Professores em tempos de pandemia: percepções, sentimentos
e prática pedagógica
Teachers in pandemic times: perceptions, feelings and pedagogical
practice
Docentes en tiempos de pandemia: percepciones, sentimientos
y práctica pedagógica
Sonia Bessa[1]
Essa investigação é um estudo exploratório
com desenho descritivo comparativo com objetivos de analisar sentimentos, percepções e ações pedagógicas
dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental durante a pandemia da covid
19, averiguar os efeitos do fenômeno pandêmico sob o sistema de educação, descrever
como o isolamento afetou o segmento educacional dos anos iniciais em função do acesso
aos processos de ensino aprendizagem e prática pedagógica. Foi constituída
amostra de 67 professores que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental de duas
unidades federativas do Brasil (SP e GO). Como instrumento, foi utilizado um questionário
on-line via google forms. A percepção e os sentimentos dos docentes frente à experiência
com o ensino remoto, foram muito similares perpassando variáveis como idade, sexo,
cidade e estado em que reside e redes de ensino em que trabalham. Os participantes
partilharam necessidades similares quanto ao apoio financeiro, psicológico e técnico. A priorização do trabalho foi uma realidade para os professores.
Palavras-chave
Pandemia; Professores; Ensino-aprendizagem; Prática pedagógica.
Abstract
This
investigation is an exploratory study with a comparative descriptive design aimed
at analyzing the feelings, perceptions and pedagogical actions of teachers in the
early years of elementary school during the covid pandemic 19, ascertaining the effects of the
pandemic phenomenon under the education system, describing how the isolation affected
the educational segment of initial years, depending on the access to teaching processes,
learning and pedagogical practice. A sample of 67 teachers who work in the early
years of elementary school in two federative units in Brazil (SP and GO) was constituted.
As an instrument, an on-line questionnaire was used via google forms. The perception
and feelings of the teachers in the face of the experience with remote education,
were very similar across variables such as age, sex, city and state where they live
and the education networks in which they work. Participants shared similar needs
for financial, psychological and technical support. The prioritization of work was
a reality for teachers.
Keywords - Pandemic; Teachers; Teaching-learning;
Pedagogical practice.
Resumen
Esta investigación es un estudio exploratorio con un
diseño descriptivo comparativo con el objetivo de analizar los sentimientos, percepciones
y acciones pedagógicas de los docentes de la primeros años de la escuela primaria,
investigar los efectos del fenómeno pandémico en el sistema educativo, describir
cómo el aislamiento afectó al segmento educativo de los primeros años debido al
acceso a los procesos de enseñanza, aprendizaje y práctica pedagógica. Se constituyó
una muestra de 67 docentes que laboran en los primeros años de la escuela primaria
en dos unidades federales de Brasil (SP y GO). Como instrumento se utilizó un cuestionario
on-line a través de formularios de google. La percepción y los sentimientos de los
profesores sobre la experiencia con la enseñanza a distancia fueron muy similares,
permeando variables como la edad, el género, la ciudad y estado en que viven y las
redes educativas en las que trabajan. Los participantes compartieron necesidades
similares de apoyo financiero, psicológico y técnico. La priorización del trabajo
fue una realidad para los docentes.
Palabras clave: Pandemia; Maestros;
Enseñanza-aprendizaje; Práctica pedagógica.
Introdução
No final do ano de 2019, um novo vírus
foi identificado em uma região da China, chamada Wuhan. Este vírus foi batizado
com o nome de “Covid-19” em fevereiro
pela Organização Mundial de Saúde – OMS e no dia 11/03/2020 foi declarado como pandemia.
O vírus afeta, principalmente, o sistema respiratório, causando assim uma síndrome
aguda respiratória. Inicialmente, o vírus se espalhou de forma rápida pela China
e, em poucos meses, se espalhou para todos os continentes, assumindo a característica
de Pandemia. O contágio do vírus acontece principalmente pelo ar ou pelo contato
pessoal, sendo elas por gotículas de saliva, espirro, tosse e superfícies contaminadas.
Neste ínterim, a pandemia da Covid-19
trouxe ao mundo inúmeras consequências, além dos impactos na economia, na vida social,
na organização familiar, ressaltamos aqui as repercussões que esse cenário causou
no âmbito educacional. Desde o dia 26 de fevereiro, onde o primeiro caso no país
foi registrado e, em 13 de março, quando foi confirmado o primeiro óbito, o Brasil
ainda se mostrava incrédulo quanto aos possíveis efeitos que o tal vírus causaria
em todas as esferas da sociedade.
De acordo com a folha informativa produzida
pela Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS (2020), certifica-se que foram confirmados
no mundo, milhões de infectados e mortos. A OPAS e a OMS estão prestando apoio técnico
ao Brasil e outros países, na preparação e resposta ao surto de COVID-19. No Brasil,
já são mais de 520.000 mortos em pouco mais de um ano de pandemia.
Mediante esse flagelo o sistema educacional brasileiro
tem enfrentado desafios a fim de garantir acesso à educação para seus estudantes,
uma vez que aulas em universidades e em instituições de educação básica foram suspensas.
As ações de combate ao coronavírus interromperam as aulas presenciais nas escolas
brasileiras, impactando na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental
e Ensino Médio). Em março de 2020, o Ministério da Educação – MEC publicou a portaria
343 autorizando, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais,
em andamento, por aulas que utilizem meio e tecnologias de informação e comunicação.
Somente na Educação Básica, foram 47,9 milhões de estudantes segundo dados do Instituto
Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP 2019. As escolas deveriam
permanecer fechadas até que a situação se estabilizasse. Após quase dois anos, ainda
é incerto o retorno as atividades presenciais em escolas de vários estados brasileiros.
Segundo dados do relatório Cenário da exclusão escolar do Brasil da UNICEF
(2021) referente ao mês de novembro de 2020, portanto ao final
do ano letivo, 5.075.294 crianças e adolescentes de 6 a 17 anos estavam fora da
escola ou sem atividades escolares, o que corresponde a 13,9% dessa parcela da
população em todo o Brasil. Essa mudança pode ter impactos em
toda uma geração. São crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, fase de
alfabetização e outras aprendizagens essenciais às demais etapas escolares.
