Tecnologias
e trabalho remoto em tempos de pandemia: concepções, desafios e perspectivas de
professores que ensinam matemática
Technologies
and remote work in pandemic times: conceptions, challenges and perspectives of
teachers who teach mathematics
Tecnologías y trabajo a distancia en tiempos de pandemia:
concepciones, desafíos y perspectivas de los profesores que enseñan matemáticas
Cristina de Jesus Teixeira[1]
Weberson Campos Ferreira[2]
Joeanne Neves Fraz[3]
Geraldo Eustáquio Moreira[4]
Resumo
Este artigo teve como objetivo
verificar se as ferramentas tecnológicas utilizadas no desenvolvimento do
ensino remoto pelos/as professores/as que ensinam matemática têm se mostrado
adequadas frente às necessidades atuais e quais as dificuldades em relação à
tecnologia despendida no processo de ensino e aprendizagem. A pesquisa
qualitativa de cunho exploratório teve como participantes 42 professores/as de
escolas públicas do Distrito Federal que responderam a um questionário contendo
quatro perguntas. Os resultados nos mostram que os/as docentes apontam
dificuldades de ordem técnica, pedagógica e social, mas reconhecem as
possibilidades do uso de tecnologias digitais de informação e comunicação em
suas aulas e a necessidade da formação continuada.
Palavras-chave:
Pandemia; Ensino Remoto; Tecnologias; Professores que ensinam matemática.
Abstract
This article
aimed to verify whether the technological tools used in the development of
remote teaching by mathematics teachers have been adequate to the current needs
and what are the difficulties regarding the technology used in the teaching and
learning process. The qualitative research with exploratory design had as
participants 42 teachers from public schools in the Federal District who
answered an open-ended questionnaire consisting of four questions. The results
show us that teachers point out technical, pedagogical and social difficulties,
but recognize the possibilities of using digital information and communication
technologies and the need for continuing education.
Keywords: Pandemic;
Remote learning; Technologies; Teachers who teach mathematics.
Resumen
Este artículo tuvo como objetivo
verificar si las herramientas tecnológicas utilizadas en el desarrollo de la
enseñanza a distancia por parte de los profesores que enseñan matemáticas han
sido adecuadas a las necesidades actuales y cuáles son las dificultades en
cuanto a la tecnología utilizada en el proceso de la enseñanza y aprendizaje.
La investigación cualitativa de carácter exploratorio tuvo como participantes a
42 profesores de escuelas públicas del Distrito Federal que respondieron a un
cuestionario abierto que constaba de cuatro preguntas. Los resultados nos
muestran que los profesores señalan dificultades técnicas, pedagógicas y
sociales, pero reconocen las posibilidades de utilizar las tecnologías
digitales de la información y la comunicación en sus clases y la necesidad de
una formación continua.
Palabras clave: Pandemia;
Aprendizaje a distancia; Tecnologías; Profesores que enseñan matemáticas.
Introdução
Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS)
decretou a pandemia da Covid-19 em março de 2020, o ritmo do mundo foi
alterado. As autoridades sanitárias rapidamente indicaram a prática do
distanciamento social e a suspensão de atividades não essenciais como primeiras
medidas no enfrentamento à pandemia. Em meio a um cenário de incertezas, de
divulgação de informações equivocadas e de disseminação de fake news, tais medidas ganharam diferentes configurações em cada
país e foram redimensionadas pela (in)capacidade de articulação e coordenação
política dos seus respectivos líderes governamentais.
Paulatinamente, os países foram paralisando e
reinventando as atividades em diferentes áreas (CUNHA; SILVA; SILVA, 2020).
Diversos profissionais passaram a desenvolver seus trabalhos de forma remota,
dentre eles, os professores. Com as atividades escolares presenciais suspensas
e a necessidade da manutenção do distanciamento social por tempo incerto era
preciso repensar, de forma rápida, numa alternativa que permitisse a
continuidade do processo de ensino e aprendizagem de modo não presencial.
Assim, neste contexto pandêmico foi adotado em todo o país o ensino remoto
mediado por tecnologias.
Essa mudança repentina no trabalho docente, bem
como suas consequências e perspectivas para o período pós-pandêmico, tem
motivado novas reconfigurações de práticas e ações pedagógicas (TEIXEIRA et al., 2021). Para isso, esses
professores e professoras que, historicamente, têm enfrentado um processo de precarização
do seu trabalho, com formação inicial cada vez mais aligeirada, passaram a
utilizar os recursos tecnológicos, que, para muitos, até então, não eram
constantes na prática pedagógica. Nesse cenário, os professores e professoras
de matemática foram "[...] desafiados a quebrar o paradigma de aulas
presenciais e nos reinventarmos nas proposições de ensino e no formato de seus
desenvolvimentos” (REFFATTI et al., 2021, p. 56).
Várias circunstâncias precisam ser consideradas
na organização do trabalho pedagógico da matemática, dentre elas, o
planejamento e seleção de situações que permitam a transposição didática
adequada da linguagem matemática para o público de estudantes, de modo que na
pandemia, o “[...] fazer pedagógico precisou adaptar-se às novas condições de
ensino de forma a garantir a aprendizagem'' (REFFATTI et al.,
2021, p. 53) dessa disciplina.
Consideramos
que, no contexto brasileiro, a simples implementação da transição do ensino
presencial para o ensino remoto não tem, por si só, condições de amparar o
processo de ensino e aprendizagem da matemática, pois, mesmo nos deparando com
um leque de possibilidades, estaremos diante de grandes desafios (CORRÊA;
BRANDEMBERG, 2021).
Mesmo assim, neste contexto, professores e
estudantes tiveram que buscar novos meios de construção dos processos de ensino
e aprendizagem, meios estes que apresentam inúmeras dificuldades, sejam
pedagógicas e/ou estruturais, e que se tornam obstáculos ainda maiores para
vencer as dificuldades de aprendizagem da matemática (MENDES; DA LUZ; PEREIRA,
2021). Como afirmam Moraes, Costa e Passos (2021), a transição do ensino
presencial para o ensino remoto preocupa os professores/as, em particular, em
relação à matemática cuja dificuldade de aprendizagem de muitos alunos e a
dificuldade em utilizar metodologias diferenciadas por muitos professores já
eram uma realidade no ensino presencial e se intensificaram no modelo remoto.
