ÊXITOS
E DESFECHOS NO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO DO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACELI
DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19
Successes and
results in the teaching, research and extension of the faceli pedagogy course
during the covid-19 pandemic
Éxito y resultados
en la enseñanza, investigación y extensión del curso de pedagogía faceli
durante la pandemia covid-19
Joana Lúcia
Alexandre de Freitas[1],
Márcia
Perini Valle[2],
Valéria
Vieira dos Santos Pin[3].
Resumo:
Palavras-chave: Ensino Remoto- Pandemia- Pedagogia.
Abstract:
This article is an Experience Report which talks about the obtained
results in the disciplines of Didactics, Supervised Internship and Theoretical
and Methodological Foundations of Arts, Sciences and Geography of the Pedagogy
course of a public, municipal and free College located in a city in the
interior of the State of Espírito Santo. In order to promote exchanges of
experiences, experience reports and reflections about the teaching and learning
processes carried out during the pandemic in Higher Education, this study was
accomplished. Qualitative exploratory research was adopted as a methodology,
having inductive hypotheses based on a literature review to understand the
responses of 49 academics in a survey about the teaching and learning processes
at the end of the first semester of 2020, in which it was chosen the technique
of analyzing the discourse of the collective subject to represent the
conception of university students. From the results obtained, the following
stand out: the improvement in the domain of production of audiovisual
resources; the improvement in the development and domaining of scientific
writing in various academic textual genres; the acquisition of skills and
competences in learning and teaching through the remote learning and the
expansion of learning carried out by the intentional use of Information and
Communication Technologies (ICTs). However, there are also fragile outcomes
such as problems of digital inclusion and non-adaptation to remote learning
which served for good reflections in this research and which will serve to
improve the Teaching Practice of University Teachers and the Basic Education.
Keywords: Remote Learning- Pandemic- Pedagogy.
Resumen:
El artículo es un relato de experiencia
sobre los resultados obtenidos en las disciplinas de Didáctica, Pasantía Supervisada
y Fundamentos Teóricos y Metodológicos de las Artes, Ciencias y Geografía de la
asignatura de Pedagogía de un Colegio público, municipal y gratuito ubicado en
un municipio del interior del país. Estado de Espírito Santo. Con el fin de
promover el intercambio de experiencias, relatos de experiencias y reflexiones
sobre los procesos de enseñanza y aprendizaje llevados
a cabo durante la pandemia en la Educación Superior, se llevó a cabo este
estudio. Se adoptó como metodología una investigación exploratoria cualitativa,
adoptando hipótesis inductivas a partir de una revisión de la literatura para
comprender las respuestas de 49 académicos en una encuesta sobre los procesos
de enseñanza y aprendizaje al final del primer semestre de 2020, en la cual se
eligió la técnica de análisis del discurso del sujeto colectivo para
representar la concepción de los estudiantes universitarios. De los resultados
obtenidos se destacan: mejora en el dominio de producción de recursos
audiovisuales; mejora en el desarrollo y dominio de la escritura científica en
varios géneros textuales académicos; adquisición de habilidades y competencias
para aprender y enseñar a través de la enseñanza a distancia y expansión del
aprendizaje realizado por el uso intencional de las TIC. Sin embargo, también
existen resultados frágiles como problemas de inclusión digital y no adaptación
al aprendizaje a distancia que sirvieron de buenas reflexiones en esta
investigación y que servirán para mejorar la Práctica Docente del Docente
Universitario y también la de Educación Básica.
Palabras clave: Aprendizaje a distancia; Pandemia; Pedagogía.
1. Introdução
A pandemia da Covid-19 deixou
marcas profundas na vida das pessoas e na sociedade como mortes de entes
queridos, além disso, piorou a economia e a Educação. Professores e estudantes
tiveram que aprender a lidar com o novo
normal[4]
e recriaram a forma de ensinar e aprender, auxiliando uns aos outros,
trocando experiências, adaptando planos, ajustando atividades, criando
videoaulas e alternativas para a continuidade do processo educativo devido à
suspensão de aulas presenciais. Todos estes esforços precisam ser descritos e
conhecidos e, portanto, com o objetivo
de fomentar trocas de experiências, relatos de experiências e reflexões sobre
os processos de ensino e de aprendizagem realizados durante a pandemia no
Ensino Superior, fez-se este estudo.
Os dados aqui descritos trazem
reflexões dos processos de ensino e de aprendizagem durante a formação inicial
de professores pedagogos na pandemia, que incidem diretamente na constituição
básica dos saberes destes profissionais, mas também na Educação Básica no
decorrer do tempo através do exercício destes licenciados formados no período
pandêmico. Estas razões estimularam três mestras a se reunirem para investigar
e descrever a própria prática, com base na questão central: Quais foram os êxitos
e desfechos das aulas de Prática de Ensino, de Estágio Supervisionado e de
Didática que foram realizadas no período da Pandemia da Covid-19 no Curso de
Pedagogia na Faculdade de Ensino Superior de Linhares-ES (Faceli)?
Perante esta incógnita,
remeteu-se à memória e aos registros educacionais para descrever a prática
exercida, no sentido de reflexão-ação-reflexão da práxis educativa, de modo que
a comunidade científica perceba como se deu a formação inicial de alguns professores
de uma cidade do Espírito Santo e que, certamente, refletirá na realidade de
outras cidades que passaram pelos mesmos desafios e tiveram que se adaptar para
garantir a continuidade do Ensino em Nível Superior.
