Avaliação
da aprendizagem no contexto do ensino remoto: desafios e possibilidades
The
assessment of learning in the context of remote education: challenges and
possibilities
La evaluación del aprendizaje en el
contexto de la enseñanza remota: retos y posibilidades
Erica Dantas da Silva[1]
Maria da Conceição Costa[2]
Adriana Moreira de Souza
Corrêa[3]
Resumo
Em decorrência da emergência do ensino remoto, uma prática mediada por tecnologias digitais, várias atividades realizadas pelos docentes precisaram ser refletidas, entre elas, a avaliação da aprendizagem. Assim, este estudo busca discutir os limites e as possibilidades da avaliação da aprendizagem no contexto do ensino remoto nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A pesquisa caracteriza-se como exploratória, no que se refere aos objetivos; bibliográfica quanto aos procedimentos de coleta de dados e qualitativa no que se refere à abordagem da análise dos dados. Os resultados apontaram que os principais desafios à redefinição do trabalho docente são à concepção da avaliação como o exame, a definição dos critérios de avaliação, bem como a ausência de equipamentos eletrônicos, acesso restrito à internet e conhecimentos para o manuseio dos instrumentos avaliativos no meio digital. Quanto às possibilidades, elencamos a análise das condições de acesso à tecnologia digital pelos estudantes, o entendimento da avaliação como um momento pedagógico que visa redirecionar os percursos da aprendizagem, o uso de instrumentos de avaliação diversificados, o fortalecimento da relação professor-aluno e a prática da autoavaliação.
Palavras-chave: Avaliação; Ensino remoto; Desafios; Possibilidades.
Abstract
As a result of the emergence of remote teaching, a
practice mediated by digital technologies, several activities performed by
teachers needed to be reflected upon, among them, the assessment of learning.
Thus, this study seeks to discuss the limits and possibilities of learning
evaluation in the context of remote teaching in the early years of elementary
school. The research is characterized as exploratory as far as the objectives
are concerned; bibliographical as far as the data collection procedures are
concerned, and qualitative as far as the data analysis approach is concerned.
The results pointed out that the main challenges to the redefinition of the
teaching work are the conception of evaluation as an exam, the definition of
the evaluation criteria, as well as the absence of electronic equipment,
restricted internet access and knowledge to handle the evaluation instruments
in the digital environment. As for the possibilities, we list the analysis of
the conditions of access to digital technology by students, the understanding
of assessment as a pedagogical moment that aims to redirect the learning paths,
the use of diversified assessment instruments, the strengthening of the
teacher-student relationship, and the practice of self-evaluation.
Keywords: Evaluation; Remote
learning; Challenges; Possibilities.
Resumen
En resultado de
la aparición de la enseñanza a distancia, una práctica mediada por las
tecnologías digitales, es necesario reflejar varias actividades realizadas por
los profesores, entre ellas, la evaluación del aprendizaje. Así, este estudio
pretende discutir los límites y las posibilidades de la evaluación del
aprendizaje en el contexto de la enseñanza a distancia en los primeros años de
la educación primaria. La investigación se caracteriza por ser exploratoria en
cuanto a los objetivos; bibliográfica en cuanto a los procedimientos de
recogida de datos y cualitativa en cuanto al enfoque de análisis de datos. Los
resultados señalaron que los principales retos para la redefinición de la labor
docente son la concepción de la evaluación como examen, la definición de los
criterios de evaluación, así como la ausencia de equipos electrónicos, el
acceso restringido a Internet y los conocimientos para manejar los instrumentos
de evaluación en el entorno digital. En cuanto a las posibilidades, enumeramos
el análisis de las condiciones de acceso a la tecnología digital por parte de
los alumnos, la comprensión de la evaluación como un momento pedagógico que
pretende reorientar las trayectorias de aprendizaje, el uso de instrumentos de
evaluación diversificados, el fortalecimiento de la relación profesor-alumno y
la práctica de la autoevaluación.
Palabras
clave: Evaluación; Aprendizaje a
distancia; Retos; Posibilidades.
Introdução
Em janeiro de 2020, localizado na cidade
de Wuhan, na China, foi identificada uma nova variação viral que ocasiona
pneumonia severa. Ela se destacou pela grande transmissividade, rápida evolução
nos sintomas, prejuízos causados ao sistema respiratório dos pacientes bem como
pelos altos índices de mortalidade (ANTUNES et al., 2020).
Conforme elucidam Vianna, Barbosa-Lima e
Araújo (2021), somente em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) classificou a situação como pandemia e, entre os meses de janeiro e
março, o vírus já havia alcançado 118 mil casos (com 4.291 mortos) em 114 países.
Nesse sentido, a crise sanitária global, em decorrência desse vírus, rapidamente
atingiu todos os setores da sociedade.
No Brasil, o primeiro caso foi confirmado
no dia 25 de fevereiro de 2020 (ANTUNES et al., 2020) por isso, foi
necessário discutir e constituir alternativas para a contenção do vírus. Essas
medidas foram sentidas em diferentes âmbitos sociais entre eles, nas
instituições educacionais que, em 17 de março de 2020, foram informadas, pela
Portaria do Ministério da Educação (MEC) nº 343 (BRASIL, 2020a), da autorização
de substituição das aulas que ocorriam de maneira presencial, para acontecer no
formato do ensino remoto emergencial. Esse modelo de ensino, que tem o uso da
tecnologia digital como principal recurso mediador das interações entre
estudantes e docentes, foi reafirmado em documentos oficiais posteriores, a
exemplo da Portaria do MEC nº 544 (BRASIL, 2020b) publicada em junho do mesmo
ano.