Diante do exposto, o objetivo deste artigo é
verificar se as ferramentas tecnológicas utilizadas no desenvolvimento do
ensino remoto pelos professores/as que ensinam matemática têm se mostrado
adequadas frente às necessidades atuais e quais as dificuldades em relação à
tecnologia despendida no processo de ensino e aprendizagem.
Cenário
Em razão da Pandemia da Covid-19,
instituições de ensino de diferentes níveis e modalidades em todo o mundo
suspenderam suas aulas e reinventaram suas atividades, formatos e regimes. No
Brasil, com o Parecer nº 5, aprovado em 28 de abril de 2020, o Conselho
Nacional de Educação (CNE) reorganizou o Calendário Escolar e possibilitou o
cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária
mínima anual (BRASIL, 2020). Entretanto, de acordo com o documento,
No
Brasil, as aulas presenciais estão suspensas em todo o território nacional e
essa situação, além de imprevisível, deverá seguir ritmos diferenciados nos
diferentes Estados e Municípios, a depender da extensão e intensidade da
contaminação pela COVID-19 (BRASIL, 2020, p. 3).
Por isso, devem-se levar em conta as
diferenças regionais de um país de grandes dimensões como o Brasil, sendo
importante considerarmos as fragilidades e desigualdades estruturais, fatores
socioeconômicos e étnico-raciais da sociedade brasileira que agravam o cenário
decorrente da pandemia no país, refletindo com mais intensidade na educação.
Segundo o Parecer CNE nº 5/2020,
Todos
estes aspectos demandam um olhar cuidadoso para as propostas de garantia dos
direitos e objetivos de aprendizagem neste momento a fim de minimizar os
impactos da pandemia na educação. Tal situação leva a um desafio significativo
para todas as instituições ou redes de ensino de educação básica e ensino
superior do Brasil, em particular quanto à forma como o calendário escolar
deverá ser reorganizado. É necessário considerar propostas que não aumentem a
desigualdade ao mesmo tempo em que utilizem a oportunidade trazida por novas
tecnologias digitais de informação e comunicação para criar formas de
diminuição das desigualdades de aprendizado (BRASIL, 2020, p. 3).
As tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) são parte do cotidiano vivenciado
pelo homem e, com a pandemia da Covid-19, adentraram nas escolas como condição
para que o processo de ensino e aprendizagem não fosse interrompido. De acordo
com Costa et al. (2020b, p.
3), estes recursos
tecnológicos permitiram que as aulas remotas fossem ministradas durante a
pandemia da Covid-19, devido a “[...] quantidade de ferramentas digitais que
tornam o processo de aprendizagem mais significativo”. Em meio a pandemia,
professores e professoras aprendem a fazer uso desses instrumentos tecnológicos,
com seu universo de possibilidades no exercício da prática.
Cunha, Silva e Silva (2020) apresentam o rol de
estratégias de ensino que as secretarias de educação dos estados brasileiros
dispuseram para dar continuidade às aulas, quais sejam: aulas online ao
vivo ou gravadas (vídeo aulas) transmitidas via TV aberta; rádio; redes sociais
como Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube; páginas/portais eletrônicos das
secretarias de educação; ambientes virtuais de aprendizagem; como o Google Classroom e o Google Meet; aplicativos;
disponibilização de materiais digitais e atividades variadas em redes.
A imposição do distanciamento social e a
suspensão das aulas separou fisicamente o professor dos alunos, porém, esse
aparato tecnológico oportuniza uma reconfiguração da interação professor-aluno,
reaproximando educador e educando de modo que “[...] sejam alcançados
resultados positivos, em relação ao rendimento dos alunos e eles consigam sanar
as dificuldades de aprendizagem que forem encontradas” (COSTA et al., 2020b, p. 7). Assim, trazendo também “[...] possibilidades de apoio ao professor e
de interação com e entre os alunos” (MORAN, 2004, p. 2). Vilaça e Araújo (2016,
p. 165) alertam que, “[...] ao falar de educação escolar e o uso de novas
tecnologias deve-se levar em conta a relação que há entre comunidade, alunos e
professores por meio dessas ferramentas, enfatizando que seu uso não é
indiferente às suas vivências e saberes construídos”.
O Conselho de Educação do Distrito
Federal - CEDF, em consonância com as recomendações deliberadas pelo Governo
Federal, aprovou o Parecer nº 33, em 24 de março de 2020. Este determina que,
Neste
contexto de “emergência de saúde pública de importância internacional”, este
Conselho de Educação entende como possível ampliar para toda a Educação Básica
o uso das TICs com intencionalidade pedagógica e acompanhadas e supervisionadas
pelo docente em turmas separadamente, respeitados os limites de acessos às diversas
tecnologias disponíveis às instituições educacionais e de seus respectivos
estudantes (CEDF, 2020, p. 6).
E, diante desse quadro, a Secretaria de Estado
Educação do Distrito Federal - SEEDF se organizou disponibilizando, como Cunha,
Silva e Silva (2020, p. 30) citaram,
[...]
teleaulas e vídeos educativos para todas as etapas e modalidades, além de
conteúdos para a formação de professores, pelas TVs Justiça e Gênesis. Todos os
vídeos estão disponíveis no canal do YouTube da SEEDF. Estudantes do Ensino
Médio têm conteúdos para todos os componentes curriculares por meio da
plataforma Google Sala de Aula. A partir do dia 29 de junho, o trabalho escolar
deu-se por aulas em plataforma e por televisão e material impresso aos
estudantes que não têm internet. Aos estudantes de baixa renda, o governo
anuncia que irá fornecer internet gratuita para acesso à plataforma.