Ciclos de alfabetização incompletos podem acarretar reprovações e abandono
escolar. O Relatório alerta para a urgência em reabrir as escolas, e mantê-las
abertas, em segurança.
Neste novo contexto, professores e toda
equipe gestora tiveram que adequar o ensino, fazendo uso de recursos tecnológicos,
para dar continuidade às atividades, no entanto, muitos estudantes de comunidades
carentes não têm acesso à internet, a infraestrutura não é adequada, faltam recursos
técnicos e tecnológicos para dar suporte aos educandos. O despreparo dos profissionais
com as ferramentas digitais inibe e dificulta o processo de ensino e aprendizagem.
Em decorrência dessa situação, inúmeros problemas podem ocorrer, tanto com a equipe
escolar quanto com alunos e suas famílias, tais como: a evasão escolar, ansiedade
e desmotivação dos estudantes e seus responsáveis, preocupações dos professores
em manter seus empregos, cumprir os dias letivos, cumprir com êxito os conteúdos
prescritos no currículo, bem como ofertar um ensino de qualidade.
Para Lamim, Nascimento e Cordeiro
(2020, p. 361) Professores de todo o mundo veem-se frente a um desafio sem precedentes,
tendo que buscar respostas urgentes para um problema de abrangência mundial. “Com
o isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19, [....] os professores foram
obrigados a reinventar suas maneiras de dar aula, adequar-se às novas tecnologias
e tentar preservar sua saúde mental”.
Diante desta situação, como abordam Pereira,
Santos e Manenti (2020), torna-se possível visualizar no contexto atual muitas situações
de incertezas a respeito da educação, advindas pela pandemia da COVID-19 no cenário
educacional, exigindo de forma incisiva que os professores renovem de forma constante
a sua docência para que o ensino a distância seja eficiente, mas sem levar em conta
os diversos problemas presentes no seu cotidiano, como a falta de requisitos para
o seu trabalho, seja estruturalmente ou na sua formação. Mediante isto, os professores
devem adequar o seu perfil para se encaixar em uma nova realidade, exigindo ações
diferenciadas para atender o que é exigido.
O trabalho do professor aumentou de forma
significativa, levando em conta que os professores tiveram que de forma repentina
usar da tecnologia integralmente em seu trabalho, usando ferramentas da internet
para fazer atividades on-line, bem como trabalhando com materiais físicos para os
alunos que não possuem acesso à internet. Por estarem em casa, a grande maioria
dos professores teve a carga horária de trabalho aumentada, sem ter um horário específico
para começar e terminar. Tudo isso de suas casas com os seus próprios recursos,
tendo uma sobrecarga física e emocional. Apesar de todo este trabalho, os professores
são usualmente julgados por parte da população que dizem que eles não estão trabalhando,
mas mesmo assim recebendo. Para Zaidan e Galvão (2020, p.264) foi uma mudança muito
rápida e drástica na rotina dos professores, “[...] que se caracteriza pela penetração
insidiosa do trabalho em todos os espaços e momentos de seu cotidiano, não importando
que seus empregadores (o governo ou os donos de escola) não lhes tenham garantido
estrutura para o teletrabalho”.
Por conta disso, Pereira, Santos e Manenti
(2020) ressaltam que se torna muito importante se preocupar com as cobranças sofridas
pelos profissionais e a saúde mental dos professores, levando em conta que encontram-se
em completa incerteza, devido à falta de diretrizes, protocolos e recursos destinados
à educação com intuito de promover o acesso ao ensino para as classes mais baixas
da sociedade, evidenciando a desigualdade no meio social. Outro fator que impactou
psicologicamente o profissional da educação foi o isolamento social, a falta de
interação social, a troca de pontos de vista com seus pares e outras pessoas, o
que pode contribuir para o surgimento de problemas para a saúde mental, aliados
à sobrecarga de trabalho, estresse, ansiedade e cansaço conforme discorre Hackenhaar
e Grandi (2020), ao referir-se à saúde mental e ao equilíbrio.
O primeiro informe de pesquisa realizada
pela fundação Carlos Chagas em parceria com a Organização das Nações Unidas para
a Educação a Ciência e a Cultura - UNESCO “Educação Escolar em Tempos de Pandemia”
com professores de todas as regiões brasileiras com o objetivo de verificar como
as professoras e os professores das redes públicas e privadas estão desenvolvendo
suas atividades, constatou que o trabalho pedagógico mudou e aumentou significativamente
com destaque para as atividades que envolvem a interface e/ou interação digital.
O uso de materiais digitais via redes sociais virou a principal estratégia pedagógica
para a maioria dos professores do Brasil. Conforme aponta Rambo (2020), o momento
“pós-pandemia” fará com que os profissionais da educação e os estudantes manifestem-se
diferentes, seja do ponto de vista comportamental e psicológico, de forma a subentender
assim, a certeza dos impactos da Covid-19 no sistema educacional.
Frente ao que já foi apresentado, Silva,
Petry e Uggioni (2020, p. 22) afirmam que fazem parte das insuficiências escolares
no Brasil, a ausência de “formação específica para professores e o entendimento
por parte da sociedade e o precário acesso da comunidade escolar a recursos tecnológicos,
como computadores e internet de qualidade”, revelando, deste modo, a escassez da
condição estrutural da educação no país, em especial sob a ótica deste fenômeno
pandêmico. Nesta conjuntura, as hipóteses iniciais da presente pesquisa pressupõem
que: I – O isolamento social tem afetado o bem-estar e a saúde mental dos docentes,
com predomínio de ansiedade, estresse, depressão, sobrecarga de trabalho e dificuldades
de conciliar a vida profissional, social e familiar; II – A dinâmica de trabalho
dos professores e estudantes participantes da rede pública de ensino tem expressado
limitações, em seu sentido estrutural; III - A aprendizagem dos estudantes quanto
aos conteúdos escolares durante a pandemia diminuiu e ficou limitada aos recursos
tecnológicos daqueles que o possuem; IV – A experiência com o ensino remoto pode
ser avaliada como “ruim” pelos docentes e representa um desafio a ser superado.