Nessa acepção, o ensino remoto ou a aula
remota se configura em uma modalidade de aula em que os professores e os
estudantes estão distantes geograficamente e, que esse formato de promoção de
atividades educacionais foi inserido no Brasil em função da pandemia do novo
coronavírus (MOREIRA e SCHLEMMER, 2020)
Ressaltamos que o ensino remoto se trata
de uma proposta diferente da Educação à Distância (EaD) prevista na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1996) tendo em vista que
essa última prevê a organização e recursos diferenciados para o planejamento e
organização das práticas pedagógicas desde a sua gênese e o ensino remoto é uma
prática adotada em função de uma situação emergencial.
Diante disso, os docentes precisaram, em
face dessa demanda, criar métodos de trabalho e maneiras de organização dessa
modalidade de ensino. Entretanto, além do curto espaço de tempo para a implementação
dessa modalidade de ensino sem precedentes ou estudos que direcionassem as
práticas pedagógicas, a diversidade de realidades econômicas, sociais e
educacionais no Brasil constituiu-se em mais um dos complexos desafios que
perpassaram a implementação dessa modalidade de ensino (BARBERIA; CANTARELLI;
SCHMALZ, 2021).
Diante deste cenário, a utilização da
tecnologia digital no ensino remoto tornou-se importante aliada para a
continuidade das atividades educacionais em diferentes níveis e etapas de
ensino e requereu dos professores a adaptação das formas de trabalhar os
conteúdos e desenvolver as habilidades previstas no currículo (GRANDISOLI,
JACOBI E MARCHINI,
2020).
Os autores supracitados
afirmam que a pandemia, tornou a conjuntura educacional ainda mais desafiadora tendo
em vista que evidenciou as disparidades de acesso aos recursos didáticos e
tecnológicos que contribuem com a aprendizagem. Em face do exposto, as
possibilidades de ensino e, consequentemente, a avaliação da aprendizagem, necessitaram
ser compreendidas de forma profunda, para agregar novos conhecimentos e
delinear possibilidades que favorecessem o aprendizado do estudante no ensino
remoto.
Dentre os aspectos que permeiam a prática
docente, o foco deste estudo, é a avaliação da aprendizagem que, para Hoffmann
(2005) e Luckesi (2013, 2018) é um momento da prática pedagógica que permite ao
docente compreender o processo de ensino e identificar as mudanças necessárias
para favorecer o desenvolvimento do estudante. Para tanto, centramos as nossas
discussões em aspectos como: o que está sendo avaliado e os processos
utilizados na efetivação da avaliação da aprendizagem no período de ensino
remoto para os anos iniciais do Ensino Fundamental.
Face ao exposto, o referido estudo,
objetiva investigar as percepções presentes na literatura científica sobre a
avaliação da aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental no contexto
do Ensino Remoto, para identificarmos os desafios e as possibilidades inerentes
a esse processo.
Justificamos a efetivação deste estudo
pela relevância de entendermos as compreensões e propostas de concretização,
presentes na literatura científica, sobre a avaliação da aprendizagem nesse
momento atípico do ensino vivenciado no âmbito educacional. Para isso, realizamos
uma pesquisa, que segundo Prodanov e Freitas (2013), se caracteriza como
exploratória, no que se refere aos objetivos; bibliográfica quanto aos
procedimentos de coleta de dados e qualitativa no que se refere à abordagem da
análise dos dados.
Esse artigo está organizado em três seções
que seguem a introdução e antecedem as considerações finais. Na primeira seção,
trazemos reflexões sobre a avaliação pautadas em Hoffmann (2005), Luckesi
(2013; 2018) entre outros autores; na segunda abordamos os desafios à
implementação da avaliação na perspectiva do ensino remoto; e, na terceira
elencamos algumas possibilidades para o processo avaliativo que podem favorecer
a prática do professor no ensino remoto.
O que é avaliação da aprendizagem?
A
avaliação da aprendizagem é um momento da prática pedagógica voltado para
analisar o desenvolvimento do estudante. Conforme apresenta Luckesi (2018),
podemos classificá-la com base em cinco elementos: pelo momento da ação; com
base na dimensão do tempo utilizado; em função dos seus resultados;
considerando a filosofia educacional e sob a análise do sujeito que a realiza.
Segundo
o autor supracitado se tomarmos por base o uso dos seus resultados da ação de
avaliar, é possível discernir dois papéis da avaliação: o papel diagnóstico ou o
papel classificatório. A avaliação com papel classificatório, desconsidera o
processo de ensino e a construção da aprendizagem, pois o foco está no uso dos
resultados, ao passo que a avaliação diagnóstica compreende a realização de
atividades que buscam conhecer a realidade dos estudantes e, a partir disso, é
usada para planejar ou reorganizar atividades que visam promover a aprendizagem
(LUCKESI, 2018).
Sousa
(2009), explica que, antes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
de 1961, o objetivo
da avaliação era classificatório. Assim, a ação avaliativa era praticada na
perspectiva do exame e a análise da compreensão do assunto pelo estudante era
realizada através de um instrumento denominado prova. O tipo mais comum de
prova era o exame escrito, sistematizado no século XVI, cujo
objetivo era categorizar os estudantes a partir das notas atribuídas pelo
professor. Essas notas, no que lhe concerne, eram os dados utilizados para
determinar a aprovação ou a reprovação.
Luckesi (2013) afirma ainda que a
compreensão sobre a aprendizagem, na época, se pautava em uma seletividade
social, cujos estudantes que possuíam notas e conceitos acima da média,
determinada pela escola, eram considerados aqueles que apresentavam
aprendizagem satisfatória para aprovação. Já os estudantes que obtinham
resultados abaixo desse padrão esperado recebiam menor atenção dos educadores
e, consequentemente, tinham as suas dificuldades agravadas em função da
ausência de um trabalho específico que os auxiliasse a superar as suas
dificuldades.