Vale ressaltar que todas essas alterações
tomaram lugar em meio ao processo em que os sistemas de ensino adequavam seus
currículos em atendimento à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e de
implementação do novo Ensino Médio, tendo em vista que em todas as unidades
federativas, escolas-piloto já funcionavam nessa nova configuração para esta
etapa de ensino. A reforma do Ensino Médio, ao propor a ampliação da carga
horária e a introdução dos itinerários formativos, prevê a possibilidade de
oferta de disciplinas à distância, podendo representar até 20% da carga horária
para o Ensino Médio diurno e ampliado até o limite de 30% para o Ensino Médio
noturno, preferencialmente para a parte flexível dos itinerários formativos. Já
para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) esse percentual pode chegar a 80% da
carga horária total (BRASIL, 2018).
Dessa forma, o ensino remoto no período de
pandemia pode, inclusive, apontar caminhos, possibilidades e entraves na oferta
de disciplinas nesse formato. Posto que, com a migração para as atividades
educacionais em rede (online) e
conectadas, estes professores e professoras, ou profissionais da educação como
denominam Couto, Couto e Cruz (2020, p. 209), “[...] produzem e distribuem
conteúdos, acompanham, orientam, avaliam e estimulam seus alunos. Muitos estão
repensando e recriando metodologias ativas mais sedutoras e desenvolvendo
ambientes digitais mais amigáveis e com interações crescentes”.
Com relação às plataformas de interação, Reffatti et al.
(2021, p. 59) destacam “[...] a importância da integração e da
participação, visto que integrar-se em um grupo é uma possibilidade de comunicação e consequentemente de
aprendizagem”, principalmente na/para a disciplina matemática, por seu caráter
sociocultural e político, assim como do professor de matemática, pois, segundo
Vieira e Moreira (2018, p. 555), “[...] a
matemática tem a
função de “formatar a sociedade”, isso significa que suas implicações
são importantes para o desenvolvimento e a organização desta sociedade, por
meio, por exemplo, da formação da
tecnologia”.
Tecnologias
e o ensino de matemática
A partir da década de 1990, as avaliações em
larga escala ganharam um lugar de centralidade no processo educacional e seus
resultados passaram a ter grande influência na condução das políticas
educacionais. Sendo o desempenho dos estudantes em matemática um dos focos
dessas avaliações, dentre os múltiplos fatores que compõem o processo de ensino
e aprendizagem dessa disciplina, a formação do professor tem papel fundamental.
Sobre este aspecto, Moreira (2019, p. 45) pontua que,
[...]
o inflamado discurso sobre a necessidade de dialogar sobre a formação do
professor que ensina Matemática, em qualquer nível de ensino, não é novo e,
além disso, requer abertura e necessidade de experimentar novas formas de
ensinar e aprender, desconstruindo práticas assentadas em velhos valores
pedagógicos.
O autor ressalta, ainda, o papel das
tendências em Educação Matemática, com destaque para a Etnomatemática, as
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a Modelagem Matemática, a
Resolução de Problemas, a História da Matemática e a Inclusão em Aulas de
Matemática como forma de superação de concepções arraigadas no modelo
tradicional de ensino e que pouco dialogam com a sociedade atual.
Estas tendências não representam uma panaceia,
mas, ao se apropriar desse conhecimento, professores e professoras que ensinam
matemática têm a possibilidade de criar na sala de aula um ambiente que
favoreça as aprendizagens, sobretudo quando se considera uma sociedade global
com demandas que exigem mudanças cada vez mais rápidas e que experimenta outros
tempos e espaços de aprendizagem.
De acordo com Ponte (2000), as TDIC representam artefatos que estabelecem um novo tipo de sociedade (a sociedade da
informação), das quais diversos setores da economia tornaram-se dependentes e
que revolucionaram atividades e profissões variadas cujos efeitos são
igualmente diversos. Por um lado, otimizam processos, aumentam a produtividade
e reduzem acidentes. Por outro, aumentam o controle sobre o trabalhador e
exigem dele atualização constante. Ainda, de acordo com Freitas et al. (2021, p. 4) “[...] existem as
dificuldades derivadas do uso desses recursos, questões como equipamentos e
materiais em boas condições” e acessibilidade dos diversos públicos de
estudantes.
Na área da Educação, as TDIC agregam qualidade, porém, “[...] são necessários
maiores investimentos na infraestrutura e na compra de recursos tecnológicos
para que professores e alunos possam utilizar esses recursos no processo de
ensino e aprendizagem” (BRANCO; ADRIANO; ZANATTA, 2020, p. 334). Investimentos
necessários também na formação dos professores, pois
Quando
pensamos em formação continuada de professores para a utilização de tecnologias
para o ensino, duas ideias surgem: formar um docente que utilize tecnologias em
suas práticas e que possa se formar por meio de tecnologias. [...] quando a aprendizagem
ocorre em ambientes virtuais, outros tipos de relação com os saberes surgem e
temos que construir significados para as informações contidas nesses ambientes de
aprendizagem (ALMOULOUD, 2019, p. 171).
Assim, evidencia-se a necessidade de se
repensar e investir mais na formação inicial e na formação continuada dos
docentes (MORAES; COSTA; PASSOS, 2021), para que possam lidar com as TDIC, com as novas mídias, com as exigências desse contexto
pandêmico e, principalmente, com o perfil de alunos que mudam constantemente,
tal qual, as tecnologias (BRANCO; ADRIANO; ZANATTA, 2020). Segundo Caetano
(2015, p. 307), a integração da tecnologia na educação se tornará realidade
quando “[...] os professores forem reais atores da mudança e estiverem formados
técnica e pedagogicamente”.
Outro ponto destacado por Ponte (2000) é a
alteração na relação professor-aluno provocada pelo uso das TDIC, sobretudo,
quando seu uso é intensificado. Mais do que aprender a utilizar equipamentos e softwares, é preciso estar atento às
novidades, de modo que a tarefa mais difícil reside em encontrar formas
realmente eficientes de integrar as TDIC no processo de ensino e aprendizagem,
demandando constante aprendizado por parte do professor (MOREIRA; VIEIRA, 2020).