Este estudo está configurado em
três eixos: O primeiro são os Êxitos e desfechos na Didática; O segundo são
Êxitos e desfechos no Estágio Supervisionado; O terceiro são Êxitos e desfechos
nas Práticas de Ensino de Artes, Ciências e de Geografia. Deste modo, o leitor
terá uma dimensão maior do processo educativo que ocorreu com os mesmos grupos
de acadêmicos de licenciatura em Pedagogia em uma Faculdade do interior do
Espírito Santo. Apresentamos por olhares diferentes e por diferentes eixos temáticos,
os processos de ensino e de aprendizagem destes futuros pedagogos formados no
bojo dos desafios sociais da pandemia da Covid-19.
De acordo com Freitas e Macedo
(2020), a Faceli é uma Faculdade pública municipal localizada em Linhares,
cidade do extremo norte capixaba com mais de 180 mil habitantes onde se
instalaram empresas nacionais e multinacionais que movimentam a economia local.
Ademais, há grande potencial de petróleo e gás, fato que possibilita investir na
Educação com oferta de Ensino Superior. A instituição tem mais de 1000
estudantes distribuídos nos três turnos dos cursos de Administração, Direito e
Pedagogia.
Nesta pesquisa, apresentaremos
os êxitos e desfechos apenas no Curso de Pedagogia, com estudantes que cursaram
o primeiro semestre nas disciplinas de Didática, Estágio Supervisionado,
Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Artes (FTMA), Fundamentos Teóricos e
Metodológicos de Ciências (FTMC) e de Fundamentos Teóricos e Metodológicos de Geografia
(FTMG), bem como com as respectivas docentes que ministraram estes componentes
curriculares.
A metodologia classifica-se como pesquisa
qualitativa de cunho exploratório,
adotando hipóteses indutivas com base
em revisão bibliográfica para
compreender os fenômenos percebidos no grupo analisado (GIL, 2019). Para análise dos dados, escolheu-se a técnica de
análise do discurso do sujeito coletivo (DSC) - (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART,
2013) para representar a concepção de 49 acadêmicos que participaram de uma
enquete via Formulário Google sobre os processos de ensino e de aprendizagem no
fim do primeiro semestre de 2020. Os resultados obtidos em 2020.1 refletiram em
tomadas de decisão e planejamento para 2020.2 e para o ano de 2021 que trouxeram
experiências, êxitos e desfechos que ressignificaram a prática do Ensino
Superior na Faceli no curso de Pedagogia.
2. Os
desafios impostos pela COVID-19 no curso de Pedagogia da Faceli
2.1. Êxitos e
desfechos na disciplina de Didática
O Ensino Superior precisou se reinventar
para oferecer novas oportunidades de acesso ao conhecimento científico durante
a pandemia da Covid-19. Isso obrigou os profissionais do curso de Pedagogia da
Faceli a repensar, de forma emergencial, uma adaptação das práticas e reflexões
com os estudantes neste novo contexto.
Consoante com a Portaria do MEC nº
343/2020 que orientou
a substituição das disciplinas presenciais, em andamento, por aulas que utilizassem
meios e tecnologias de informação e comunicação, foi instituído na Faceli o Ensino Remoto[5] com o
intuito de amenizar possíveis perdas, tanto
emocionais quanto cognitivas, por parte dos
estudantes e professores. “A pandemia afeta estudantes e professores,
de modo que todos estão sofrendo modificações e interrupções em suas vidas, [...].
Portanto, é preciso compreensão de ambos os lados, pois todos estão passando
por momentos atípicos e de adaptação” (RONDINI; PEDRO; DUARTE, 2020, p. 48).
Este cenário, levou à
construção de um Plano de Ações a ser implementado em
face à situação da Covid-19, responsável pela suspensão das aulas e demais
atividades acadêmicas presenciais, elaborado pelo
Grupo de Trabalho Multissetorial (GTM). Nesse sentido, a metodologia
presencial analógica foi substituída pelo ensino remoto emergencial “[...] apropriando-se
de tecnologias digitais intuitivas e de fácil acesso para os docentes e
discentes. Após um momento de discussão e apresentações de algumas propostas,
optou-se em utilizar a Plataforma Google Sala
de Aula” (FUNDAÇÃO FACELI, 2020, p. 11).
Para superarmos o primeiro
momento do Ensino Remoto emergencial para um segundo momento mais planejado, ou
seja, para o ensino remoto intencional, foi imprescindível que houvesse uma
liderança forte, humana e o envolvimento de todos no processo. Além do social,
essa superação só foi possível por meio de ações como a implantação do Ambiente
Virtual de Aprendizagem (AVA) Faceli, capacitação docente para o uso de novas
tecnologias, atendimento aos estudantes com dificuldade de acesso ao ensino
remoto, dentre outras ações.
Dessa forma, a metodologia
adotada no ensino remoto intencional buscou colocar a interação entre o
estudante e o saber sistematizado como protagonista nos processos de ensino e
de aprendizagem. Consoante com Morán (2015) cabe definir bem os objetivos e,
aliados a eles, oferecer uma metodologia que seja capaz de assegurar a
concretização desses objetivos através de atividades significativas e
essenciais.
O ensino
remoto intencional possui o seu foco no
planejamento estratégico com relação à aprendizagem dos estudantes e não
simplesmente com a entrega de conteúdos e de aula, ou seja, busca se ajustar a rotina familiar e aos possíveis problemas
de conectividade que estudantes e professores possam vir a ter, visando
garantir os processos de aprendizagem.
Dessa forma, em
conformidade com a Resolução CNE/CP Nº 2/2020, Art. 3°, alíneas XV e XVI foram
utilizadas atividades on-line síncronas e assíncronas[6] (BRASIL, 2020) para o ensino remoto intencional. O momento síncrono aconteceu por meio de aula ao vivo (lives) videoconferência, chats/salas de bate papo, dentre outras. Para o
momento assíncrono foram utilizados links para conteúdos de sites ou arquivos,
publicação de vídeo aulas, slides, podcast, entre outras modalidades de interação vinculadas pelo AVA Faceli.