O autor supracitado explica ainda que o
exame funciona como um instrumento de avaliação que, em simultâneo, uniformiza
a interpretação das informações e padroniza a aprendizagem e a compreensão do
estudante sobre o assunto. Isso ocorre porque apenas parte dos conteúdos são
analisados e por esses instrumentos avaliativos admitirem apenas uma resposta
correta. Sobre essa prática, o autor explica ainda que a:
[...] carga de ameaça e castigo
sobre os educandos, cujo objetivo é pressioná-los, para que disciplinadamente
estudem, aprendam e assumam condutas, muitas vezes, além de externas a eles
mesmos, também aversivas. [...] A permanência desse modo de uso dos exames
escolares criou, ao longo dos cinco séculos da modernidade, um padrão de
conduta arraigado no modo de conceber e agir dos educandos (LUCKESI, 2013, p.
63).
Diante da afirmação do autor, percebemos que
o modelo de avaliação descrito está associado a um perfil de estudante e, nesse
caso, a educação visa à formação padronizada e acrítica à medida que busca
moldar comportamentos e percepções de mundo sob a ótica da aprovação e
reprovação.
Entretanto, mesmo com a modificação do
olhar sobre a avaliação reafirmado nas reformulações da LDB, a exemplo da Lei
9.394 (BRASIL, 1996), as práticas de avaliação com papel classificatório ainda podem
ser observadas na educação brasileira na atualidade. Desse modo, Luckesi (2013)
afirma ser preciso:
[...] assumir a função de subsidiar
a construção da aprendizagem bem-sucedida. A condição necessária para que isso
aconteça é de que a avaliação deixe de ser utilizada como um recurso de
autoridade, que decide sobre os destinos do educando, e assume o papel de
auxiliar o crescimento (LUCKESI, 2013, p. 177).
Contudo, com as investigações sobre os
processos avaliativos e a ampliação das discussões sobre a temática, a avaliação
com papel classificatório está, gradualmente, cedendo lugar à compreensão do
conceito de avaliação das aprendizagens. Barbosa (2008) assevera que:
A
avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente,
que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Por meio
dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do
professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de
constatar progressos, dificuldades e, também, reorientar o trabalho docente.
Assim, a avaliação é
uma tarefa complexa que não se resume a realização de provas e atribuições de
notas (BARBOSA, 2008, p. 1)
Essa percepção de avaliação é
compartilhada por Hoffmann (2005), ao apresentar os fundamentos da avaliação mediadora.
A autora afirma que “Avaliar é interpretar um percurso de vida do aluno durante
o qual ocorrem mudanças em múltiplas dimensões. Avaliar é acompanhar para
promover o processo de construção do conhecimento do educando” (HOFFMANN, 2005,
p. 4). Logo, a percepção sobre a avaliação apresentada pela autora tem um papel
diagnóstico e busca mediar o entendimento sobre as ações do professor e os seus
reflexos no processo de aprendizagem do estudante.
No mesmo sentido, Luckesi (2013) explica
que “[...] o ato de avaliar tem como função investigar a qualidade do
desempenho dos estudantes, tendo em vista proceder a uma intervenção para a
melhoria dos resultados [...]” (LUCKESI, 2013, p. 57). Conforme o autor, a Avaliação
Diagnóstica defendida por ele, deve ser compreendida como um dos instrumentos
pedagógicos que o docente dispõe para nortear o seu trabalho.
Em complementaridade, Weisz e Sanches
(2006) dizem que “avaliar a aprendizagem do aluno é também avaliar a
intervenção do professor, já que o ensino deve ser planejado e replanejado em
função das aprendizagens conquistadas ou não” (WEISZ e SANCHES, 2006, p. 95). Notamos,
nessas afirmações de Hoffmann (2005), Luckesi (2013) e Weisz e Sanches (2006)
que a avaliação deve ser entendida como um instrumento que permite analisar a
construção do conhecimento pelos estudantes e que, diante disso, requer uma
ação ativa do professor no sentido de analisar o percurso educativo trilhado e
reorganizar os caminhos para chegar ao objetivo que é a aprendizagem.
Todavia, para isso acontecer, antes de
repensarmos os instrumentos avaliativos, é relevante que a concepção de
educação seja modificada e a avaliação da aprendizagem, seja entendida como uma
ferramenta pedagógica para conhecermos a condição de aprendizagem de cada
discente, no que concerne aos conteúdos trabalhados como também às habilidades
e competências que precisam ser desenvolvidas pelo estudante.
Trata-se, portanto, de um processo contínuo
por isso, o educando deve ser avaliado no transcorrer do ano letivo, em
diferentes momentos da rotina escolar e com instrumentos diversificados que
requeiram linguagens diferentes para a expressão do conhecimento (SANTOS,
2010).
Em síntese, podemos afirmar que o ato de
avaliar é complexo e que, mesmo antes da pandemia da COVID-19, esse momento
didático trazia inquietações para os docentes e os estudantes. Assim, a
modificação dos espaços e das práticas pedagógicas, decorrentes de acentuadas
transformações nas rotinas pedagógicas que passaram a ocorrer mediadas pela
tecnologia, acompanharam a necessidade de mudanças na concepção e prática de
avaliação.
Nesse sentido, o acesso à tecnologia
digital necessária para participar das atividades, as destrezas necessárias
para a utilização desses recursos digitais, a falta de compartilhamento do
ambiente escolar bem como dos relacionamentos síncronos e presenciais
vivenciados com os educadores e com outros estudantes na escola constituem-se
em fatores econômicos e emocionais que podem interferir no aprendizado dos
estudantes.
