A ressignificação do ensino de línguas a
partir do uso intensivo das TDIC em tempos de pandemia
The redefinition of languages teaching from the intensive use of DTIC in
times of pandemic
La redefinición de la enseñanza de idiomas a partir del uso intensivo de
las TDIC en tiempos de pandemia
Jéssica Mary Costa do Rosário[1]
Ana Emilia Fajardo Turbin[2]
Resumo
A pandemia gerada pela Covid-19 mostrou a
importância da inserção das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
(TDIC) no âmbito educacional; a formação de professores requer, portanto, cada vez
mais preparo para um efetivo trabalho docente. A Base Nacional Comum para a
Formação Inicial de Professores de Educação Básica (BNC- Formação), em sintonia
com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), reconhece a necessidade de
empregar pedagogicamente as inovações e as linguagens digitais no ensino. O uso
das TDIC pode funcionar como técnica que ajuda a promover a aprendizagem dos
estudantes, elas são aliadas ao fazer docente, já que os estudantes estão cada
vez mais conectados, compartilhando informações, postagens, vídeos, fotos
através da rede web. Com a pandemia, o papel do professor tem-se ressignificado
em ambientes virtualizados. Este estudo acadêmico tem por objetivo discutir processos de ressignificação do modo de ensino por meio das
tecnologias digitais de informação e comunicação nas escolas da rede, no
Distrito Federal. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, e a metodologia
utilizada se respaldou em aportes teóricos e investigação prática na qual doze
professores responderam a um questionário semiaberto on-line. Os resultados
a que chegamos nesta pesquisa evidenciam que
uma adaptação se fez necessária para os novos formatos de ensino proporcionados
pela pandemia
e que também falta preparo tanto dos professores,
como dos estudantes para integrar com eficiência as TDIC ao contexto
educacional. Consequentemente, é
considerável o impacto da utilização de tecnologias digitais no ensino de
línguas no cenário atual da educação.
Palavras-chave: Ressignificação; TDIC; Pandemia; Ensino.
Abstract
The pandemic generated by Covid-19 showed the importance
of the insertion of Digital Technologies of Information and Communication (DTIC)
in the educational scope, the formation of teachers requires more and more preparation
for an effective teaching work. The Common National Base for the Initial
Training of Basic Education Teachers (CNB-Training) in line with the Common
National Curriculum Base (CNCB) recognizes the need to pedagogically employ
digital innovations and languages in teaching. The use of DTIC can work as a
technique that helps to promote the learning of students, they are allies in
teaching, since students are increasingly connected, sharing information,
posts, videos, photos through the web. With the pandemic, the role of the
teacher has been redefined in virtualized environments. This academic study discusses
processes of redefinition the teaching method through digital technologies of
information and communication during the pandemic in the schools of the
network, in the Federal District. It is a qualitative
research and the methodology used was supported by theoretical
contributions and practical investigation in which twelve teachers answered a
semi-open questionnaire online. The results we reached in this research show
that an adaptation was necessary for the new teaching formats provided by the
pandemic and that there is also a lack of preparation for both teachers and
students to efficiently integrate DICT into the educational context. Consequently,
the impact of the use is considerable of digital technologies in the teaching
of languages in the current scenario of education.
Keywords: Redefinition; DTIC; Pandemic; Teaching.
Resumen
La pandemia generada por la Covid-19 mostró la
importancia de la inserción de las Tecnologías Digitales de Información y
Comunicación (TDIC) en el ámbito educativo, la formación de docentes requiere,
por lo tanto, cada vez más preparación para una labor docente eficaz. La Base
Nacional Común para la Formación Inicial de Docentes de Educación Básica
(BNC-Formación) en consonancia con la Base Nacional Común Curricular (BNCC)
reconoce la necesidad de emplear pedagógicamente las innovaciones y los
lenguajes digitales en la enseñanza. El uso de las TDIC puede funcionar como
una técnica que ayuda a promover el aprendizaje de los estudiantes, ellas se
alían al hacer docente, ya que los estudiantes están cada vez más conectados,
compartiendo información, publicaciones, videos, fotos a través de la red web. Con
la pandemia, se ha reformulado la función del docente en ambientes virtuales. Este estudio
académico tiene como objetivo discutir los procesos de redefinición del método
de enseñanza a través de las tecnologías digitales de información y comunicación durante la
pandemia en las escuelas de la red, en el Distrito Federal. Trata-se de
una investigación cualitativa y la metodología se respaldó en contribuciones
teóricas e investigación práctica en la que doce profesores respondieron a un
cuestionario semiabierto en línea. Los resultados que alcanzamos en esta
investigación muestran que se hizo necesaria una adaptación a los nuevos
formatos de enseñanza proporcionados por la pandemia y que también falta
preparación tanto de docentes, como de estudiantes para integrar las TDIC con eficacia
al contexto educacional. Consecuentemente, es considerable el impacto del uso de las tecnologías
digitales en la enseñanza de lenguas en el escenario actual de la educación.
Palabras-clave: Redefinición; TDIC; Pandemia;
Enseñanza.
Introdução
A pandemia provocada pelo novo vírus, SARS-CoV-2, conhecido como
coronavírus gerou inquietações, transformações e adaptações em nível mundial no
ano de 2020. Com o isolamento social, a pandemia fez surgir um desequilíbrio na
economia, ocasionando o fechamento de muitas empresas. Houve aumento de
preocupações em relação à saúde, medo, insegurança e uma série de consequências
previstas e não previstas, positivas e também negativas que ainda incidem na
sociedade como um todo.