A interatividade assíncrona foi realizada através de atividades avaliativas, de
provas, de questionários dinâmicos, de jogos, de fóruns de discussão, entre
outros (FUNDAÇÃO FACELI, 2020).
Dada a
necessidade do uso de novas tecnologias, se fez imprescindível a
organização do Guia de Aprendizagem com a finalidade de padronizar a forma de
apresentação das diferentes disciplinas no AVA. Elaborado a partir do plano de
ensino da disciplina, o guia apresenta objetividade nos conteúdos, das habilidades e as atividades que
serão desenvolvidas no decorrer do tempo em cada disciplina (FUNDAÇÃO FACELI,
2020, p. 15).
Observou-se que um dos grandes
desafios enfrentados foi a falta de familiaridade que alguns docentes e
estudantes tinham com ambientes virtuais, mesmo com as capacitações realizadas.
Este fato confirmam as palavras de Morán (2015, p. 28)
“Muitos demoram para adaptar-se aos ambientes virtuais cheios de materiais,
atividades, informações. Sentem falta do contato físico, da turma [...]. O
ambiente digital para quem não está acostumado é confuso, distante, pouco
intuitivo e agradável”. É importante lembrar que o apoio, tanto por parte da
coordenação de curso quanto de outros colegas mais hábeis, muito ajudou na
superação destas dificuldades.
Para registrar a frequência
dos estudantes e como forma de acompanhar o processo de aprendizagem foram
propostas atividades
interativas para eles realizarem durante as aulas remotas. Para tanto, cada
aula elaborada e postada pelo professor deveria conter uma atividade proposta a
ser realizada (composta de, no máximo, cinco questões que abordassem o
essencial do conteúdo ministrado). (FUNDAÇÃO FACELI, 2020).
Em relação ao processo de
avaliação da aprendizagem, cada professor na Pedagogia aplicou, de forma
virtual, a avaliação da disciplina ministrada, utilizando-se do AVA Faceli. Nas
avaliações parciais, o docente pôde utilizar diversos mecanismos/ferramentas
disponíveis no ambiente virtual, conforme a especificidade da disciplina.
Concomitante ao movimento de
implementação do ensino remoto intencional, uma preocupação sempre foi o
atendimento aos estudantes com dificuldade de acesso ao ensino remoto. Dessa
forma, foi possível identificar essa demanda e propor as seguintes
alternativas, dependendo do caso: disponibilização de computador com acesso à
Internet, no laboratório de informática ou na biblioteca da faculdade;
disponibilização de material impresso a ser retirado pelo estudante; gravação em
pen drive ou outro dispositivo com os materiais disponibilizados no AVA
Faceli (FUNDAÇÃO FACELI, 2020).
A sociedade
como um todo, em diferentes proporções, tem sido afetada pela pandemia do novo
coronavírus[7].
Entendemos que muitos dos impactos trazidos por ela provocaram uma
transformação que será permanente em todo o mundo e, especificamente, em nossa
comunidade acadêmica. Muitas mudanças as quais nós tivemos que nos adaptar
repentinamente, devem perdurar mesmo após o final da pandemia. O momento é assustador, mas, ao mesmo tempo, nos traz muitos
aprendizados que nos acompanharão.
Nesse contexto, a
plataforma AVA hoje é uma ferramenta importante nos processos de ensino e de
aprendizagem e a sua
incorporação na dinâmica, quanto da volta ao
ensino presencial, é algo bem real. “Todas as
iniciativas de ensino remoto utilizadas durante a luta contra a Covid-19 podem
ser sementes para a transformação digital e cultural tão necessária no ensino,
unindo práticas pedagógicas inovadoras, como o aprendizado híbrido e metodologias
ativas [...]” (ISOTANI[8] apud OLIVEIRA; SILVA; SILVA, 2020, p. 31).
As
modalidades de ensino remoto e à distância que, muitas vezes, enfrentavam
alguns obstáculos para a sua implantação, é hoje a engrenagem essencial nas Instituições
de Ensino Superior que adotou as aulas virtuais para garantir a rotina de
estudos acadêmicos. Com base em reflexões da ação, principalmente quanto à
adaptação dos estudantes, é fato que permaneceremos com algumas atividades on-line
e exploraremos ainda mais o universo tecnológico usando novas possibilidades e
habilidades que favorecem o ensino.
2.2. Êxitos e desfechos
na disciplina de Estágio
Supervisionado
O Estágio Supervisionado é o momento em que o estudante terá as suas primeiras experiências in loco, ou seja, em um ambiente real no qual será capaz de vivenciar e aprender sobre a prática profissional, em forma de oportunidade de colocar em ação toda a teoria aprendida dentro da sala de aula. Consoante com Pimenta e Lima (2017, p. 36-37), “[...] o estágio curricular é atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta, sim, objeto da práxis. Ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que ocorre a práxis”.
Nesse sentido, o estágio no curso de Pedagogia oportuniza ao acadêmico vivenciar e refletir sobre as práticas educativas nas diferentes etapas de ensino buscando conhecer as especificidades da docência na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, bem como a participação em processos de gestão em ambientes escolares e não escolares. A partir de 2020, em função da pandemia da Covid-19, as práticas educativas escolares ganharam uma nova configuração, pois as instituições de ensino tiveram que se reinventar na forma de ensinar, portanto adaptaram novos modelos de trabalho, muitos realizados remotamente.
Diante disto, o Ministério da Educação divulgou documentos que autorizaram a substituição de aulas presenciais e a realização do Estágio Supervisionado por aulas remotas (mais especificamente a Portaria Nº 544/2020 e a Resolução CNE/CP Nº 2/2020). As IES seguindo o protocolo estratégico de prevenção e controle da COVID-19, não puderam mais receber os licenciandos como estagiários em seu interior.