Barberia, Cantarelli e Schmalz (2021), pesquisadores
do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), ao
analisarem os programas de educação pública dos estados e capitais brasileiras
no período remoto, entre março e outubro de 2020, relataram que nesse período,
menos de 15% distribuíram dispositivos digitais aos estudantes e menos de 10%
proveram o acesso à internet à população em vulnerabilidade econômica
matriculada na escola.
Nessa pesquisa, os autores analisaram os
meios e canais para a transmissão das aulas, as formas de acesso do estudante
(materiais, dispositivos e tecnologia), a supervisão dos alunos (participação
nas atividades) e os níveis de educação atendidos. Diante desses dados concluíram
que os planos e a sua execução contribuíram para evidenciar as desigualdades
sociais que já existiam antes da pandemia.
Notamos, desse modo, que a pandemia
destacou, de forma evidente, as desigualdades sociais e econômicas que impactam
diretamente no acesso e direito à educação de muitos estudantes. Evidentemente,
esta conjuntura deve ser considerada no momento de avaliá-los, haja vista que
as condições para a promoção da aprendizagem são diversas. Em face disso, o
docente necessita entender o contexto social dos discentes com os quais
trabalha e se posicionar de maneira solidária, empática e, porque esse é um dos
princípios da avaliação da aprendizagem. Nesse sentido, Cavalcanti Neto e
Aquino (2009) dizem que:
Além
de diagnosticar, a avaliação tem a função de propiciar a auto compreensão do
nível e das condições em que se encontram tanto o educando quanto o educador.
Esse reconhecimento do limite e da amplitude de onde se está possibilita uma motivação
e a consequente contribuição tanto para auxílio quanto para o aprofundamento da
aprendizagem (CAVALCANTI NETO e AQUINO, 2009, p. 228).
Desse
modo, as autoras reafirmam que o principal objetivo da avaliação da
aprendizagem é identificar o nível de aprendizagem dos discentes, aprimorar e
adaptar as estratégias adotadas, refazer ou readaptar o planejamento para que
as dificuldades dos educandos sejam mitigadas.
Partindo
do princípio de superação da ideia da educação como reprodutora de
comportamentos, como afirmou Sousa (2009), consideramos que os estudantes devem ser autônomos, protagonistas, criativos e críticos na
construção do conhecimento, de modo a identificar as situações nas quais o
saber construído pode ser utilizado em seu cotidiano.
Enfatizamos,
assim, que no ensino remoto emergencial, diante das adversidades e limitações
anteriormente elencadas, torna-se urgente pensarmos em uma avaliação que
estimule a imaginação, a criatividade, o pensamento crítico, a reflexividade e as
demais habilidades que o educando possa desenvolver. Essas habilidades e
conhecimentos podem ser estimulados com a inserção de recursos do campo
tecnológico, como a incorporação de plataformas virtuais e das mídias digitais
que permitem a integração de diferentes linguagens e formatos de divulgação dos
saberes construídos.
Nesse
sentido, entendemos que as modificações nas formas de ensinar e aprender podem
fomentar a reflexão do trabalho docente no sentido de utilizar esses recursos de
maneira ética e afetiva para a utilização de vários modos de avaliar as
aprendizagens dos educandos.
Do ensino presencial à
adaptação ao ensino remoto: desafios apontados
O período remoto emergencial ampliou as
inquietações dos docentes sobre o ensino e, consequentemente, sobre o processo
de avaliação dos estudantes em função de vários fatores, entre eles, o próprio
acesso dos estudantes aos instrumentos utilizados na avaliação. Em
contrapartida, em função das modificações da prática avaliativa, esse momento
do ensino é fundamental para a aprendizagem, haja vista que através da
avaliação, o docente pode acompanhar o desenvolvimento do discente no que
concerne aos seus avanços ou dificuldades e, a partir daí, ponderar as
possíveis intervenções a serem realizadas para favorecer a construção do conhecimento.
Conforme Palú, Schütz e Mayer (2020),
ao atravessarmos períodos como o que vivemos atualmente as reflexões sobre o
ensino e suas respectivas mudanças se fazem necessárias para a continuidade do
trabalho da escola. A esse respeito,
Schlemmer,
Felice e Serra (2020) destacam que:
Estamos
vivendo uma mudança na ecologia da aprendizagem, um movimento propício para a
passagem de uma escola feita de salas de aulas e aulas, para uma ecologia de
plataformas de dados, de acesso, de co-produção e compartilhamento de conteúdo
de forma interativa (SCHLEMMER, FELICE e SERRA, 2020, p. 18).
Diante
disso, devemos nos apropriar do uso da tecnologia digital para mitigar as
barreiras presentes no contexto atual sem esquecer de nos debruçarmos sobre o
elemento humano envolvido nessas relações, ou seja, sobre os impactos e as limitações
encontradas pelo professor e pelo estudante para participar do processo
educativo. Entre essas limitações citamos os efeitos do distanciamento social
que dificulta ao docente realizar um acompanhamento customizado, com
intervenções síncronas diante da análise das dificuldades apresentadas no
desenvolvimento do estudante nas atividades realizadas.
Assim, a relação professor-aluno que é
substancial ao processo de ensino e aprendizagem será, por hora, esmaecida no
fluxo educacional. Sobre essa relação, Oliveira et al. (2013) destaca
que as demonstrações de afeto que existem na relação professor-aluno podem
trazer contributos tanto para o aprendizado do educando quanto para o
crescimento do professor. No mesmo sentido, António Nóvoa (2020) enfatiza não
haver um processo educativo desprovido da dimensão humana e essa relação se
fortaleza no contato físico entre os indivíduos que fazem parte deste processo.