Uma das alternativas
funcionais de se corroborar a minimização dos problemas enfrentados pela escola,
neste cenário pandêmico, refere-se à existência de pesquisas científicas. Isto porque a “ciência” e, logo, a “ação
científica”, cooperam com avanços de distintos bojos de uma sociedade, pois, assim
como realçam Lima e Viana (2017), as pesquisas são quesitos essenciais ao desenvolvimento
estrutural favorável de uma nação. Conforme sustentam Fazenda, Tavares e Godoy (2015),
o trabalho científico, quando alicerçado nos princípios da criticidade, autonomia
e emancipação, preza por oferecer um olhar mais atento e sensível à realidade, sendo
vivenciada de forma a constituir um acervo organizacional do fenômeno, produzir
conhecimento e, assim, valorizar o campo em investigação.
Por
isto, a relevância deste trabalho, em coletar, descrever e analisar as perspectivas
e subjetividades frente a esse fenômeno pandêmico, que ainda não se sabe quando
terá fim, aos docentes e a estrutura educacional, com a finalidade em oferecer um
aparato do cenário sendo vivenciado, neste contexto, à comunidade educacional. Nesse
contexto esse relato tem como objetivos analisar sentimentos, percepções e ações pedagógicas
dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, averiguar os efeitos do
fenômeno pandêmico sob o sistema de educação, descrever como o isolamento afetou
o segmento educacional dos anos iniciais em função do acesso aos processos de ensino
aprendizagem e prática pedagógica.
Metodologia
Neste cenário
de rápida transformação e alta incerteza, torna-se necessário compreender como os
(as) professores (as) estão se sentindo, como tem sido a sua atuação profissional,
a utilização das ferramentas tecnológicas, seus anseios e demandas de apoio. Assim, foi proposto a professores do
Município de Formosa-GO e da região metropolitana de São Paulo-SP, um instrumento
com o objetivo de analisar sentimentos, percepções e práticas pedagógicas de professores
da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental frente à pandemia
da Covid 19.
Essa investigação é
um estudo exploratório com desenho descritivo comparativo. A fim de compor a amostra, foram selecionados,
de forma aleatória, 67 professores que atuem na educação infantil e nos anos iniciais
do ensino fundamental de duas cidades de dois estados (Goiás e São Paulo) e de dois
tipos de escolas: Municipais e estaduais. Em Formosa-GO foram professores de três
escolas municipais e em São Paulo-SP uma escola municipal e duas estaduais.
51 professores atuam em escolas municipais e 17 em escolas estaduais das duas cidades.
24 atuam nos anos iniciais, 20 na educação infantil e 17 atuam nas duas etapas simultaneamente.
A tabela 1 apresenta a distribuição dos professores por unidade
federativa, gênero e idade.
Tabela 1 – Distribuição dos participantes
por gênero, unidade federativa e idade |
||||||
Residência |
sexo |
Total |
||||
Masculino |
Feminino |
|||||
Formosa-GO |
Idade |
18 a 29 anos |
|
1 |
5 |
6 |
30 a 39 anos |
|
5 |
13 |
18 |
||
40 a 49 anos |
|
- |
9 |
9 |
||
Mais de 50 anos |
|
1 |
2 |
3 |
||
São Paulo-SP |
Idade |
30 a 39 anos |
|
- |
7 |
7 |
40 a 49 anos |
|
1 |
12 |
13 |
||
Mais de 50 anos |
|
1 |
10 |
11 |
||
Total |
Total |
|
9 |
58 |
67 |
Fonte: Dados organizados pela
autora.
Como
instrumento, foi utilizado um questionário on-line, com abordagem que atende os
objetivos propostos: o impacto do isolamento quanto aos aspectos psicológicos, o
acesso à tecnologia e dinâmica de trabalho dos professores e os caminhos alternativos
para a docência no contexto da pandemia.
A fim de facilitar uma maior participação
de professores e manter o isolamento social, o questionário foi enviado aos professores
via whatsapp e e-mail, por meio do aplicativo google forms. Esse é um aplicativo
do Google de gerenciamento de pesquisas lançado pelo Google. Os usuários podem usar
o Google Forms para pesquisar e coletar informações sobre outras pessoas e também
podem ser usados para questionários e formulários de registro. O Google Forms possui recursos de colaboração e compartilhamento
para vários usuários. Uma vez concluído o questionário, o passo seguinte foi divulgar
o instrumento em escolas do município de Formosa-GO e algumas da cidade de São Paulo-SP,
cuja pesquisadora mantinha contato. Foi feito um contato inicial com os diretores
e solicitado a autorização para envio dos questionários para os professores da educação
infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. Após a autorização foram enviados
entre as duas últimas semanas de outubro de 2020, 114 questionários e destes 67
professores responderam.
Resultados e discussão
Após a aplicação do instrumento, os dados foram analisados com base na caracterização geral dos
participantes e nas diferenças existentes de acordo com as variáveis incluídas.
Os dados foram organizados em uma matriz por variáveis e submetidos a análises
estatísticas de tipo descritivo e inferencial; paramétrico e não paramétrico. O
programa estatístico SPSS para Windows versão 22.0 (IBM/SPSS) deu suporte para as
análises. Para todos os tratamentos, adotou-se um nível de significância de 0,05.
Foi utilizado o teste Shapiro wilk para verificar
a pressuposição de normalidade na distribuição da amostra e o teste T Students para amostras independentes nas variáveis
de controle: gênero e unidade federativa a que pertencem os professores e o Mann-Whitney,
para os dados não paramétricos. A ANOVA unidirecional permitiu observar a
existência de diferenças significativas quanto às variáveis idade, etapas e rede
de ensino em que atuam os professores. Para
os dados não paramétricos, foi utilizado o teste Kruskal-Wallis.
Os resultados foram organizados em sete tópicos
a fim de facilitar a compreensão do leitor: 1. Preparo para o ensino no contexto
da pandemia, 2. Sentimentos do professor frente à pandemia, 3. Objetos de dedicação
durante a pandemia, 4. Autoavaliação, 5. Apoio, 6. A aprendizagem dos estudantes
e 7. As tarefas escolares.
1.Preparo
para o ensino no contexto da pandemia
Os dados apresentados na tabela 2 demonstram que
grande parcela dos professores reconhece que não se encontra capacitada para trabalhar
remotamente, confirmando assim, as indulgências estruturais escolares para com as
Tecnologias de Informação e Comunicação – TICS. Verifica-se que quase 80% dos professores
sentem-se pouco preparados para o trabalho remoto e tem recebido pouca formação
técnica para o trabalho.