Perante este cenário, o componente curricular de Estágio Supervisionado teve que se adequar ao Ensino Remoto. No início ficamos inseguros em proporcionar atividades não presenciais para uma disciplina que é, essencialmente, prática. Mas uma verdade sempre nos motivou: a de tornar os nossos acadêmicos, desde o seu primeiro momento de Estágio Supervisionado, como os protagonistas do próprio ensino. De modo análogo, os professores da rede municipal tiveram o mesmo intuito com as crianças; buscaram conhecê-las (via WhatsApp) para refletir sobre como ensinar na pandemia. Assim, da forma a mais prática possível, realizaram atividades significativas que tinham as interações e brincadeiras como eixos norteadores do trabalho pedagógico.
Após um ano, desde que iniciamos o
trabalho remoto com os acadêmicos da Faceli,
percebemos o quanto todos nós, professores e estudantes, precisaríamos nos
reinventar. O trabalho foi desenvolvido de forma assíncrona e síncrona, deste
modo os acadêmicos mantiveram o ritmo de estudos, observando a duração de cada bloco de conteúdo postado; dias
e horários das videoconferências, pelo qual recebiam orientação. Entretanto, as
orientações para que o estudante obtivesse sucesso girou em torno da necessidade
de organização quanto aos horários destinados ao estudo. Todos sabem que, em
casa, isso não é tão fácil. Mas a ideia é a de que o estudante assumisse
compromisso com os estudos assim como todos à sua volta deveriam estar cientes
dos momentos destinados para o curso.
Deste modo, a partir de reuniões e
pesquisas quanto ao formato das atividades não presenciais destinadas ao
Estágio Supervisionado, o primeiro modelo foi lançado, seguido
de orientações para cada uma das atividades propostas: produção
de resenhas de textos relacionados à etapa do estágio; realização de cursos on-line em conformidade
com a área do estágio; elaboração de sequências didáticas/projetos didáticos;
resolução de situação-problema; produção de material didático e
aplicação/simulação de atividades e produção de relatórios reflexivos. Por fim,
através de um vídeo, os acadêmicos socializaram as aprendizagens ocorridas na
disciplina de Estágio Estagio (FUNDAÇÃO FACELI, 2020).
A disciplina de Estágio Supervisionado I,
especificamente na Educação Infantil, contou com um trabalho interdisciplinar
com a disciplina de Atividades Práticas V. As ações foram planejadas de forma
que contribuíssem com a prática pedagógica desenvolvida na rede municipal de
ensino de Linhares/ES. Os estudantes foram
orientados a construírem atividades conforme as orientações dadas pela
coordenação do setor de Educação Infantil da rede municipal de ensino.
Dessa forma, foram elaboradas Atividades
Pedagógicas Não Presenciais – APNPs de acordo com os objetivos de aprendizagem
e desenvolvimento selecionados nos diferentes Campos de Experiências dos
documentos oficiais (BNCC, Currículo do Espírito Santo e Orientações
Curriculares da rede municipal de ensino de Linhares/ES). A partir de uma sequência
didática, os acadêmicos produziram vídeos contando histórias, ensinando uma
brincadeira ou, ainda, apresentando uma canção. Para aplicar os materiais
produzidos, foi firmada uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação,
para que dois (Centro de
Educação Infantil Municipal) CEIM da rede, de forma experimental,
utilizassem as APNPs e os vídeos produzidos pelos acadêmicos sob orientação das
mestras e com apoio dos professores colaboradores das instituições.
As famílias das crianças receberam
os vídeos feitos pelos acadêmicos e as atividades elaborada pelos professores
regentes através do grupo de WhatsApp, canal de comunicação entre os
docentes e discentes. As famílias que não aderiram ao aplicativo para receber os
arquivos digitais, resgataram atividades impressas na escola para desenvolverem
momentos pedagógicos com as crianças.
Uma orientação
sempre bem reforçada é a de que a família deve procurar manter uma rotina de atividades escolares com as
crianças. Assim, a linguagem e os processos para explicar às famílias como desenvolver
as atividades foi feita com muita atenção já que sabemos que não é nada fácil
manter uma rotina de estudos em casa, sobretudo para as crianças. Aqui, cabe ao
professor se concentrar nas orientações às famílias, sem esperar resultados
rápidos.
A comunicação
com os pais e/ou responsável deve ter o intuito de orientar, sugerir e explicar
a importância do desenvolvimento das atividades propostas e enviadas para as
crianças, a partir dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que são definidos
para a idade do infante, sempre de forma lúdica, sem perder de vista os eixos
norteadores do trabalho na Educação Infantil, as interações e brincadeira (BRASIL, 2009).
E, assim, procuramos ressignificar as disciplinas de Atividades Práticas V e de Estágio Supervisionado, orientando os estudantes, mesmo à distância e fora da Faculdade, com tudo o que os aproxima de uma prática pedagógica intencional presente nos dias de hoje, sempre acreditando que a brincadeira tem sentido cognitivo e que deve continuar alcançando as nossas crianças de forma significativa.
A partir da experiência vivenciada temos a
intenção de continuar desenvolvendo, nessas disciplinas, um trabalho
interdisciplinar associado ao uso de ferramentas digitais para a produção de
materiais didáticos, ressignificando a formação
inicial dos futuros professores, pois não sabemos se, no futuro, teremos novos
enfrentamentos dentro desta situação de ensino e de aprendizagem. Então, nada
melhor do que nesse momento nos desafiarmos e nos apropriarmos de novos saberes.
2.3.- Êxitos e desfechos nas
práticas das disciplinas de Artes, de Ciências e de Geografia.