Oliveira
et al. (2013) salienta ainda que essa interação é primordial, inclusive,
para sanar muitas das dificuldades de aprendizagem dos educandos que podem, em
alguns casos, estar associadas à metodologia utilizada pelo professor. Contudo,
com a interação mediada pela tecnologia digital, novas formas de demonstrar e
receber afeto e realizar um atendimento específico às necessidades apresentadas
pelos discentes precisam ser construídas. Nesse sentido, os docentes deverão
estar cientes e empenhados em compreender a atual conjuntura e buscar alternativas
para mitigar os efeitos dessa crise.
Ao
analisar as práticas pedagógicas desenvolvidas no ensino presencial, Schön
(1997) explicou que “existem situações conflitantes, desafiantes, que a
aplicação de técnicas convencionais, simplesmente não resolve problemas” (SCHÖN,
1997, p. 21), e ao analisarmos a conjuntura atual, notamos que essa afirmação
continua a ser válida na situação do ensino remoto emergencial.
Corroborando
com este entendimento, Belotti e Faria (2010) ressaltam a necessidade de o docente
desenvolver uma reflexão contínua sobre a sua prática e conduzi-la em
consonância a realidade em que trabalha. Diante disso, a prática pedagógica
precisa estar direcionada às necessidades dos seus estudantes. Para isso, o
docente precisa buscar novas direções, sempre que necessário, para tornar o
aprendizado um processo estimulante e desafiador para cada educando.
Hodges
et al. (2020) explicita que o ensino remoto emergencial requereu uma
adaptação curricular temporária como alternativa para acontecerem as atividades
escolares relacionadas às diversas disciplinas. Isso decorre das circunstâncias
de crise sanitária e das suas implicações no bem-estar físico e mental dos
educadores e dos estudantes.
Em
face dessa conjuntura, os autores elencam algumas possibilidades que se
delinearam em função das características identificadas pelos sistemas educacionais:
o uso de soluções de ensino totalmente remotas pautadas na adaptação das
estratégias utilizadas no formato presencial, ou o ensino de forma híbrida, que
requer o uso de metodologias que podem diferir daquelas utilizadas nas práticas
presenciais. Independente da forma escolhida para propor atividades no ensino
remoto, um dos desafios que se faz presente é estimular o engajamento dos estudantes de forma que eles participem, de modo ativo, do processo de
aprendizagem.
Acreditamos
que, independentemente da proposta adotada, o professor necessita desenvolver
atividades que desafiem os estudantes, de modo que eles
possam interagir, participar, criar, produzir, discutir e refletir com seus
professores e colegas, para debater sobre o contexto vivenciado na pandemia e
utilizar esses momentos para promoção de outras aprendizagens. A participação
nessas atividades, no que lhe concerne, traz indícios sobre o processo de desenvolvimento
dos estudantes que podem ser utilizados pelos docentes como elementos para a
avaliação da aprendizagem.
Na acepção de Silva (2006), a avaliação
desempenha papel relevante enquanto instrumento sistemático de acompanhamento
da aprendizagem. De acordo com Luckesi (2013), o que é essencial, precisa ser
investigado e como investigação do estado de aprendizagem dos discentes, a
avaliação produz conhecimento acerca dos processos singulares de cada aluno.
Em complementaridade Hoffmann (2011) explica
que a avaliação deve estar pautada em instrumentos diversificados, flexíveis e que
atendam às características e as necessidades dos estudantes, bem como
considerar o ambiente em que o processo de ensino-aprendizagem acontece. Dessa
maneira, o ato de avaliar poderá contribuir para remodelar o processo de ensino
para favorecer o alcance dos objetivos previamente estabelecidos.
Face
ao exposto, no ensino remoto emergencial, o docente tem o desafio de aprender a
utilizar, com competência, as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
(TDIC’s) para diversificar, à medida do possível, as práticas educativas e os
instrumentos avaliativos, de forma que a avaliação do estudante ocorra de
maneira inclusiva, igualitária e equânime. Desse modo, o professor pode
assegurar ao estudante o direito democrático de acesso ao ensino, com
atividades e propostas que viabilizem a sua aprendizagem.
Essa
necessidade de inserção da tecnologia na prática educativa é um assunto
debatido antes da pandemia da COVID-19. Em 2011, Bittencourt afirmou que:
As
transformações tecnológicas têm afetado todas as formas de comunicação e
introduzido novos referenciais para a produção de conhecimento, e tal
constatação interfere em qualquer proposta de mudança dos métodos de ensino. [...]
as atuais gerações convivem com informações obtidas por imagens e sons, e essa
situação tem provocado mudanças substantivas na escolarização. Crianças e
jovens assistem noticiários, filmes, novelas, desenhos animados, programas de
entrevista, futebol e estão assim imersos em um ‘oceano de imagem’
(BITTENCOURT, 2011, p. 106-107 grifos do autor).
No ensino remoto, essa afirmação torna-se ainda mais evidente e a
inserção dessas práticas traz desafios aos docentes. Esses desafios são
referentes à construção de um novo perfil profissional adequado às novas
demandas que implicam o planejamento, o trabalho e a avaliação da aprendizagem
do estudante. Nesse sentido, Moreira, Henriques e Barros (2020) explicam que,
nesse formato de ensino, ao “[...] professor recaem, pois, as funções de
motivador, de criador de recursos digitais, de avaliador de aprendizagens e de
dinamizador de grupos e interações online” (MOREIRA, HENRIQUES e BARROS, 2020,
p. 354).