Tabela 2 –
Sentimentos referente ao “preparo” para se ensinar de forma remota.
|
Frequência |
Porcentagem |
|
|
Sinto-me pouco preparado (a) |
53 |
79,1% |
Sinto-me nada preparado (a) |
9 |
13,4% |
|
Sinto-me muito preparado (a) |
3 |
4,5% |
|
Sinto-me totalmente preparado (a) |
2 |
3,0% |
|
Total |
67 |
100,0% |
Fonte: Dados organizados pela autora.
A
pandemia pegou os profissionais da educação de surpresa e, muito rapidamente, os
mesmos tiveram que se reinventar quanto ao ensino remoto. Esta realidade não foi
exclusiva dos professores de Formosa, ou de São Paulo que participaram desta investigação.
Para Macedo (2021), a eclosão da pandemia de coronavírus em 2020 e o fechamento
das escolas, foi a ocasião propícia para ficar em evidência os mecanismos de criação
e reprodução das desigualdades, acentuando a presença de diversos operadores de
diferenciação social e aumentando as distâncias educacionais entre escolas públicas
e privadas, ricos e pobres, agrega-se às desigualdades educacionais e sociais as
desigualdades digitais. Corroborando essa perspectiva, Silva (2020) salienta que
vivemos em uma era digital na qual a tecnologia se faz presente por meios de comunicação
e aplicativos, contudo a formação docente é precária e insuficiente.
A
fim de verificar diferenças significativas quanto à idade, redes de ensino e etapas
de atuação, foi utilizado o teste estatístico ANOVA unidirecional e constatou-se
que não houve diferença significativa p>0,05 em nenhuma dessas variáveis. O teste
T Students mostrou que as variáveis gênero e unidade federativa também não têm diferença
significativa. Conclui-se, pois, que professores de são Paulo e Formosa, de ambos
os sexos, que atuam na educação infantil e nos iniciais, com idades diferentes,
das redes municipais ou estaduais, sentem-se despreparados para a súbita mudança
da forma presencial para a forma on-line. Como destaca Macedo (2021) o fosso de
desigualdades sociais e digitais entre os estudantes das escolas públicas que já
era acentuado se tornou uma questão central nesse período de crise e revela a ausência
de políticas educacionais focadas em garantir a conectividade e o direito à educação.
“Deixados à própria sorte, coube às diversas escolas públicas, famílias e professores
encontrarem soluções criativas e paliativas para tentar manter a conexão com seus
estudantes que não tinham acesso à internet e a equipamentos digitais adequados”
(MACEDO 2021, p. 264).
Foi
indagado aos professores quais ações eles consideram prioritárias para garantir
a qualidade mínima dos processos de ensino e aprendizagem. Quatro ações se
destacaram: ofertas de aulas virtuais ou on-line (94%) e envio de material pedagógico
aos estudantes (91%), contato direto com as famílias dos estudantes (80,6%) e
adaptação do currículo escolar (77,6%) foram as ações mais frequentes professores
entrevistados. Os professores dispõem aulas gravadas e plataformas on-line para
que os alunos possam desenvolver as atividades propostas. Muitas atividades que
estavam previstas no currículo acabaram sendo esquecidas, e muitas escolas fizeram
uma adaptação do seu currículo para continuar os trabalhos. Para Honorato (2021)
o currículo precisa ser cumprido e esta deve ser a primeira preocupação dos
gestores educacionais, mesmo que pelo ensino remoto, uma vez que o currículo
previsto para uma escola presencial
não se alinha com a metodologia de uma educação a distância. Esse autor alerta que em uma situação improdutiva
com conteúdo massificados priva os estudantes da avaliação do
ensino-aprendizagem.
Nas três escolas de Formosa-GO, objeto de estudo
dessa investigação, os professores vão até a escola num determinado período e disponibilizam
materiais pedagógicos para os estudantes, uma vez que muitos estudantes não possuem
acesso à internet, nem mesmo pelo celular, para acompanhar as aulas. Verifica-se
um esforço dos professores em tentar adaptar o currículo ao contexto remoto das
aulas. Como destacam Feltrin e Batista (2020, p. 1024) a realidade imposta pela
pandemia, foi uma condição para pensar a readaptação às novas formas de ensinar/aprender,
e para continuar a ensinar, tornou-se mais do que nunca necessário aprender, mas,
as autoras alertam que reinventar a docência requer cuidado “[...] para que não
se perca o humano nas relações de ensino. A fala, a proximidade, o acolhimento às
individualidades, a valorização do humano levanta-se como bandeiras centrais à reinvenção
docente. [...] o olhar para a diferença deve permanecer e se reinventar também”.
Verifica-se que houve uma predisposição (80,6%) dos professores em manterem contato
com os pais mesmo utilizando unicamente o aplicativo do WhatsApp como foi o
caso das escolas goianas.
2. Sentimentos do professor frente à
pandemia
Em
relação às respostas de como os professores têm se sentido no decorrer da pandemia,
foi possível verificar que o maior percentual das respostas se concentra em dois
sentimentos: “ansiedade” e “sobrecarga de trabalho”. Quase 70% dos professores fizeram
menção a esses dois sentimentos. Também destacaram outros sentimentos como cansaço
62,7%, estresse 34,3%, depressão 28,4%; solidão 22% e outros 15% estão se sentindo
entediados. Esses sentimentos revelam que os professores foram atingidos psicologicamente
pelo isolamento social, pela incerteza e pelas mudanças repentinas decorrentes da
pandemia. O excesso de atividades, a falta de reconhecimento e a urgência de aprender
novas metodologias de ensino, aliado ao ambiente de insegurança sobre o futuro causou
uma sobrecarga de estresse nos professores.
Nesta
perspectiva Dias e Pinto (2020) fundamentam que os secretários da Educação e gestores
necessitam prestar apoio e refletirem sobre a saúde mental de todos, pois assim
como milhares de estudantes foram prejudicados, os professores também se encontram
fragilizados. Se os docentes estiverem exaustos mental e fisicamente, bem como aponta
a pesquisa, não poderão ajudar a si ou aos estudantes. Macedo (2021) faz menção
ao impacto da pandemia quanto aos aspectos econômicos, psicológicos, sociais e de
saúde das famílias e dos professores em particular, a estes últimos agregaram-se
elementos estressantes como a “[...] manutenção do interesse dos
estudantes em relação aos estudos, bem como a solidão e as saudades dos colegas”.