No contexto do ensino remoto, aproximar os
conteúdos escolares das experiências com a tecnologia trazidas pelos estudantes
pode representar uma alternativa enriquecedora ao trabalho docente. Assim,
destacam-se o uso dos jogos digitais no ensino a distância (ALVES, 2009) e da
gamificação na Educação (ALVES; MINHO; DINIZ, 2014). Em tempos de pandemia, Costa et al. (2020a, p. 79801) afirmam que “[...] a gamificação possibilitou ao professor utilizar uma
metodologia ativa, onde o aluno sai da passividade e torna-se agente e
protagonista de suas ações [...]”.
A mediação dos jogos/games na educação a
distância ou mesmo presencial, com sua diversidade de alternativas pode
promover uma aprendizagem dinâmica e interativa que desafia cognitivamente os
estudantes, por meio da simulação, a solucionar problemas, decifrar enigmas,
conhecer histórias (ALVES, 2009; REFFATTI
et al., 2021).
Mendes, Da Luz e Pereira (2021) ressaltam que,
em relação ao desenvolvimento dos conteúdos da disciplina matemática, as
dificuldades foram potencializadas pelo processo do ensino remoto. Diversos
aspectos foram vistos como entraves ao processo de ensino e aprendizagem dessa
disciplina como, por exemplo, a impossibilidade em esclarecer dúvidas devido a
abordagem de aulas remotas síncronas, em tempo real, em um primeiro momento,
dificuldades ligadas aos próprios alunos, como concentração nas aulas,
motivação, dificuldades em relação à aprendizagem e, principalmente, as
dificuldades de utilização das tecnologias por estudantes e professores
(CORRÊA; BRANDEMBERG, 2021; MENDES; DA LUZ; PEREIRA, 2021; TEIXEIRA et al., 2021).
Nesse sentido, esta pesquisa se propõe a
abordar o uso das tecnologias
no trabalho remoto, as concepções, os desafios e as perspectivas dos/as
professores/as que ensinam matemática com relação à utilização desses recursos
tecnológicos nesse contexto de pandemia.
Percurso
metodológico
A
temática dessa pesquisa se assenta na utilização, adequação e dificuldades frente à utilização
das ferramentas tecnológicas
no desenvolvimento do ensino remoto pelos professores e professoras que ensinam
matemática. Desse modo, circunscreve-se a questão de pesquisa: As ferramentas tecnológicas utilizadas no
desenvolvimento do ensino remoto têm se mostrado adequadas frente às
necessidades do processo de ensino? Para respondê-la, o objetivo é
verificar se as ferramentas tecnológicas utilizadas no desenvolvimento do
ensino remoto pelos professores/as que ensinam matemática têm se mostrado
adequadas frente às necessidades atuais e quais as dificuldades em relação à
tecnologia despendida no processo de ensino e aprendizagem.
O
percurso metodológico utilizado ancorou-se em metodologia de abordagem
qualitativa e exploratória (RICHARDSON et
al., 2007), que prioriza a compreensão dos fatos, com análise de conteúdo de quatro
perguntas, seguindo as etapas de pré-análise, exploração do material e o
tratamento dos resultados, seguido pela inferência e interpretação, como
dispostas por Bardin (2016).
O instrumento de pesquisa teve representatividade de todas as Coordenações
Regionais de Ensino (CRE) por meio de três respondentes, sendo um(a)
professor(a) representante de cada etapa da Educação Básica, resultando em 42
questionários respondidos por professor(a)s que ensinam matemática em escolas
públicas do Distrito Federal.
As quatro questões elaboradas para o objetivo
da pesquisa foram: (i) Você tem utilizado ferramentas digitais para desenvolver
aulas por meio do Ensino Remoto? Quais? (ii) Elenque cinco dificuldades
em relação à tecnologia despendida no processo de ensino e aprendizagem e na
organização do trabalho pedagógico no Ensino Remoto, (iii) Qual o
potencial dessas ferramentas/recursos tecnológicos para o processo de ensino e
aprendizagem? (iv) Elenque cinco ferramentas/recursos tecnológicos do
Ensino Remoto que poderão ser utilizadas no ensino presencial.
O tratamento dos dados foi organizado a partir
da seleção e disposição de fragmentos representativos das respostas dos/as
professores/as às perguntas que versavam sobre utilização das interfaces
tecnológicas no ensino remoto. Esse tratamento resultou em uma estrutura de
agregação das informações a partir das verbalizações, que foram dispostas em
ordem decrescente de recorrência das respostas dos docentes, de forma que o
material foi submetido à interpretação, à redução e ordenado em quatro quadros
viabilizando as análises e discussões.
Resultados,
análises e discussões
No Quadro 1, a seguir, estão dispostas as
ferramentas tecnológicas mencionadas pelos/as professores/as como as mais
utilizadas no processo de ensino remoto. Para a pergunta sobre a utilização dos
recursos digitais para desenvolver as aulas por meio do Ensino Remoto,
obteve-se em média duas citações por docente.
Quadro
1 -
Ferramentas/recursos tecnológicas/os utilizadas/os pelos docentes |
|
Ferramenta/recurso tecnológica/o |
R* |
Google Sala de Aula, WhatsApp e WhatsApp
business, vídeo aulas |
32 |
Google Meet, Power Point |
15 |
Gamificação, jogos, animação, Wordwall, Quiz |
13 |
Jamboard, mesa digitalizadora,
Canva, Inshot, YouTube, filmes |
13 |
Formulário |
11 |
Softwares de edição de vídeo e de texto, gravador de telas |
4 |
Geogebra |
2 |
Redes sociais |
2 |
Material escrito digital (apostilas e
livros). |
2 |
Doc do Google |
1 |
Moodle |
1 |
*R –
Recorrência da verbalização nas respostas dos docentes. Fonte:
Dos autores (2021). |
|
Dentre
as 96 referências às ferramentas utilizadas, observa-se no Quadro 1 a
predominância (53 respostas) relativas aos meios pelos quais os professores/as
compartilham os materiais de estudo e realizam contato com os estudantes. A
SEEDF criou uma plataforma oficial de estudos para o período de ensino remoto
disponível para toda a rede de ensino público do Distrito Federal, nomeadamente
“Escola em Casa DF” (DISTRITO FEDERAL, 2020), utilizada por meio do Google Sala
de Aula e de acesso exclusivo para professores e estudantes através do e-mail institucional.