Tais mudanças requerem um corpo
docente articulado, que dialoga e aprende sobre comunicação, sobre a tecnologia
digital e acerca da educação na perspectiva do ensino remoto. Desse modo,
enquanto vivenciarmos práticas pedagógicas nessa modalidade de ensino, o
professor precisa aprender, constantemente, de modo a desenvolver práticas
inovadoras, em favor do desenvolvimento da autonomia do discente. Nessa
perspectiva, além de refletir e implementar atividades a favor da aprendizagem,
é necessário de refletir sobre práticas avaliativas que permitam identificar as
competências e habilidades construídas pelo discente.
No
ensino remoto, além das atividades impostas aos professores, os discentes
também se deparam com uma realidade diferente daquela, em que estavam
habituados. Desse modo, os estudantes podem apresentar dificuldades na
organização do tempo, lugares e formas de estudo, desenvolvimento da autonomia;
deparar-se com a ausência de equipamentos eletrônicos, a instabilidade ou a
ausência de internet; a inexistência de um espaço apropriado para
desenvolver as atividades educativas, dentre tantos outros desafios que se
apresentam ao estudante nesse momento.
À
vista disso, uma avaliação pontual, cujo enfoque esteja nos resultados e ignore
os vários fatores imbricados no processo de aprendizagem é inadequada, pois
pode desfavorecer os estudantes privados dos recursos necessários ao acesso às
atividades bem como aos recursos que medeiam a produção do conhecimento.
Face
ao exposto, práticas pensadas para o ensino presencial podem ser reorganizadas
para ocorrer no ensino remoto. Dessa forma, as aulas e as atividades realizadas
no ambiente da sala de aula virtual precisam transcorrer de forma interativa de
modo que os educandos se sintam parte do processo de aprendizagem. Assim, isso
também deve ser considerado na seleção e na aplicação dos instrumentos
avaliativos, pois eles também devem ser conduzidos a partir de um olhar
participativo, flexível e dinâmico, conforme discutiremos a seguir.
Estratégias pedagógicas
como possibilidades avaliativas no ensino remoto
No ensino presencial ou no ensino remoto
emergencial, a avaliação constitui-se uma ferramenta que busca investigar a
qualidade do desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos e habilidades
trabalhados pelo educador. Com base nesses resultados, o docente pode analisar
a sua prática e planejar outras atividades que proporcionem oportunidades de
aprendizado ao estudante. Nesse sentido, Hoffmann (2010) explica que:
A finalidade da avaliação não é
descrever, justificar, explicar o que o aluno ‘alcançou’ em termos de
aprendizagem, mas a de desafiá-los todo tempo a ir adiante, a avançar,
confiando em suas possibilidades e oferecendo-lhes, sobretudo, o apoio
pedagógico adequado a cada um (HOFFMANN, 2010, p. 103, grifos da autora).
Respaldadas na afirmação da autora, essa
concepção de avaliar deve nortear o planejamento de intervenções assertivas
para a superação das possíveis lacunas de aprendizagem diagnosticadas com os
instrumentos utilizados pelo docente para a avaliação. Por essa razão, o
educador necessita dispor de estratégias avaliativas, cujos resultados o
permita identificar as defasagens de aprendizagem e, a partir disso, possa
criar estratégias de ensino respaldadas no desenvolvimento afetivo, físico,
artístico, social e intelectual dos alunos.
À vista disso, abordaremos aqui algumas
sugestões dispostas na literatura científica que podem ser desenvolvidas no
ambiente da sala de aula virtual como instrumentos de avaliação. Conforme
destacamos na seção anterior, faz-se necessário que o docente identifique as novas
demandas requeridas ao perfil do educador que atua no ensino remoto, tais como:
identificar o acesso dos estudantes à plataforma digital (tanto aos
dispositivos quanto a internet) para
planejar atividades mais adequadas à realidade; estimular os estudantes na
construção de instrumentos que os permitam organizarem o tempo, espaço e
estratégia de estudo (resumo, fichamento, respostas à questionários); busque
estratégias de aproximação da relação entre professor-aluno para motivá-lo a
participar das atividades; utilize instrumentos variados para avaliar e utilize
os resultados da avaliação da aprendizagem como subsídios para elaborar os
planejamentos de atividades seguintes.
Hoffmann
(2012) apresenta algumas orientações sobre o processo avaliativo para o ensino
presencial que podem ser utilizadas pelo educador para nortear as suas práticas
no ensino remoto, dentre as quais destacamos duas: 1) a necessidade de o
docente priorizar propostas educativas que despertem demonstrações de
iniciativa, criatividade, compromisso, responsabilidade social, no lugar de
valorizar a aprendizagem de conteúdos; 2) propor tempos flexíveis de realização
de tarefas pelos estudantes, assegurando-lhes acesso virtual aos gestores e
professores.
A
autora supracitada, discute ainda a necessidade de que as atividades
pedagógicas sejam elaboradas no sentido de instigar cada aluno a ser
protagonista de sua aprendizagem, levando-o a delinear seu próprio projeto de
estudo, organizar maneiras de registrar, anotar, comentar o que está acontecendo
entre professores, educandos e familiares. Ao adotar a prática apresentada pela
autora, esses registros podem ser utilizados pelo docente como instrumentos de
avaliação, pois, neles há informações relevantes sobre o processo e o produto
construído pelo estudante. Nesse mesmo sentido, Mercado (2008)
salienta que existem “recursos avaliativos que envolvem registros disponíveis
na Internet e propiciam uma avaliação contínua no atendimento das comunidades
de aprendizagem” (MERCADO, 2008, p. 3).