Dentre
os 67 docentes participantes da pesquisa, apenas 12 (17,9%) precisaram se afastar
dos trabalhos desenvolvidos no ensino remoto por questões de saúde, ao passo que
55 (82,1%) certificaram que não precisaram ainda adotar tal medida. Nesta perspectiva,
ao serem comparadas as informações apresentadas pelos docentes na questão anterior,
que de forma acentuada estão: “ansiosos (as)”,
“estressados (as)”, “sobrecarregados (as)”, “cansados (as)”, estes sustentam que, neste
período, as questões de saúde não foram empecilho para trabalharem, mesmo sob forte
carga emocional. Em estudos da FCC (2020), contatou-se que os sentimentos dos professores
quanto à pandemia estão associados ao volume de atividades e ao excesso de pressão
como ansiedade, sobrecarga, cansaço e estresse que impactam a condição emocional
dos educadores. “Esse conjunto de sentimentos expressa-se com mais frequência entre
as professoras. Um segundo grupo de sentimentos negativos, como frustração, tédio,
depressão e solidão, mais associados a fatores individuais e expressos de modo mais
equilibrado entre homens e mulheres”. (p.65).
Neste
sentido, torna-se necessário que os (as) docentes considerem não apenas as questões
de saúde física, mas também as questões de saúde mental neste momento atípico. Alguns
transtornos e doenças os quais os profissionais da educação estão desenvolvendo
estão relacionados com as determinações diretas advindas dos novos formatos e condições
trabalhistas neste período de pandemia. Como afirma Moreira e Rodrigues (2018),
quando a saúde mental é prejudicada, consequentemente, a dimensão física também
será afetada.
Foi
solicitado aos professores que descrevessem o seu nível de preocupação com sua saúde
física, mental, a saúde de seus familiares e outras eventuais preocupações. O Gráfico
2 apresenta estes níveis. Somente 6% estão tranquilos quanto a sua saúde física
e mental, o maior nível de preocupação dos professores é com a sua saúde mental
e a saúde da sua família.
A
maioria dos educadores do Brasil são mulheres, índices refletidos nesse estudo com
86,6% da amostra. Silva et al. (2020, p. 158) alega que a
responsabilização das mulheres pelas atividades do cuidado está presente na história
da sociedade patriarcal. “as medidas tomadas para garantir o isolamento social e
evitar o aumento do número de casos resultaram na sobrecarga das mulheres, já marcadas
na sociedade moderna pelas múltiplas jornadas”. Na perspectiva desses autores a
garantia da sobrevivência tornou-se a base da sobrecarga e impactou a saúde mental
das mulheres. Corroborando
essa perspectiva o relatório ONU mulheres 2020 disserta que as mulheres
continuam sendo as mais afetadas pelo trabalho não-remunerado, principalmente em
tempos de crise. “Devido à saturação dos sistemas de saúde e ao fechamento das escolas,
as tarefas de cuidado recaem principalmente sobre as mulheres, que, em geral, têm
a responsabilidade de cuidar de familiares doentes, pessoas idosas e crianças” (ONU
MULHERES, 2020, p.1).
A
saúde da família, sua própria saúde física e mental são fortes motivos de preocupação
dos professores participantes como pode ser observado no gráfico 1.
Gráfico 1 - Níveis de preocupações dos docentes com relação à saúde mental,
física e familiar.
O nível de preocupação dos (as) professores (as)
de São Paulo apresentou diferença significativa quanto à saúde física em relação
aos (as) professores (as) de Formosa. O teste t Students mostrou que os professores
de SP estão mais preocupados com sua saúde que os de Formosa (t(65) = -2,388; p<0,02).
É possível que a inevitável aglomeração de uma cidade do porte de São Paulo seja
uma dessas causas de preocupação, para si e para os seus familiares. Para Pereira Santos e Manenti (2020), o cuidado
com a saúde mental dos educadores precisa ser levado a sério, e tomadas as medidas
para as atuais condições de trabalho em formato home office, e estratégias adequadas
para o retorno das aulas presenciais nas escolas. Segundo esses autores ações e
diligências preventivas e promotoras de saúde podem reduzir as implicações psicológicas
da pandemia.
Quanto
ao gênero, idade, redes de ensino a que pertencem e etapas de atuação dos participantes,
não foi verificada diferença significativa. Os resultados indicaram que não importa
em qual rede de ensino ou etapa de ensino atue, homem ou mulher, mais ou menos jovem,
todos estão muito preocupados com a sua saúde física e mental e quanto maior for
a cidade em que moram, aumenta mais a preocupação. Tal nível de preocupação gera
estresse, ansiedade e impacta diretamente a atuação profissional do (a) professor
(a), que de um momento para o outro viu-se obrigado a dominar tanto os conteúdos
quanto as ferramentas tecnológicas, de forma criativa e envolvente. Conforme descrevem
Feltrin e Batista (2020), na situação de pandemia não existe mais separação entre
o mundo do trabalho e o mundo pessoal e se o professor esquecer as ferramentas M-learning
estão aí para lembrá-los.
3. Objetos de
dedicação durante a pandemia
Buscou-se
averiguar quais atividades cotidianas os (as) professores (as) passaram a dedicar
mais tempo durante a pandemia. Destacaram-se atividades domésticas, da escola, capacitação
profissional, vida pessoal e familiar. Muitos docentes, durante a pandemia, tiveram
que readequar o ensino, desempenhando diversas atividades neste período. Os professores
de todas as áreas e níveis de ensino tiveram que adaptar seu trabalho para ser feito
de casa com auxílio das tecnologias, 98,5% dos docentes alegaram que dispensaram
um tempo maior para trabalhar de casa nas atividades da escola, e 80,6% buscaram
algum tipo de capacitação, como cursos on-line, livros, referências bibliográficas,
sites de universidade e outros. Mesmo com essa sobrecarga de trabalho, a organização
familiar e as atividades do lar continuam solicitando atenção dos (as) professores
(as) numa proporção de 67,2 e 61,2% respectivamente. Os filhos, nesse turbilhão
de afazeres, foram outra preocupação constante dos (as) professores (as), e 52,2%
reconhecem que se dedicam a apoiar os filhos nas tarefas escolares. O primeiro olhar
do (a) professor (a) foi para o trabalho, seguido do aspecto familiar. Para Palu
(2020, p. 79), sem capacitação profissional, o trabalho docente duplicou ou triplicou
com o início das aulas remotas. Para essa autora “Os educadores se encontram sobrecarregados
e atarefados, pois além da participação na formação para trabalhar com novas ferramentas,
passaram a ter que alimentar plataformas on-line [...], subentendendo assim, o aumento
no trabalho dos docentes neste cenário pandêmico”.