Nas aulas das disciplinas de Fundamentos
Metodológicos de Artes (FTMA), de Geografia (FTMG) e de Ciências (FTMC) também foram
utilizadas aulas assíncronas por meio de videoaulas produzidas pela regente das
disciplinas, artigos, livros e documentos oficiais para estudos, via plataforma
virtual de aprendizagem, além de um plano de estudo denominado de Guia de Aprendizagem. Também ocorreu
momento síncrono ora semanal ora
quinzenal, mediante a necessidade educacional deles.
Nos momentos síncronos discentes e
docentes compartilharam a dor da perda de familiares para a COVID-19, o medo de
contrair o vírus e também momentos valiosos para a continuidade da aprendizagem.
Nestes encontros, as dúvidas sobre conceitos foram esclarecidas para dar
continuidade ao processo de formação dos futuros pedagogos. Realizou-se o uso
intencional das TICs, pois como afirma Morán (2018) através da tecnologia o estudante
pesquisa, aprende, interage e compartilha saberes que vão além de apenas
estabelecer comunicação entre os diversos sujeitos, pois a web
possibilita o discente ler, refletir, comparar diversas informações e
sintetizá-las com base em diversas fontes.
Todavia, como os alunos avaliaram esta
mudança abrupta no processo de ensino e aprendizagem? Em busca de respostas, no
final do primeiro semestre de 2020, 100 estudantes dos três FTMs foram
convidados a avaliar o semestre e, ao mesmo tempo, fazer uma autoavaliação. Porém,
apenas 49 acadêmicos responderam ao questionário. No instrumento de coleta de
dados havia ao todo seis itens, sendo 3 objetivos e 3 discursivos.
Os resultados apontam que os participantes
da enquete tem idades que variam de 18 a 50 anos, porém, a maioria são jovens.
Grande parte reside em Linhares, alguns são de cidades vizinhas como Sooretama,
Jaguaré e São Mateus que também são do extremo norte capixaba. Grande parte dos
estudantes está cursando a primeira graduação e atua como estagiários na rede
municipal de ensino. Muitos conciliam estudos com o trabalho para complementar
a renda familiar, a maioria são de classe média à classe média-baixa.
Dentre os itens, perguntou-se sobre o
tempo que destinaram aos estudos e como estudaram em 2020.1. Neste quesito, 23
acadêmicos (46,9%), quase metade dos entrevistados, afirmaram que estudaram
muito; 13 (26,5%) disseram que estudaram mais ou menos e 13 (26,5%) admitiram
ter estudado tempo insuficiente; neste último grupo 9 discentes (18,4%)
declararam que não conseguiram se adaptar ao ensino remoto.
O que chama atenção nestes dados são os estudantes
que não conseguiram se adaptar ao ensino remoto e os que não conseguiram tempo
para estudar, afinal, em casa há o convívio com os familiares, problema de
conexão, falta de espaço adequado, entre outros incômodos. Santos (2019, p. 105)
elucida que as salas de aula no Brasil estão adaptadas com estrutura para aula
expositiva, em que todos os estudantes estão enfileirados e acomodados para
ouvir a explanação do mestre de forma passiva. “Esse espaço estimula a
obediência, a concentração em quem fala na frente e a repetição e cópia do que
é palestrado”. Isso está internalizado no estudante e romper com este modelo
mental para alguns deles é difícil, necessita de autodisciplina e colaboração
da família que, por sua vez, nem sempre colabora.
Se somarmos estes dois grupos, quase
metade dos entrevistados não estudou o tempo suficiente para aquisição dos
saberes esperados para a etapa. Isso é preocupante visto que serão professores
e necessitarão lecionar saberes que não foram devidamente consolidados na
graduação. Com base nas ideias de Schneider (2019, p. 78) “O
fato de não termos a educação ideal (não no sentido de perfeição, mas de
qualidade) torna cada um de nós uma
peça fundamental e, com isso, carrega-nos de responsabilidades, afinal, está
também em nossas mãos a mudança que tanto queremos”. Sendo
assim, a mudança no método de ensino não exime cada um dos estudantes de
reinventar técnicas para estudar de acordo com suas condições financeiras e
temporais.
Considerando que antes do ensino remoto os
estudantes estudavam presencialmente 4 horas semanais nas disciplinas de
fundamentos, questionou-se quanto tempo em horas eles dedicam aos estudos dos
FTMs no ensino remoto. Dentre os 49 alunos, 17 (34,7%) dos estudantes declararam
que dedicaram as mesmas 4 horas semanais; outros 17 (34,7%) afirmaram que
dedicaram cerca de 10 horas semanais; 11 (22, 4%) disseram estudar mais de 10
horas semanais e apenas 4 (8,2) declararam estudar cerca de 2 horas. Provavelmente,
eles compreenderam mal este item, pois se questionou em relação aos FTMs e não
em relação a todas as disciplinas. Se eles dedicaram 10 horas apenas para os
FTMs quanto tempo destinaram para as demais disciplinas?
Outro resultado intrigante é os que
admitiram estudar cerca de 2 horas: se é para uma disciplina em específico
talvez seja suficiente, mas se é para todas as disciplinas do semestre, assim
como possivelmente interpretou os demais, este tempo é insuficiente para
aprender todos os saberes necessários, o que denota, novamente, fragilidade na
aprendizagem destes estudantes.
Para o sucesso do Ensino
Remoto é imprescindível parceria e comprometimento de docentes e discentes. Ambos
devem estar em comum acordo para garantir esforços em prol da aprendizagem. Neste
tradado, o docente tem a função de oferecer materiais de qualidade, sugerir
referências e dar assessoria nos momentos de dificuldade; os acadêmicos, por
sua vez, tem o papel de gerenciar o próprio tempo para conseguir o andamento do
estudo, solicitando orientação do mestre ou realizando pesquisas na literatura
científica para garantir a aquisição dos tópicos previstos no ementário do
componente curricular.