Sobre esses recursos, o autor elenca: os Mapas
cognitivos, que favorecem a pesquisa e a sistematização do conhecimento; o
Memorial, que possibilita fazer o registro da própria ação, bem como a análise
de suas ações e reações diante deles, como explicações, interpretações,
impressões, sentimentos, etc.; construção de blogs com a estrutura de diários
de campo ou diários reflexivos, que viabilizam fazer o registro das situações e
das observações pessoais para incitar o raciocínio que permeou a delineação do
texto, as estratégias e procedimentos desenvolvidos, a contribuição nas
atividades entre outros aspectos; participação em fóruns de discussão, que oportuniza
a reflexão acerca do assunto bem como a comunicação entre o grupo; Webfólio,
constitui-se em um portfólio virtual composto por um conjunto de registros dos
processos e produtos das aprendizagens incluindo os sentimentos, as opiniões e
as impressões.
Elucidamos,
ainda, que os mapas cognitivos, memoriais, blogs, fóruns de discussão e Webfólio
também foram indicados por Fachineto et
al. (2020) ao apresentam procedimentos que podem ser usados para avaliação
de aprendizagem no ensino remoto. Além desses instrumentos, os autores sugerem
os trabalhos de grupo, os quizzes e o acompanhamento da participação do
educando.
Sobre
este aspecto da participação, Laguardia, Portela e Vasconcellos (2007) em um estudo que analisou um período anterior à
pandemia, identificaram que entre os instrumentos, frequentemente, usados para
a avaliação no ambiente online, estão
a avaliação da participação que consiste em avaliar o contributo do educando
para a produção do conhecimento do grupo. Em outras palavras, analisa a
relevância das colocações, a socialização do conhecimento, das inquietações e
das pesquisas realizadas pelo estudante com os demais colegas. Quando delineada
a partir de critérios claros, a avaliação da participação do discente pode
exprimir a sua própria aprendizagem, como também ampliar a atuação do educando
no que concerne à sua própria produção do conhecimento.
Ademais, torna-se substancial
diversificarmos as experiências de aprendizagem dos alunos com a utilização de
jogos virtuais, textos interativos, podcast,
vídeos, projetos coletivos, etc., que estão disponíveis no meio digital. Isso
porque, o uso desses recursos oportuniza a aprendizagem dos diferentes componentes
curriculares e potencializam o desenvolvimento de uma aprendizagem
significativa, mesmo mediante de um cenário permeado por contínuas mudanças e
desafios.
Martins (2020) diz que os formulários
virtuais podem ser usados como instrumentos de avaliação no ensino remoto. O
autor menciona que, por meio dessa ferramenta, o professor pode produzir
questionários específicos para cada componente curricular, sendo eles
elaborados com questões de múltipla escolha (com resposta única ou várias
respostas corretas); questões com respostas dissertativas; perguntas elaboradas
a partir de texto, com suporte de imagem ou de recursos audiovisuais. Os
docentes ainda podem inserir recursos como pontuação do participante (no caso
de autocorreção), datas e horários de realização da resposta, opções de
descrições, inclusão de títulos, dentre outras funcionalidades.
Destacamos ser relevante promover a
autoavaliação do estudante, tendo em vista que esta permite ao discente
avaliar, de forma crítica, a sua participação e desempenho nas aulas, o tempo
que oferece para o estudo, a disposição para realização de tarefas e
atividades, bem como o seu desenvolvimento científico, intelectual e cultural. O
uso dessa prática de avaliação pode ser profícuo à medida que estimula a promoção
da autonomia e do protagonismo do aluno na construção do conhecimento, haja
vista que, segundo Hoffmann (2005) “[...] Autoavaliar-se significa o educando
promover e acompanhar seu próprio processo de construção de conhecimento [...]”
(HOFFMANN, 2005, p. 4).
A autora afirma ainda que a autoavaliação
pode promover “[...] espaços de confiança, de diálogo e de oportunidade ao
jovem de se comprometer com seus próprios rumos, de definir projetos de estudo,
etapas de trabalho, individuais e em grupo” (HOFFMANN, 2005, p. 5). Hoffmann
(2012) explica que a autoavaliação pode ocorrer através de atividades como
diários de bordo, produção de vídeos, organização de portfólios, realização de
exercícios com autocorreção e leituras ou materiais complementares pela internet.
No ensino remoto, acreditamos que essa
autoavaliação poderá ser feita oralmente, através de chamadas de vídeo ou utilizando
a modalidade escrita da língua, por meio do compartilhamento de textos.
Ressaltamos, contudo, que independente do instrumento e estratégia utilizados,
o professor precisa zelar, o máximo possível, pelo respeito aos alunos e pela
ética da responsabilidade no exercício da sua profissão.
Para isso, é preciso, como afirma Franco
(2016), buscar o diálogo, o estabelecimento de acordos com sua turma, bem como
deixar claro os objetivos e a sua metodologia de trabalho de forma que a sua
prática possa trazer contributos para o processo de aprendizagem dos discentes.
Desse modo, o momento avaliativo deve estar claro para o professor e para os
estudantes, ao invés de ser realizado de maneira automatizada ou para, apenas, atribuir
uma nota. Isso porque, uma avaliação delineada de maneira clara, objetiva, com
instrumentos variados e cuidadosamente elaborados pode contribuir para a identificação
das dificuldades e dos progressos na aprendizagem do discente.
Ressaltamos que no ensino remoto
emergencial em função da pandemia da COVID-19, a preocupação, desconsolo,
aflição, tristeza, medo, ansiedade, dentre tantos outros sentimentos podem
trazer prejuízos para a internalização dos saberes escolares. Diante disso, todas
as competências, habilidades e conhecimentos demonstrados pelo educando
precisam ser considerados no momento da avaliação. Nesse sentido, considerar que
o aluno sozinho consegue localizar, ler e produzir textos, realizar as atividades
e enviá-las através de plataformas digitais, de forma autônoma, constitui-se
como uma razão para avaliar positivamente este discente, pois denota que o
estudante se apropriou de práticas de uso da leitura e da escrita no ambiente
digital. Portanto, a interação e o convívio, no meio digital, devem ser
avaliados pelo docente, pois esses saberes demonstram a resiliência do discente
neste período permeado por tantas adversidades.