Não
foi verificada diferença significativa quanto às variáveis, gênero, idade, etapas
de ensino, rede escolar atual e unidade federativa, a priorização do trabalho foi
uma realidade para professores de todos os níveis, etapa de ensino, unidade federativa
ou idade.
Para
Lamim, Nacimento e Cordeiro (2020, p. 361) “[...] os desafios em sala de aula
são imensos o novo cenário nos faz refletir no desafio imposto aos professores
do mundo todo em dar continuidade a um trabalho que tem na figura do professor um
agente de esperança e doação para garantir a continuidade do percurso educativo
de milhares de alunos”.
A
percepção dos dias difíceis é uma realidade presente no discurso dos
professores, contudo, existe determinação mediante o enorme desafio, de ser
professor em tempos de pandemia. Esses resultados acentuam o compromisso, a
resiliência e a consciência profissional dos professores.
4. Autoavaliação
Houve
a necessidade de averiguar como os professores se autoavaliam na execução desse
novo formato de trabalho, em que as aulas presenciais foram substituídas por aulas
em meio digitais e remotos.
Constatou-se
que 49,3% dos docentes acreditam estar em um bom caminho, tem uma avaliação positiva
do seu trabalho, e outros 37,3% o consideram razoável. Essas afirmações denotam
que, apesar de todas as vicissitudes da novidade de trabalho, os professores ainda
se sentem realizando um bom trabalho. Mesmo diante de tantos desafios enfrentados
pelos/pelas docentes, estes ainda mostram otimismo quanto sua atuação neste momento
atípico, e somente 13,4% estão frustrados alegando que seu trabalho é ruim ou péssimo.
Pressupõe-se que, mesmo com ausência de capacitação profissional, os professores
percebem que estão atendendo às novas formas de atuar, exigidas pela instituição
de ensino e pela circunstância do momento. Para Schneiders (2020, p.212), esse novo
contexto promoveu alguns fatores como:
[...]
invasão de privacidade, preenchimento de documentação, indecisão acerca dos temas,
conceitos e conteúdos a se trabalhar, sobrecarga horária, incerteza sobre o alcance
dos objetivos educacionais, precariedade das ferramentas de trabalho, aliados com
o distanciamento social, debilitou a saúde mental dos professores.
Conforme
Gotti et al. (2020) fatores como incerteza, medo, insegurança
e ansiedade, foram fortemente evocados pela pandemia. Contudo, essa investigação com professores
dos municípios de Formosa e de São Paulo, constatou a resiliência dos professores
em ainda manterem o otimismo frente às adversidades.
Como
reforça Oliveira et al. (2020), os professores têm buscado inúmeras formas
para atender as exigências para a continuação das aulas, por mais que às vezes possam
faltar as ferramentas mais apropriadas ou precise dividir com alguém, eles estão
empenhando-se, mesmo com todas adversidades para continuar com o ensino, “Novas
estratégias de transmissão de conteúdo, aulas on-line, aulas gravadas, planos de
aula diferenciados, plataformas digitais permitiram a conexão imediata entre escola
e família” (HACKENHAAR; GRANDI, 2020, p. 58).
Vale
ponderar que a autoavaliação do/da docente frente à experiência com o ensino remoto,
foi um aspecto que se apresentou homogêneo mediante todas as variáveis, sem diferença
significativa, ou seja, variáveis que perpassam a idade, sexo, cidade e estado em
que reside, rede de ensino em que trabalham, etapas de ensino com que atuaram ou
atuam não tiveram diferença significativa.
5. Apoio
Foi
solicitado aos professores que assinalassem o tipo de apoio que consideram importante
receber nesse momento de pandemia. Três tipos de apoio se destacaram, o apoio financeiro,
um quarto (25,4%) dos participantes expressaram preocupação com sua segurança financeira
e como manter a sua família nesse período da pandemia, em consequência dessa primeira
preocupação, surge a segunda, relacionada à capacitação profissional para saber
lidar com os estudantes nas aulas on-line (19,4%). Apoio para conciliar as atividades
domésticas e o trabalho também teve um percentual expressivo de 14,9% dos participantes
e apoio psicológico e emocional teve um percentual baixo com apenas 10,4%. Ao iniciar
essa investigação, uma das hipóteses levantadas foi que esse seria o principal apoio
requerido pelos professores, contudo a questão financeira e o apoio técnico se sobressaíram,
a ausência dos mesmos pode redundar em problemas emocionais e psicológicos.
A fim de verificar o índice de significância
para as variáveis de controle, foi feito o teste t Students (gênero e unidade federativa)
e a ANOVA unidirecional (idade, etapas de ensino, rede de ensino) e não foi verificada
diferença significativa p<0,05 em nenhuma dessas variáveis, ou seja, a amostra
partilha necessidades similares independente de gênero idade, etapas ou rede de
ensino e unidade federativa, quanto ao apoio financeiro, técnico e psicológico.
Um
fator preocupante no contexto da pandemia do covid-19 é a sobrecarga de trabalho
do (a) professor (a) e o apoio de qualquer natureza pode dar uma melhor qualidade
de vida para eles. o trabalho do (a) professor (a) é ligado diretamente com o contato,
logo, durante o isolamento social, o (a) professor (a) perdeu esse contato, tendo
que suportar a tensão em se acostumar e usar as ferramentas digitais e a elaboração
de trabalhos que possam incentivar os estudantes. O contexto educacional, tanto
dos professores como dos alunos, foi modificado de forma significativa, e eles tiveram
que se adaptar rapidamente e realizar atividades que antes eram feitas na sala de
aula e agora tiveram que fazer isso das suas próprias casas.