Outra questão que se fez necessário
pesquisar foi se tiveram acesso à internet e o meio pelo qual os estudantes
tiveram acesso às aulas síncronas e ao material disponibilizado on-line
para aulas assíncronas. Os resultados foram: 45 (91,8) dos 49 entrevistados
tiveram acesso à internet; a maioria, 43 (87,8%), teve acesso ao
material e participou dos momentos síncronos pelo celular; 31 (63,3%) dos
estudantes estudaram utilizando o computador com acesso internet; 4 (8,2%)
deles usaram tablet com acesso à internet e 3 (6,1%) não tiveram
acesso à internet na maior parte do semestre.
Este dado revela que nem todos os estudantes
estão incluídos digitalmente na Faceli. No grupo entrevistado foram poucos, mas
em toda a Faculdade e demais escolas da Educação Básica e do Ensino Superior,
eles são muitos. O IBGE (2019) revela que cerca de 93,2% dos domicílios
brasileiros têm telefone celular móvel e somente 79,1% acesso à internet.
Deste modo, mais de 11% dos brasileiros não têm acesso à internet pelo
celular. Se analisar o acesso por computador e tablet, o índice aumenta
ainda mais. Esta considerável parcela de brasileiros têm dificuldades para se
comunicar e para obter informação e conhecimento, principalmente no momento
pandêmico.
Para amenizar o problema de
exclusão digital, a Faceli disponibilizou materiais impressos, pen drive
ou CDs com videoaulas para serem assistidas em aparelhos de DVD
ou em televisões que tenham entrada USB. Não foi a melhor solução, mas foi
a alternativa que encontraram. Similar a esta ação, outras instituições
brasileiras disponibilizaram material impresso, inclusive na Educação Básica do
próprio município, como afirma Freitas (2020).
Para o registro de presença e para avaliar
os processos de ensino e de aprendizagem, solicitou-se que os estudantes
fizessem atividades semanais para serem postadas no ambiente virtual de
aprendizagem ou pelo WhatsApp. Os alunos que estudaram por material
impresso também fizeram trabalhos acadêmicos e os entregaram ao coordenador do
curso para serem corrigidas pelo professor.
Três itens discursivos foram categorizados
e expostos de acordo com a técnica de DSC para facilitar a apresentação dos
dados (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013). Quando questionados sobre a maior
dificuldade encontrada, os 49 estudantes apontaram
diferentes pontos, a saber:
17 alunos: “-
Excesso de atividades para serem entregues em pouco tempo”.
13
alunos: “- Dificuldade de fazer resenha crítica, paper [gêneros textuais
poucos usados no presencial] e de gravar
e editar vídeos como apresentação de seminário.”
13
alunos: “-Dificuldade de participar
das aulas síncronas, de estudar em casa dividindo espaço e atenção com os
familiares, além de conciliar o trabalho [alguns acadêmicos arrumaram
empregos no período que estariam estudando no presencial] com o estudo”.
01
alunos: “-Não tive
dificuldade”.
05
alunos: “-Falta de
internet ou de mídias como computador e tablet para acessá-la e de estudar
apenas com o celular para pesquisa e realização dos trabalhos acadêmicos”.
A maioria dos estudantes reclamou de
excesso de atividades e, por conseguinte, a mestra passou a cobrar atividades
quinzenais ao invés de semanalmente. De fato, se todos os professores cobrarem
atividades semanalmente, no decorrer de um mês, os estudantes teriam feito muitas
atividades que, necessariamente, não garantem aprendizagem. A mudança do
presencial para o remoto, fez com que a mestre optasse por decisões rápidas, e
neste sentido, não foi a mais sensata para o momento. Todavia, ouvir os
discentes quanto à quantidade e qualidade de atividade, certamente, fez
melhorar o processo de ensino para o semestre de 2020.2 em que duas, das três
turmas, continuaram estudando com a mesma docente.
A segunda parcela expressiva de estudantes
apontou dificuldades em fazer atividades textuais que no presencial eram pouco
cobradas. Isto pode ser considerado como positivo, afinal, foram desafiados a
conhecerem novos gêneros textuais acadêmicos e a desenvolver habilidades
audiovisuais que não detinham, o que os tornou competentes para se for preciso,
elaborar materiais para os estudantes da Educação Básica, seja no estágio ou no
exercício da função.
A pandemia da COVID-19 pode durar por
alguns anos e com a rotineira suspensão de aulas mediante o aumento de mortes,
requer que todos os educadores dominem as TICs para levar conhecimento aos seus
estudantes, logo, apreender esta tecnologia tornará os futuros pedagogos ainda
mais competentes nesta nova demanda educacional. “O celular está massivamente presente na rotina dos
indivíduos nesse cenário de pandemia e distanciamento social, e também é
recurso para o ensino a distância.” (SILVA et
al, 2021, p. 6). Na ideias destes autores, podemos perceber
que o uso de celular, da internet e de aplicativos para fazer e
compartilhar recursos audiovisuais é uma tendência educacional tanto na Educação
Básica quanto no Ensino Superior. Logo, todos que pretendem ser professor no
século XXI precisam ser letrados nos recursos tecnológicos.
Apenas um estudante
afirmou não ter tido dificuldade. Diante do todo, é muito pequeno o número de estudantes
satisfeitos com as modificações no processo educativo. Muitos acadêmicos não
participaram efetivamente dos recursos audiovisuais o que dificultou também a
comunicação deles no decorrer do processo educativo. Fato que comprova as ideias
de Morán (2018) de que o uso das TICs é importante para a realização de
metodologias ativas e que, com a pandemia, tornaram-se essenciais.
Perguntou-se
o que poderia melhorar nos processos de ensino e de aprendizagem para o próximo
semestre e os 49 participantes afirmaram:
31
alunos: “- Produzir videoaulas menores, com textos de apoio
mais sucintos e objetivos. Menos atividade com mais tempo para fazê-las”.