Dessa
forma, todos os recursos do Google
Workspace (Agenda, Drive,
Documentos, Formulários, Jamboard etc.)
podem ser integrados à plataforma na elaboração e realização das aulas remotas.
As salas de aula virtuais na referida plataforma permitem o compartilhamento e
organização de materiais de estudo como arquivos de texto, vídeo e imagem e o
acompanhamento do desempenho dos estudantes por meio das atividades propostas.
Para
os estudantes com dificuldades de acesso à plataforma foi disponibilizada a
oferta de material impresso com recepção/entrega programada pela escola de
origem do estudante (CEDF,
2020). No entanto, muitos professores optaram por compartilhar o
material por meio de aplicativos para smartphones,
dessa forma, o aplicativo WhatsApp
tem se mostrado como importante ferramenta no período do ensino remoto, em
particular, no sentido de estabelecer contato mais próximo com esses estudantes
que, eventualmente, estão em situação de vulnerabilidade.
Na
sequência, podemos observar que as ferramentas mencionadas se referem a softwares, sites da internet e
atividades gamificadas de modo a tornar o ambiente online de aprendizagem mais dinâmico e atraente (CORRÊA; BRANDEMBERG, 2021).
A gamificação confirma tendência no ensino remoto. Esse tipo de recurso tem se
mostrado adequado para despertar o interesse e envolver os estudantes (REFFATTI et al., 2021), visto que o universo semiótico dos jogos/games com suas práticas e utilização de
diferentes modalidades de linguagens tornaram-se espaços e meios de
aprendizagem, possibilitam a construção de múltiplos significados para os
diferentes conteúdos disciplinares, além de tirarem o aluno da passividade e
torná-lo protagonista de seu aprendizado (ALVES, 2009; COSTA et al., 2020b).
Em alguns casos, parece haver confusão entre o
recurso tecnológico utilizado para preparar o material da aula e a ferramenta
de suporte para desenvolvimento do trabalho remoto como, por exemplo, a
referência aos softwares de edição de
vídeo, de texto e gravador de telas. Outros menos referenciados podem ainda ter
pouca visibilidade devido à dificuldade de utilização por aparelho celular,
como é o caso do Google Docs (CUNHA;
SILVA; SILVA, 2020; CORRÊA; BRANDEMBERG, 2021).
O conteúdo relativo à questão sobre dificuldades encontradas em
relação à tecnologia despendida no processo de ensino e aprendizagem e na
organização do trabalho pedagógico no ensino remoto, resultou na estruturação
do Quadro 2, com verbalizações representativas das dificuldades expostas pelos
docentes no processo de ensino remoto.
Quadro
2 - Dificuldades em relação à tecnologia despendida no processo de ensino e
aprendizagem no ensino remoto |
|
Dificuldades em relação à tecnologia |
R* |
Falta de preparo adequado e falta
de formação continuada voltada para a utilização das ferramentas digitais. |
23 |
Falta de apoio/dificuldade da
família para acompanhar os alunos em casa, desmotivação e desinteresse. |
20 |
Excessos burocráticos da rede
pública em relação a registros, acúmulo de trabalho para o professor,
questões administrativas sobrepondo às questões pedagógicas. |
20 |
Falta de acesso e qualidade da
internet da diversidade de perfis socioeconômicos acolhidos pela rede
pública. Faltam aparelhos eletrônicos para os estudantes. |
20 |
Dificuldade de articulação e
expressão dos alunos no ambiente virtual, desconhecimento de informática por
parte dos alunos e pais, resistência em acessar a plataforma Google
Classroom. |
16 |
Falta de know how e expertise da
Secretaria de Educação para guiar de forma segura e eficiente a pasta sob o
ponto de vista digital-pedagógico. |
9 |
Falta da troca e mediação direta
entre professor e aluno, tempo reduzido para encontros com alunos. |
9 |
Dificuldade para escrever frações,
expoentes, símbolos matemáticos, equações e fórmulas. Dificuldade de
acompanhamento da produção do estudante em tempo real, isto é, na resolução
de tarefas. |
8 |
Incerteza sobre o desenvolvimento
da aprendizagem dos estudantes. |
3 |
Conteúdos impostos sem considerar
a realidade de cada escola e seus estudantes. |
1 |
Falta de acesso às literaturas de
maneira digital por conta de direitos autorais e editoriais. |
1 |
*R – Recorrência da
verbalização nas respostas dos docentes. Fonte: Dos autores
(2021). |
|
As
dificuldades, em relação à tecnologia despendida no processo de ensino e
aprendizagem e na organização do trabalho pedagógico no ensino remoto,
relatadas pelos docentes, estão agrupadas de acordo com a origem a que estão
relacionadas. De modo geral, se assentam na falta de preparo para lidar com os
recursos tecnológicos, falta de dispositivo e burocratização (CORRÊA;
BRANDEMBERG, 2021; FREITAS et al., 2021). Na percepção dos
docentes essas dificuldades estão vinculadas ao professor, ao estudante e sua
família e à instituição.
Como
dificuldade associada ao professor, evidenciou-se a falta de preparo e formação
continuada voltada para a utilização das ferramentas digitais que despontaram
como citação recorrente entre os docentes. A crise do capital, que precariza as
relações no mundo do trabalho e aumenta o desemprego estrutural, assume caráter
específico quando se trata do trabalho docente uma vez que as condições
ofertadas para o desenvolvimento do seu trabalho têm implicações diretas sobre
a qualidade do ensino ofertado aos estudantes, constatação que ficou ainda mais
evidente no período de pandemia (MOREIRA; VIEIRA, 2020; SOUZA et al., 2021).
