artigos de periódicos. Nesse sentido, ele se apresenta não apenas como um tipo de pesquisa baseado em metodologias de caráter bibliográfico, mas um campo teórico utilizado por diferentes áreas para o reconhecimento do que foi construído, em diversos tempos e espaços.

A obra é indicada a pesquisadores, discentes de graduação e pós-graduação, docentes da Educação Básica, núcleos e grupos de estudos e pesquisas, interessados na inserção do EC em suas investigações cientificas. Considera-se um livro fundamental para estudos do EC em publicações científicas no Brasil, pelo detalhamento da escrita e orientações para sua aplicabilidade, assim como contribui para a expansão de livros sobre a temática, uma vez que há ínfima produção sobre essa abordagem teórica e metodologia de pesquisa.

Logo, as autoras presenteiam o leitor com uma obra que amplia reflexões teóricas, metodológicas e práticas a partir de suas experiências, em anos de produção e orientação acadêmica, no qual reconhecem a importância do EC para avanço do conhecimento científico e investigação de publicações na área da Educação.

Recebido em: janeiro/2022.

Aprovado em: março/2022.