02
alunos: “-Criar uma plataforma institucional para a Faceli”
07
alunos: “-O tempo que
dediquei aos estudos”.
02
alunos: “-????”.
07
alunos: “- Amei todas as
atividades, foi edificante, novos conhecimentos. Poderia Ter mais momentos
síncronos com os professores e entre os acadêmicos”.
Com relação ao que pode melhorar, a grande
maioria apontou que as videoaulas no primeiro semestre ficaram longas. Mediante
a paralisação das aulas presenciais, os professores gravaram aulas como puderam
em seus computadores, com a mesma dinâmica do presencial, afinal, pensaram que seria
por pouco tempo. Com o passar dos meses, percebeu-se que a pandemia iria
perdurar mais que o esperado e houve necessidade de adequação do material. Mediante
este dado, as videoaulas foram fragmentadas em vídeos menores. O ensino presencial
permite interações que o momento assíncrono não oferece, por melhor que seja o
vídeo, o cérebro humano tem dificuldade de se manter concentrado em um recurso
audiovisual por muito tempo como afirmam Bergmann e
Sams (2018).
Uma parcela de estudantes tomou para si a
pergunta, pois reconheceu que dedicaram pouco tempo aos estudos, que precisam
de mais momentos com os professore e com seus pares, o que denota imaturidade para
se organizarem sozinhos ou grupos de estudo e de trocas de experiências, o que
pode ser reflexo do ensino tradicional e condicionante que tiveram por muito
tempo na vida estudantil em que o professor determina o que, o como, quando e
onde fazer. A aquisição de autonomia por parte do aluno é um processo demorado
e que deve ser incentivado constantemente (MORÁN, 2018).
Com
relação ao que foi bom no ensino remoto exercido na Faceli em 2020.1, os estudantes
disseram:
25
alunos: “-Atenção dos professores, o atendimento que deram
pelo WhatsApp, a flexibilização no cronograma de entregar algumas atividades,
trabalhos interdisciplinares e aulas videoaulas dos quais tínhamos a explicação
do conteúdo disponível à qualquer momento e lugar”.
08
alunos: “-Não sei”.
04
alunos: “-Conseguir
concluir o período, porém teve nada de bom”.
12
alunos: “-Aprendi a
estudar pelas TICs, seja acessando o AVA ou produzindo e editando vídeos, a
usar aplicativos, a escrever diversos gêneros textuais, das aulas síncronas e
da Avaliação da Aprendizagem”.
Assim como é bom conhecer as fragilidades,
melhor ainda é conhecer os êxitos do processo de ensino para o professor saber
o que manter ou não no processo educativo. Quanto a isto, mais da metade dos estudantes
apontou que foi bom contar com ajuda dos professores pelo WhatsApp para
a elucidação de conteúdos, atividades e flexibilização de datas.
Como afirmam Rodrigues e Teles (2019), o WhatsApp
é a tecnologia mais presente no momento nas mãos dos estudantes, logo,
aderi-lo como ferramenta para os processos de ensino e de aprendizagem é, de
certa forma, incluir o estudante no ensino remoto possibilitando-o a participar
de forma ativa, visto que muitos deles não possuem outro recurso a não ser este
para continuar seus estudos no período pandêmico.
Outra significativa parcela dos
acadêmicos gostou de aprender novos gêneros textuais, de lidar com aplicativos
de criação e edição de vídeos para apresentar seminários, dos momentos
síncronos, das provas e avaliações de aprendizagem realizadas pelo Quis,
entre outras atividades diversificadas
que tiveram nos FTMs. O fato de serem conscientes da importância destes
domínios tecnológicos pode ser um indicativo de que eles perceberam a
importância de ensinar e de aprender com o uso intencional das TICs, como
afirma Morán (2015; 2018). Estes dados sinalizam que práticas de interação,
perguntas relâmpagos para serem respondidas no chat, entre outras
metodologias ativas utilizadas, foram proveitosas para a aprendizagem e,
portanto, servem de estímulo para continuar nos próximos semestres.
Todavia, neste item é preocupante o fato de
12 estudantes declararem que não foi bom ou que não sabem opinar. À vista
disso, se deduz insatisfação com o ensino remoto. Dado que serve de termômetro para o docente perceber que o
planejamento deve ser refeito, mas também compreender o outro lado do processo
educativo: o fazer do estudante.
Alguns deles começaram a trabalhar no período em que estudavam, pois com a
pandemia, familiares perderam emprego e tiveram que ajudar nas despesas de
casa. Outros moram no interior, em locais onde o sinal de internet na
cidade de Linhares-ES é ruim, o que pode ter dificultado acompanhar o processo
de ensino feito com uso intensivo de tecnologias.
Ademais, alguns destes acadêmicos que não
gostaram do ensino remoto também fazem parte do grupo que está acostumado ao
ensino presencial com aulas expositivas dialogadas. Ao mudar de metodologia
abruptamente, eles encontraram dificuldade de se adaptar. Todos estes desafios
enfrentados pelos discentes não validam como excelente o processo de ensino,
mas sinalizam que o êxito de 100% do processo não é garantido apenas pelo
professor como apontam Oliveira; Silva e Silva, (2020).
Estes foram os êxitos e
desfechos obtidos nos FTMs em 2020.1 Como afirmam Oliveira, Silva e Silva
(2020) a ação emergencial seguida da reflexão pode repercutir em melhores ações
futuras e desta forma aperfeiçoar a práxis de ensino, e de fato, esses resultados
auxiliaram a melhorar o ensino para 2020.2 com videoaulas mais sucintas e com
menos atividade, porém mais significativa visando melhor ensino e aprendizagem.