Considerações Finais
A pandemia da COVID-19 trouxe vários
desafios à educação, entre eles, a avaliação na perspectiva do ensino remoto.
Nesse sentido, cabe ao educador e ao sistema educacional a identificação de
práticas avaliativas, comprometidas, amorosas e éticas que ocorram mediadas
pela tecnologia digital.
Assim, no que concerne ao objetivo traçado
para este estudo que foi investigar os desafios e as possibilidades para a
avaliação da aprendizagem discente nos anos iniciais do Ensino Fundamental no
contexto do ensino remoto, notamos serem inúmeros os desafios e que esses
remontam à problemas evidenciados pela educação, pelos professores e pelos
estudantes há várias décadas.
A própria concepção de avaliação da
aprendizagem que busca a atribuição de nota em detrimento de reorganizar as
possibilidades de ensino pode se torna um empecilho para o planejamento e
realização dessa atividade pedagógica. Em função disso, é necessário analisar a
concepção que fundamenta a prática de avaliação que, conforme a LDB vigente é
de acompanhar o desenvolvimento dos estudantes para orientar as ações
educativas posteriores.
Além dessas barreiras citamos o acesso à
tecnologia digital (equipamentos digitais e internet),
a formação docente para o uso da tecnologia e inserção da mesma como recurso de
aprendizagem, conforme explicitam Laguardia, Portela e Vasconcellos (2007), Bittencourt
(2011) entre outros. Associados a isso, surgem as dificuldades dos educandos em
se organizarem de forma autônoma, a falta de um espaço adequado para o estudo, o
isolamento social, as condições afetivas dentre tantos outros obstáculos que se
apresentam ao estudante nesse momento.
Nesse sentido, a pandemia demonstra que a
educação necessita de aumento de investimentos em equipamentos, formações e
outros recursos que possam melhorar as qualidades de ensino e de aprendizagem.
Diante disso, docentes precisam buscar melhorias na educação para todos, entre
elas, variar as estratégias de ensino e de avaliação da aprendizagem para entender
o processo de desenvolvimento de cada estudante. Um olhar atento precisa ser
dedicado àqueles que estão impossibilitados de acessar as plataformas virtuais
e ao material didático, em que são privados de realizar as atividades propostas
pelos docentes.
No que concerne as possibilidades,
identificamos ser necessário entender as possibilidades de acesso ao
conhecimento pelos alunos, desenvolver relações amorosas e éticas e promover atividades
diversificadas que podem ser realizados remotamente, como: questões dissertativas,
pesquisas, construção de Webfólio, mapas cognitivos, produção de vídeos,
construções de blogs, podcasts,
memoriais, jogos virtuais, textos interativos, projetos coletivos, etc. Esses
são alguns recursos de ensino que podem funcionar também como instrumentos de
avaliação da aprendizagem.
Em face das discussões tecidas, afirmamos
que os instrumentos elencados para serem utilizados no ensino remoto podem ter
continuidade na volta às aulas presenciais, dado que se faz necessário
considerar os desafios educacionais, sanitários e logísticos do retorno
gradual. Dessa forma, o uso de múltiplos instrumentos que permitam a análise
dos resultados em uma perspectiva diagnóstica auxiliará neste processo de
acompanhamento dos níveis de aprendizagens dos discentes.
Traçar estas discussões foi um tanto complexo,
pois os textos pesquisados para compor a base da fundamentação teórica, o
estado da arte ou do conhecimento ainda está em construção e se amplia à medida
que os docentes e pesquisadores refletem e socializam outros saberes sobre a
temática na literatura científica. Isso revela que os professores estão em
busca da construção da sua identidade profissional enquanto educadores no
ensino remoto em função das descobertas oriundas do exercício da profissão e do
seu papel incumbido socialmente em tempos de pandemia, e buscam refletir
teoricamente sobre os processos vivenciados na prática, contudo, precisam ser
estimulados a ampliar a divulgação dessas práticas para favorecer o
desenvolvimento de atividades por outros educadores.
Logo, essa situação, que pode ser
entendida como uma adversidade, trouxe contribuições no sentido de fomentar ao
docente a reflexão sobre a avaliação e o uso da tecnologia digital no processo
educativo, o que acreditamos que sejam reflexões que perpassarão as práticas do
ensino presencial por ocasião do retorno às aulas.
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Aprovado em:
novembro/2021.
[1]
Mestranda
em Ensino pela Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior pela
Universidade Federal de Campina Grande; Licenciada em Pedagogia pela
Universidade Federal de Campina Grande; Pau dos Ferros, Brasil; E-mail: ericadantasdasilva70@gmail.com; ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5886-1151;
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7256114894339316.
[2] Doutora em Educação pela
Universidade de São Paulo; Mestra em Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte; Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; Professora permanente do Mestrado Acadêmico em Ensino do
Programa de Pós-graduação em Ensino – PPGE da UERN; Pau dos Ferros, Brasil;
E-mail: ceicaomcc@hotmail.com; ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0096-4267;
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4978905417125707.
[3] Mestra em Ensino pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; Bacharela em Letras-Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina; Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará; Professora Assistente da Universidade Federal de Campina Grande; Cajazeiras, Brasil; E-mail: adriana.korrea@gmail.com; ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2060-4739; Lattes: http://lattes.cnpq.br/7748176565683643.