Foi
verificada diferença significativa na variável unidade federativa. O teste t Students
(t(65) = 4,156; p<0,000), assim 81% dos professores de São Paulo reconheceram
que estão recebendo algum tipo de formação e somente 35% dos professores de
Formosa. O estado de São Paulo, na categoria de estado mais rico da federação,
teve mais iniciativas na formação dos professores, 81% dos professores
paulistas e 35% dos goianos receberam algum tipo de formação para o ambiente
virtual.
6. A aprendizagem dos estudantes
A
percepção dos (as) professores (as) quanto à aprendizagem dos estudantes foi bem
variada. 29,9% responderam que a aprendizagem aumentou, um número grande de professores
38,8% alegou que não houve mudança, a aprendizagem remota permaneceu igual a presencial.
10,4% acharam que diminuiu e 20,9% não souberam informar. É possível que esses últimos
ainda não tenham analisado pormenorizadamente essa questão, ou não tenham feito
avaliação, ou esta não permitiu inferir se houve ou não evolução. Conclui-se que
a percepção dos docentes quanto à aprendizagem dos estudantes é positiva, para quase
70% dos entrevistados, a aprendizagem aumentou ou permaneceu a mesma. Uma investigação
pertinente seria ouvir os pais e os estudantes.
Essa
percepção positiva pode ser resultado, do anseio dos professores a sua busca contínua
de caminhos para atingir uma melhor qualidade de ensino-aprendizagem. Honorato
(2021) disserta que a pandemia mostrou a transformação dos sistemas
educacionais para se adaptar as escolas fechadas e ao distanciamento social e
procurar solução para a aprendizagem dos estudantes, contudo esse autor alerta
para soluções paliativas e improvisadas que podem adiar o problema e colocar no
ombro do professor, estudante e família um ônus de continuar o ensino num
ambiente não apropriado e que não atende aos aspectos tecnológicos de um ensino
remoto, sob o prejuízo de não atingir a qualidade da aprendizagem do estudante.
Foi
analisada a percepção dos professores quanto a aprendizagem dos estudantes
considerando o gênero dos participantes. A fim de verificar a significância quanto
ao gênero foi feito o teste de Levene e este indicou que a amostra não tinha uma
distribuição normal ou homogênea, assim optou-se pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney
e este mostrou que existe diferença na percepção de aprendizagem dos estudantes
(U
= 158,000; p<0,04) para as mulheres a aprendizagem dos estudantes aumentou 55,6%,
e na percepção masculina essa se manteve estável, assim nessa variável
verificou-se diferença significativa p<0,05.
Também foi verificada diferença significativa
quanto à unidade federativa (U = 365,000; p<0,001). Na percepção dos docentes
de Formosa, a aprendizagem dos estudantes aumentou ou permaneceu da mesma forma,
já os paulistanos não sabem informar ou acham que não mudou, apresentaram incerteza
mediante essa questão.
A idade dos participantes também influenciou
a percepção quanto à aprendizagem dos estudantes. A ANOVA unidirecional [F(3,63)
= 4,322: p<0,008] mostrou que existe diferença significativa. Os professores
de 30 a 39 anos admitem que a aprendizagem dos estudantes aumentou ou permaneceu
a mesma. As variáveis rede e etapas de ensino não apresentaram diferença significativa.
7. Tarefas
Foi solicitado aos (as) professores (as) que
descrevessem a frequência das tarefas solicitadas. 47,8% afirmaram que a maioria
dos estudantes faz as tarefas solicitadas, 28,4% responderam que somente uma minoria
faz as tarefas, 16,4% disseram que somente a metade dos estudantes e 7,5% disseram
que ninguém faz tarefas.
Verificou-se diferença significativa quanto
aos moradores de São Paulo e Formosa, o teste t Students (t(65) = 6,228; p<0,000).
Os formosenses alegaram que a maioria (84%), ou quase todos os estudantes, fazeram
as tarefas, e os professores de São Paulo a resposta foi o contrário, alegando que
somente 15%. A incerteza dos docentes paulistanos quanto à aprendizagem dos estudantes
refletiu-se nessa questão das tarefas, se as tarefas não chegam aos estudantes,
se a maioria não faz, não temos como saber se está havendo ou não aprendizagem.
Por que estudantes de uma cidade pequena e interiorana foram mais eficientes na
execução das tarefas? Quais as limitações dos estudantes da cidade de São Paulo?
Essas indagações, embora importantes, não foram contempladas nesse estudo.
A idade também apresentou diferença significativa
[F(3,63) = 4,322: p<0,000] quanto à execução das tarefas. A ANOVA unidirecional
e o Post-Hoc REGWQ mostraram que os (as) professores (as) com idade entre 30 e 39
anos assinalaram que a maioria ou quase todos os estudantes fazem as tarefas. Esse
é o mesmo grupo que afirmou que a aprendizagem dos estudantes aumentou ou permaneceu
a mesma. Verifica-se que, para esse grupo em especial, a aprendizagem está relacionada
diretamente à execução das tarefas solicitadas. As variáveis etapas ou redes de
ensino e o gênero não tiveram diferenças significativas.
Quanto à periodicidade de envio de atividades
às turmas, 80,6% dos professores disseram que enviam atividades diariamente, 16,4%
semanalmente e 3% quinzenalmente. A fim de verificar a significância quanto ao gênero, foi feito
o teste de Levene e este indicou que a amostra não tinha uma distribuição normal,
p<0,05 assim optou-se pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney. Foi verificada
diferença significativa quanto ao gênero, o teste de Mann Whitney (U = 183,000:
p<0,003) mostrou que 90% das mulheres enviam conteúdos diariamente, o mesmo não
acontece com os homens que enviam preferencialmente semanal ou quinzenalmente. O
envio diário de tarefas certamente sobrecarrega esse grupo que já tem um número
de tarefas superior ao assumir a maior parte das tarefas do lar e da família. Segundo
dados da FCC (2020), a participação majoritária de mulheres na docência
na educação básica
é uma realidade histórica. Ao agregar educação e cuidado, em especial nas etapas iniciais,
a presença delas chega a 97,5% nas creches (dados Sinopse Censo da Educação Básica
2019), na medida
em
que se avança nas etapas de ensino, a presença feminina diminui, ainda que no Ensino médio
elas representem 58%.