Em
seguida, surge a utilização da linguagem matemática no trabalho remoto, que
teve destaque entre as dificuldades citadas pelos docentes. Para Moraes, Costa e Passos (2021,
p. 10) o momento vivenciado pelos professores/as no ensino remoto é “[...] um
convite para repensar a matemática (ou matemáticas); as tecnologias enquanto
aliadas e não adversárias, a Linguagem Matemática e o uso das plataformas
digitais para o ensino remoto da matemática”. De fato, o professor acostumado
com a sala de aula física e o uso do quadro-negro não encontra dificuldade com
o uso de símbolos para representar frações, resolver equações e outros elementos
matemáticos. Ao transpor essas ações para o ambiente virtual, em aulas
síncronas, por exemplo, é necessário o conhecimento de interfaces específicas e
que, muitas vezes, proporcionam uma visualização mais dinâmica desses elementos
já que podem ser adicionados recursos como cores e movimentos.
Dentre
as dificuldades associadas ao estudante, foi ressaltada a falta de acesso a
aparelhos eletrônicos e a qualidade da internet da diversidade de perfis
socioeconômicos acolhidos pela rede pública (CORRÊA; BRANDEMBERG, 2021). Assim, observa-se que
“[...] se os avanços tecnológicos ocorrem de maneira vertiginosa, por outro
lado os avanços sociais, que possam permitir o acesso de todos às tecnologias
digitais não são tão céleres como deveriam” (BRANCO; ADRIANO; ZANATTA, 2020, p.
346).
Outro
ponto mencionado pelos participantes está relacionado ao envolvimento da
família no processo de adequação ao ensino remoto. Dentre as consequências
imediatas da pandemia, destacamos o aumento do desemprego provocado pela
suspensão prolongada de atividades em diversos setores da economia, o que levou
muitas famílias a enfrentarem situação de vulnerabilidade e acirrou a situação
daquelas que já enfrentavam essa situação mesmo antes da pandemia. Dessa forma,
uma parcela significativa dos estudantes enfrenta dificuldades no
acompanhamento do ensino remoto. Couto, Couto e Cruz (2020, p. 202) explicam
que “[...] experiências Ciberculturais, especialmente, aquelas de uma educação
on-line, alcançam uma parcela restrita de pessoas e aponta que os desafios para
educar com tecnologias digitais ainda são imensos e precisam ser
democratizados”.
Nesse
sentido, a exclusão social e a exclusão digital caminham juntas, de forma que a
falta de acesso e/ou domínio da família aos equipamentos tecnológicos e o tempo
escasso dedicado ao acompanhamento dos estudantes são fatores que podem justificar
as dificuldades de acesso dos estudantes, de realização de atividades e
tarefas, da escassa articulação e participação dos alunos no ambiente virtual
ocasionando a desmotivação e
o desinteresse relatado pelos docentes (CORRÊA; BRANDEMBERG, 2021).
Um
total de 20 docentes relataram, ainda, dificuldades relacionadas à gestão
escolar na condução de forma apropriada e eficiente do processo pedagógico no
momento de trabalho remoto, tais como: falha na comunicação entre gestão
escolar e professores; constantes mudanças nas orientações; e, desalinhamento
entre organização do trabalho pedagógico remoto e o currículo organizado pela
instituição. Além disso, o excesso de burocracia, característico da instituição
pública, tem gerado acúmulo de trabalho para o professor. Venturelli (2020, p.
300) alerta para o fato de que “[...] o teletrabalho significou aumento das
horas dedicadas ao trabalho pedagógico por dia. E isso reflete nas condições de
saúde física e mental”.
Nesse
cenário, as questões administrativas têm se sobreposto ao trabalho essencial
pedagógico, quando o maior esforço deveria ser no desenvolvimento do trabalho
remoto, ou seja, facilitar e possibilitar preparação de aulas de qualidade, uma
vez que isso ainda requer muito tempo e investimento (VENTURELLI, 2020; SOUZA et al., 2021).
No
Quadro 3 encontra-se o conteúdo sobre o potencial das ferramentas/recursos
tecnológicos utilizados no ensino remoto para o processo de ensino e
aprendizagem. O material coletado foi estruturado quanto à potencialidade
apresentada para o processo de ensino e aprendizagem em quatro níveis: alto,
médio, limitado e baixo.
Quadro
3 - Potencial das ferramentas tecnológicas para o processo de ensino e
aprendizagem |
|
Potencial |
R* |
Alto |
|
Podem revolucionar a educação e
trazer benefícios, dinamização das aulas, alcance das dificuldades dos
alunos, possibilidade de aumentar o interesse dos alunos e atendimento aos
estudantes impedidos de comparecerem à escola de forma presencial. |
21 |
Médio |
|
Essas ferramentas tecnológicas
podem ser utilizadas para diversificar a forma de ensino e assim atingir um
número maior de alunos. Além de complementar a atuação do docente em sala de
aula. Porém, para uma utilização proveitosa, estes recursos demandam
treinamento aos profissionais da educação. |
9 |
Limitado |
|
As tecnologias são eficazes e
necessárias, contudo, exige muita cautela para utilizá-las. As ferramentas do ensino remoto
são uma alternativa que precisa melhorar muito, a plataforma é boa, mas não
substitui um professor, nem a interação professor-aluno. É uma saída
temporária em meio a pandemia. |
8 |
Baixo |
|
O grande dificultador desses processos de aprendizagem são
o acesso limitado a internet e/ou aos dispositivos para acessá-la. O problema
é a realidade dos estudantes, eles têm muitas dificuldades para lidar com o
computador. |
4 |
*R – Recorrência da verbalização
nas respostas dos docentes. Fonte: Dos autores (2021). |
|
Cerca
da metade dos docentes participantes da pesquisa (22 respondentes) considerou
que as/os ferramentas/recursos tecnológicas/os apresentam alto potencial para o
processo de ensino e aprendizagem. Essas ferramentas podem revolucionar
a educação trazendo diversos benefícios para o processo de ensino e
aprendizagem. Para Branco, Adriano e Zanatta (2020, p. 330), tal possibilidade
se apresenta como desafio que precisa ser encarado pela educação e pelas
escolas, “[...] tendo nas TDIC importantes meios para proporcionar mais dinamicidade
e qualidade no processo de ensino e aprendizado”. Quanto ao papel do professor
em relação às TDIC, Moran
(2004, p. 2) já afirmava a necessidade deste “[...] repensar todo o processo,
reaprender a ensinar, a estar com os alunos, a orientar atividades, a definir o
que vale a pena fazer para aprender, juntos ou separados”.