Considerações
Finais
Mediante os resultados e discussões
estabelecidas neste estudo, entendemos que conseguimos atingir o objetivo de
relatar experiências e de estabelecer reflexões importantes acerca do processo
de ensino e aprendizagem durante a pandemia; as experiências descritas sinalizaram
bem a função de cada sujeito na práxis educativa, inclusive do Estado.
Na enquete realizada com 49 acadêmicos do
Curso de Pedagogia, percebeu-se que muitos não conseguiram reservar tempo para
estudar em casa, alguns tiveram que trabalhar para ajudar no sustento familiar
e muitos não tiveram acesso satisfatório à internet para acompanhar o ensino on-line;
logo consideramos que estes foram os principais empecilhos para aquisição de
boa aprendizagem durante a pandemia e que COVID-19 configurou muitos problemas
no âmbito educacional tanto no Ensino Superior quanto na Educação Básica, pois
esses dados não refletem apenas a Faceli, mas também outras instituições de
ensino no Brasil.
Todavia, como êxitos, podemos considerar
que a exclusão digital de algumas crianças da Educação Infantil de Linhares-ES
foi amenizada com vídeos e atividades desenvolvidas pelos futuros Pedagogos sob
orientação das mestras responsáveis pelas disciplinas de Estágio e Atividade
Prática V. Este feito foi válido para a aprendizagem dos acadêmicos, pois
pensaram em novas possibilidades educacionais perante a adversidade social
imposta pelo coronavírus e, principalmente, para as crianças e familiares da
Educação Básica que foram assistidos e orientados em como dar prosseguimento no
processo de ensino de modo que a criança não ficasse estagnada,
possibilitando-a progredir na aquisição de habilidades motoras e cognitivas.
Ao que se refere às disciplinas de FTMs, também
houve êxitos, pois os acadêmicos progrediram muito, quanto à aquisição de competências
digitais. Ocorreu uso estratégico das TICs e isso foi imprescindível para
desenvolver Aprendizagens Ativas em que eles criaram autonomia, dinamismo e
conhecimento. Desenvolveram raciocínios e habilidades que, dificilmente,
adquiririam nas aulas tradicionais em que se recebe de modo passivo e cômodo o
conhecimento.
Ficou nítido que ocorreram aprendizagens
para docentes e discentes. Ambos desenvolveram habilidades digitais, além de
saberes práticos que diferenciam a aula presencial da aula remota. Embora nem
todos os estudantes tenham conseguido se adaptar à nova metodologia de ensino,
houve significativo número deles que conseguiram aprender, o que contribuiu
para ampliar o conhecimento com novos gêneros textuais e também em relação aos
recursos audiovisuais.
Contudo, alguns indivíduos se adaptam mais
rápido, outros mais devagar, mas a tendência é que todos se adequem ao novo normal e aprendam a desenvolver
habilidades para aprender e para ensinar com uso ativo das TICs e de materiais
impressos sucintos, objetivos, ilustrativos e atrativos para que o aluno se
afinize com a leitura e aprenda de forma autônoma. Cabe às autoridades
brasileiras resolverem o problema de inclusão digital dos alunos que não têm
condições de fazê-lo, visto que a tecnologia é urgente e necessária em diversas
modalidades de ensino antes, durante, e com certeza, também será após a
pandemia.
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Recebido
em: 01/07/21
Aprovado
em: 08/09/21
[1] Doutoranda Em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde-UFSM,
licenciada em Ciências Biológicas, professora de Ciências da Rede Municipal de
ensino e titular de Prática de Ensino no Curso de Pedagogia da Faceli. E-mail: joana.freitas@acad.ufsm.br ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1547-1505
[2] Pedagoga da Rede Municipal de Ensino e titular de Prática de Ensino de
Educação Infantil no Curso de Pedagogia da Faceli. E-mail: marcia.valle@faceli.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1610-0036
[3] Pedagoga da Rede Municipal de Ensino e titular na área de Didática e
Estágio Supervisionado no Curso de Pedagogia da Faceli. E-mail: valeria.vieira@faceli.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5306-5583
[4] Novo normal, de acordo com Leal (2021) é a expressão criada pelos meios de
comunicação de massa e profissionais da saúde para especificar mudanças nos
costumes e nos comportamentos culturais da sociedade brasileira para controlar
a disseminação do novo coronavírus, bem como novos meios de comunicação através
da tecnologia que tendem a ficar após a pandemia como, por exemplo: ao invés de
cumprimentar com abraço e beijo optar por leves toques de cotovelos ou de mão fechada;
uso de salas virtuais para conversas formais e informais tanto para uso escolar
quanto profissional e familiar, drive
tour (ir a ambientes e não sair do carro) para tomar vacina, coletar
exames, assistir shows, exposições etc.
[5]
Ensino Remoto na concepção de
Santos (2020) é
uma forma de propagar os conhecimentos em caráter excepcional e emergencial
devido à pandemia do coronavírus, que ocorre através de apostilas ou por
encontros virtuais que visam manter a rotina de estudo e o processo de ensino e
aprendizagem.
[6] Momentos ou atividades assíncrona, que de
acordo com Santos (2020) são atividades e estudos realizados pelos estudantes
sob orientação do professor no tempo (cronos)
e espaço externos aos ambientes formais de ensino onde julgam
conveniente para criar ou recriar a mensagem deixada por
seu tutor. As atividades
síncronas são comunicações estabelecidas em tempo real e em
local específico da web, que embora não democratize a participação de todos
devido ao delay (atraso) e a falhas de conexão com a internet, possibilita troca de ideias e
realização de dinâmicas entre os sujeitos.
[7] Novo coronavírus de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) é o
nome dado ao vírus da família (SARS-CoV-2), causador da doença infecciosa denominada
de COVID-19, que tem
como principais sintomas
febre, cansaço e tosse seca (BRASIL-UNA-SUS, 2020).