As
redes de ensino municipal e estadual tiveram diferença significativa quanto à periodicidade
de envio de conteúdo para os estudantes, foi o que mostrou o teste Kruskal-Wallis
[x²(2) = 17,737; p<0,000]. As escolas municipais enviam diariamente tarefas e
conteúdo para os estudantes, o mesmo não foi verificado nas escolas estaduais.
Considerações
finais
De início, cabe expor que o objetivo central
desta pesquisa foi alcançado, pois foi possível averiguar os impactos do fenômeno
pandêmico sobre o sistema de educação na população investigada. A análise das respostas
confirma duas hipóteses iniciais do estudo, sendo estas: a de que o isolamento social e a mudança abrupta de atividade tem afetado
o bem-estar da saúde mental dos docentes e que a aprendizagem dos estudantes durante
a pandemia tem manifestado uma diminuição significativa. Estes dados sustentam
a perspectiva de que este momento pandêmico acentuou as dificuldades que o sistema
de educação brasileiro já enfrentava, como a: desvalorização docente, o despreparo
estrutural escolar e o aumento da desigualdade. “Durante a pandemia, as diferenças
por sexo e cor/raça presentes na educação, tanto nas perspectivas dos alunos como
na de docentes, são mantidas e as desigualdades podem ser ampliadas” (FCC 2020,
p. 29).
No entanto, a terceira hipótese inicial deste
trabalho não foi constatada, pois a maioria dos professores avaliou a experiência
com o ensino remoto como “boa”. Este fator chamou atenção, pois mesmo sendo observada
a ausência de capacitação, dificuldades de acesso, decaimento da aprendizagem discente
e até um quantitativo de professores que tiveram que se afastar do trabalho durante
a pandemia, estes foram capazes de ponderar que este formato digital assume-se como
favorável à sua atuação, revelando, assim, um otimismo, mesmo com este fenômeno
atípico.
Os dados indicaram que a maioria dos (as) professores
(as) se sentia, além de despreparados com este modelo, mas também ansiosos, sobrecarregados,
cansados, estressados e até depressivos com relação à pandemia. A respeito do nível
de preocupação com a saúde física, mental e familiar, verificou-se que são poucos
os que se sentem tranquilos com estes fatores e aqui, cabe ressaltar que a maior
parte dos participantes da pesquisa são mulheres, sendo que, tendo em vista a sociedade
patriarcal brasileira, foi possível perceber o quanto as mulheres se sentem responsáveis
pela saúde da família, principalmente na pandemia, a qual sobrecarregou o trabalho
destas.
Sobre as ações que os participantes consideram
como prioritárias neste momento, tornou-se evidente a dinamicidade destes com relação
à condição estrutural geral da escola, que talvez, pode ser travada por processos
burocráticos não tão propulsores da eficácia de certas condutas educacionais. Mas
ainda assim, foi possível captar a existência de oferta de capacitação profissional
para com o formato remoto aos professores e são eles que se dispõem a buscar esses
mecanismos a fim de melhorar sua prática pedagógica. A priorização
do trabalho foi uma realidade para professores de todos os níveis, etapa de ensino,
unidade federativa ou idade. Esses resultados acentuam o compromisso e a consciência
profissional dos (as) professores (as).
A despeito de todas as vicissitudes da novidade de trabalho, os
(as) professores (as) ainda se sentem realizando um bom trabalho. Mesmo diante de
tantos desafios enfrentados, estes (as) ainda mostram otimismo quanto sua atuação
neste momento atípico, pressupõe-se que, mesmo com ausência de capacitação profissional,
os professores percebem que estão atendendo às novas formas de atuar, exigidas pela
instituição de ensino e pela circunstância do momento. Essa investigação com professores
dos municípios de Formosa e São Paulo constatou a resiliência dos professores em
ainda manterem um resquício de otimismo frente às adversidades.
A
autoavaliação do/da docente frente à experiência com o ensino remoto foi um aspecto
que se apresentou homogêneo mediante todas as variáveis, sem diferença significativa,
ou seja, variáveis que perpassam a idade, sexo, cidade e estado em que reside, rede
de ensino em que trabalha, etapas de ensino com que atuou ou atua não tiveram diferença
significativa. A amostra partilha necessidades similares independente de gênero
idade, etapas ou rede de ensino e unidade federativa, quanto ao apoio financeiro,
psicológico e técnico. Constata-se, pois, que por mais que o século
atual seja movido pelas redes sociais e internet, usar essa ferramenta para transmitir
conhecimento não é tão fácil assim, ainda mais quando se trata de profissionais
não preparados para executar tal ação. Contudo é possível que após o período pós-pandemia,
o ensino remoto e o uso de tecnologias aliado ao aumento da carga horária poderão
ser incorporados ao contexto escolar a fim de dirimir as consequências de tão longa
interrupção do calendário escolar. Ao escolher entre alternativas seguras para a
aprendizagem dos nossos estudantes. Como ressalta Honorato (2021) devemos nos
perguntar não apenas como superar a ameaça imediata, mas também que tipo de
mundo habitaremos quando a tempestade passar.
A
realização desta pesquisa insere-se dentro da modalidade de pesquisa científica,
e espera-se que os resultados gerem novos conhecimentos que possam minimizar os
efeitos negativos da pandemia da covid-19 no cenário educacional, bem como compreender
o que professores vivenciaram em sua prática pedagógica, concomitante abre outras
frentes de estudo como expectativas no pós pandemia; inclusão escolar, alfabetização,
abandono escolar, relações étnico raciais e outros.
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Recebido em: 01/07/21
Aprovado em: 28/08/21
[1] Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas -
UNICAMP, Pós-Doutora pela Universidade Federal do Triangulo Mineiro
- UFTM. Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de
Goiás. (UEG). Realiza pesquisas em: Educação Matemática, Educação Econômica e
Financeira e Formação de Professores. Líder do LIMA/UEG/CNPq - Laboratório
Interdisciplinar em Metodologias Ativas. E-mail: soniabessa@gmail.com
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-9857-6523