Dentre os fatores citados pelos
docentes, tem-se a dinamização das aulas, possibilidade de alcançar as
dificuldades dos alunos de forma lúdica, visual, auditiva e diversificada,
possibilidade de investir no interesse dos estudantes e o atendimento aos
estudantes impedidos de comparecerem à escola de forma presencial, e pode
favorecer o desenvolvimento da autonomia do estudante.
Os docentes ressaltam, ainda, que se
utilizadas de maneira adequada, essas ferramentas têm um potencial enorme, que
pode servir de material de apoio à aprendizagem, desde que haja planejamento
prévio e estrutura adequada. Corroboram com este pensamento Costa et al. (2020b, p. 4), quando afirmam que o uso das
tecnologias nas escolas requer conhecimento, “[...] pois tais ferramentas,
aliadas à metodologia do docente, podem contribuir significativamente para sua
prática pedagógica dentro e fora da sala de aula”.
Para nove docentes, os recursos
tecnológicos têm potencial mediano e complementar à atuação do docente em sala
de aula, principalmente porque os estudantes apresentam diferentes formas de aprendizagem,
podem ser utilizados para diversificar e flexibilizar as didáticas, apoiando
professores e atingindo um número maior de estudantes (MORAN, 2004). No
entanto, reforçam que para uma utilização proveitosa, estes recursos demandam
investimentos em formação continuada (ALMOULOUD, 2019; BRANCO; ADRIANO; ZANATTA, 2020).
Além disso, é necessário que haja
investimento governamental para facilitar o acesso a equipamentos, tanto pelo
estudante, como pelo professor e a escola. Não basta disponibilizar legalmente,
são necessárias estratégias que atendam aos alunos sem condições de acesso ao
ensino mediado pelas tecnologias digitais e suas instituições (CUNHA; SILVA;
SILVA, 2020).
As
tecnologias são eficazes e necessárias. Contudo, exigem mais insumos do que
cautela para serem utilizadas, uma vez que a aprendizagem, além da necessidade
de interação humana, necessita ser experimentada na condição que se dispõe a
acontecer em tempos pandêmicos, o que limita o potencial das
ferramentas/recursos tecnológicos para o processo de ensino e aprendizagem, na
percepção de alguns docentes (BRANCO; ADRIANO; ZANATTA, 2020). Estes avaliam o
ensino remoto como uma alternativa que precisa melhorar muito, apesar de as
ferramentas serem boas, elas não substituem o professor, porém, remodelaram a
interação professor-aluno, fundamental no êxito do processo de aprendizagem e
levada para a virtualidade. Evidenciando-se ainda mais a necessidade de se
considerar a relação que há entre comunidade, alunos e professores por meio
dessas ferramentas/recursos tecnológicos (VILAÇA; ARAÚJO, 2016).
A maioria dos docentes (38 respondentes) reforçou
que o impacto dessas ferramentas poderia ser grandioso, no entanto, a realidade
tem mostrado que há professores que, muitas vezes, possuem domínio limitado
quanto ao uso do computador e outros dispositivos (FREITAS et al., 2021), o que faz com que as ferramentas percam parte de seu
potencial.
Para
um grupo de quatro docentes, o principal dificultador do uso das
ferramentas/recursos tecnológicos para o processo de aprendizagem é o acesso
limitado à internet e aos dispositivos para acessá-la. Esses aspectos reduzem,
e muito, o potencial das ferramentas/recursos tecnológicos. Nascimento et al. (2020) concluíram que, em 2018,
dos 39,5 milhões de estudantes matriculados na educação básica, cerca de 5,9
milhões não possuía acesso à internet banda larga ou 3G/4G e, quando acrescentado
um recorte étnico-racial, a falta de acesso à internet é maior entre crianças e
jovens negros e indígenas.
Por fim, solicitou-se aos docentes
que elencassem ferramentas/recursos tecnológicos/as próprios do ensino remoto
que possam ser utilizadas no ensino presencial. O Quadro 4, a seguir, apresenta
possibilidades citadas pelos docentes.
Quadro
4 - Ferramentas tecnológicas do Ensino Remoto que poderão ser utilizadas no
ensino presencial |
|
Ferramentas tecnológicas que poderão ser utilizadas no ensino
presencial |
R* |
Formulário |
23 |
Videoaulas, videoconferências,
vídeos postados no YouTube, YouTube-edu, download de vídeos de plataformas de
streaming |
22 |
Google sala de aula |
20 |
Jogos, kahoot, Wordwall,
gamificação, quizz |
19 |
Jamboard, lousa interativa, mesa
digital |
8 |
Google meet |
8 |
WhatsApp |
7 |
Canva, mentimeter |
5 |
Agenda virtuais |
4 |
Geogébra, calculadora gráfica |
3 |
Google chat |
3 |
Khan Academy |
2 |
Trello |
1 |
*R – Recorrência da verbalização nas respostas dos
docentes. Fonte:
Dos autores (2021). |
|
Dentre as ferramentas citadas pelos
docentes, o formulário Google teve a
maior representatividade, o que pode ser referente à diversidade de possíveis
usos que este apresenta. Videoaulas e vídeos aparecem em seguida, o que pode
ser devido à sua anterior utilização e por fazer parte do cotidiano dos estudantes (FREITAS et al., 2021), ainda que estes não
sejam, em sua maioria, produzidos pelos docentes. A plataforma Google Sala de Aula já era uma
ferramenta disponível aos docentes antes da necessidade do ensino remoto, e a
partir de agora, já implantada e de conhecimento da totalidade dos docentes,
poderá se constituir em ferramenta de apoio pedagógico constante.
A gamificação provavelmente chegou
para ficar, uma vez que é de fácil acesso e desperta o interesse dos
estudantes. Mesmo porque, como explicam Costa et al. (2020b, p. 8), “Para desfrutar das vantagens das novas
tecnologias não basta apenas fazer o uso delas, mas também observar quais são
as mais adequadas a realidades de seus educandos, quais eles demonstram mais
interesse e facilidade em aprender o que está sendo ensinado”.
A
referência dos docentes à possibilidade de utilização das ferramentas/recursos
tecnológicas/os após a pandemia indica uma perspectiva de continuidade do
aparelhamento da aula com tais meios. A despeito das dificuldades encontradas
na transposição do planejamento para o ensino remoto, os professores têm
empreendido esforços para se adaptar ao meio digital, de modo a utilizar
metodologias apropriadas para a realidade dos alunos (FREITAS et
al., 2021). De modo que “[...] após o término desta pandemia os
conhecimentos desenvolvidos com esses expedientes poderão ser utilizados
potencialmente para fins educacionais” (CORRÊA; BRANDEMBERG, 2021, p. 52).
Considerações finais
Após a suspensão das atividades
escolares presenciais em todo o país provocada pela pandemia da Covid-19,
muitos pensavam tratar-se de algo que duraria pouco tempo. O que se viu na
sequência, entretanto, foi um enfrentamento à pandemia que se deu de forma
descoordenada, com medidas de distanciamento social, estabelecidas pelo poder
público, consideradas tardias e pouco eficazes pelas autoridades sanitárias, o
que contribuiu para que as escolas fossem mantidas fechadas. De modo que, tanto
o ano letivo de 2020 seguiu quanto o de 2021
segue no formato de ensino remoto para a maioria dos estudantes da educação
básica.
Assim, com pouco mais de um ano e
meio desenvolvendo suas atividades de forma remota, professores e professoras
continuam aprendendo por meio da prática, enfrentando desafios no
desenvolvimento e organização do trabalho pedagógico ao passo que, também,
vislumbram possibilidades para a retomada do ensino presencial pós-pandemia,
sobretudo, no que se refere à utilização de recursos tecnológicos. Os esforços
empreendidos pelos docentes para utilizar metodologias apropriadas, adaptar o
material didático e adaptar-se à virtualidade não serão deixados de lado, mas
acompanharão o fazer docente de agora em diante.
Nesse sentido, os docentes
inclinam-se a acreditar que o uso das ferramentas tecnológicas, alternativa
temporária em meio a pandemia do Covid-19, pode se transformar em possibilidade
com potencial para alterar o formato anacrônico da organização do trabalho
pedagógico nas aulas de matemática, resultando em desenvolvimento e melhoria na
qualidade profissional destes docentes e, consequentemente, para todo o
processo de ensino e aprendizagem dessa disciplina.
Com relação às dificuldades
apontadas pelos docentes, pode-se observar que estas se encontram em todos os
níveis dos segmentos da comunidade escolar, estando vinculadas tanto ao
professor, quanto ao estudante e sua família, e à instituição. A referência à
dificuldade docente concentrou-se na falta de conhecimento e preparo para
manusear, de forma adequada, as TDIC disponibilizadas para a organização e
desenvolvimento do trabalho pedagógico, principalmente, quando há necessidade
da linguagem própria da matemática. Seguida pela burocratização do processo de
ensino remoto pelas instituições. Quanto ao estudante, a recorrência incidiu
sobre a falta e a qualidade dos dispositivos eletrônicos, acesso à internet e à
falta de apoio e acompanhamento aos estudantes pelos familiares.
Para que o uso de tecnologias no
ensino da matemática, como nas demais disciplinas, seja uma realidade, faz-se
necessário investimento em formação continuada do professor, políticas públicas
que promovam a equidade de acesso à internet e a dispositivos para os
estudantes. Além de projetos educacionais que situam o professor enquanto
mediador do processo de ensino e aprendizagem e o estudante atuando como
protagonista frente ao processo de construção do seu conhecimento.
Agradecimentos
Agradecemos ao Grupo de Pesquisa
Dzeta Investigações em Educação Matemática (DIEM); à Secretaria de Estado de
Educação do Distrito Federal (SEEDF); à Fundação de Apoio à Pesquisa do
Distrito Federal (FAPDF); à Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
(FE/UnB); à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes,
Código de Financiamento 001); aos Programas de Pós-Graduação em Educação da
Universidade de Brasília (PPGE/UnB – Acadêmico e Profissional); ao DPI/UnB e ao
DEX/UnB.
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2021.
Recebido
em: 29/06/21
Aprovado
em: 15/08/21
[1] Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (PPGE/UnB).
Professora de matemática na Secretaria de Estado de Educação do Distrito
Federal (SEEDF). Membra do grupo de pesquisa Dzeta Investigações em Educação
Matemática (DIEM). E-mail: cristina.j.teixeira@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8174-3735
[2] Doutorando do
programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (PPGE/UnB).
Professor de matemática na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
(SEEDF). Membro do grupo de pesquisa Dzeta Investigações em Educação Matemática
(DIEM). E-mail: webersoncamposprof@gmail.com.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3077-1004
[3] Doutoranda do
programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (PPGE/UnB). Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Membra do
grupo de pesquisa Dzeta Investigações em Educação Matemática (DIEM). E-mail: fraz.joeanne@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8623-3769
[4] Doutor em Educação
Matemática (PUC-SP) e Pós-Doutor em Educação pelo ProPEd (UERJ). Professor dos
Programas de Pós-Graduação em Educação (Profissional e Acadêmico) da Faculdade
de Educação da Universidade de Brasília (PPGE/UnB). Líder do grupo de pesquisa
Dzeta Investigações em Educação Matemática (DIEM). E-mail: geust2007@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1455-6646