Em meio a esse cenário distinto do mundo pós chegada da Covid-19, o
uso de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (doravante TDIC) se
intensificou no cotidiano de muitas pessoas, seja em casa ou no trabalho com a
implantação do home office e nas
aulas que antes eram na modalidade presencial e passaram a ocorrer de maneira
remota. No entanto, já fazia um tempo que muitos pesquisadores incentivavam a
inserção e o uso de ferramentas tecnológicas para um ensino mais eficaz
dialogado às linguagens digitais e às novas mídias (LEFFA, 2001; ROJO; MOURA, 2012; DUDENEY;
HOCKLY; PEGRUM, 2016; MENEZES,
2011; NASCIMENTO; SANTOS; SILVEIRA, 2019).
Seguindo esta perspectiva, já em
2001, Leffa argumentava usando o termo novas
tecnologias, afirmando que estas “[...] introduzem mudanças que afetam a comunicação e nos obrigam a
reconsiderar o que já parecia estar estabelecido” (LEFFA, 2001, p.4). Referindo-se
às novas ferramentas digitais, os autores Dudney, Hockly e Pegrum acreditam
que “há de chegar o dia em que nossas ferramentas estarão tão entremeadas em
nossa linguagem cotidiana e em nossas práticas de letramento que quase não nos
daremos mais conta delas” (DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016, p.17). Consoante a
isso, Menezes já criticava o ritmo lento em sala de aula, enquanto fora da sala
de aula os alunos utilizam as novas tecnologias (MENEZES, 2011, p.279-280). Nascimento, Santos e Silveira chegam a
questionar “o quanto essas novas práticas cotidianas de fora do ambiente
escolar têm (ou não) adentrado as escolas” (NASCIMENTO; SANTOS; SILVEIRA, 2019,
p.52) e chegam à conclusão de que, por vezes, elas são vistas como alheias à
sala de aula.
Com a era digital e a globalização, a sociedade está imersa em um
novo ethos[3]
(NASCIMENTO; SANTOS; SILVEIRA, 2019). Além disso, esses tempos críticos que
vivenciamos desafiam professores e estudantes em um mundo que está se
ressignificando, suscitando novas maneiras de ensinar e de aprender.
A realidade em que se encontra a educação, hoje, instiga
professores a se reinventarem em uma transição que parte do tradicional ensino
presencial para o ambiente de aprendizagem virtual (AVA), fazendo estudantes se
adequarem a novos formatos de ensino, quer com aulas síncronas e assíncronas quer
com aulas híbridas. Contudo, o acesso às tecnologias ainda é desigual e vários fatores têm inviabilizado o
efetivo trabalho dos professores. Por outro lado, partimos do pressuposto de
que mudanças positivas estão vindo à tona e vislumbram uma ressignificação para
o ensino de línguas.
Pesquisas sobre o ensino integrado ao uso de tecnologias digitais
no contexto pandêmico são muito relevantes, em especial, neste estudo,
abordaremos a temática tendo como foco um escopo de 12 professores de línguas
atuantes nesses tempos de pandemia.
O ensino, impulsionado pelo contexto pandêmico, suscitou novas formações
docentes, advindas de cursos de aperfeiçoamento e treinamentos com o fim de
capacitar professores para o trabalho com o ensino remoto, o ensino híbrido e o
ensino a distância. Além disso houve mudanças que afetam o ensino sob um novo
panorama. Será que elas podem trazer ressignificações ao ensino de línguas?
Pensando sobre essa questão, este artigo tem por objetivo discutir
processos de ressignificação do modo de ensino por meio das tecnologias digitais
de informação e comunicação durante a pandemia nas escolas da rede, no Distrito
Federal. Dividimos esses processos em três fases: O trabalho docente com as
TDIC no ensino de línguas no início da pandemia; o trabalho docente com as TDIC no ensino de
línguas durante a pandemia e tendências do trabalho docente com as TDIC no
ensino de línguas (vislumbrando as aulas pós pandemia).
Trata-se de uma pesquisa
de abordagem qualitativa (MORAES, 1999). A
metodologia empregada neste estudo acadêmico foi subsidiada por aportes
teóricos e investigação prática. A
coleta de dados foi realizada no período de outubro a novembro de 2020, por
meio de questionários semiabertos que foram respondidos por professores de
línguas (dentre participantes da pesquisa havia professores de português,
inglês e espanhol), os quais foram selecionados conforme o seguinte critério:
ser professor de línguas em exercício nesses tempos de pandemia. Conseguimos
obter uma amostra diversificada, com profissionais da rede pública e também da
rede particular, desde docentes que atuam na educação básica até os que atuam
no ensino superior, totalizando um grupo de 12 professores. Dentre esses, três
professores foram selecionados e participaram de uma segunda parte da pesquisa
que consistiu em responder de maneira escrita, via WhatsApp, a uma pergunta aberta; nessa amostra, optamos, por
focalizar dois professores veteranos e uma professora recém-formada, a fim de
obtermos dados sobre essa nova ressignificação do ensino.
A análise de conteúdo foi a estratégia de análise selecionada. Os
dados dessa pesquisa foram gerados a partir das respostas dos participantes aos
questionários e às perguntas aplicadas. A análise de conteúdo, conforme
argumenta Moraes, conduz a “[...] descrições sistemáticas, qualitativas ou
quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão
de seus significados em um nível que vai mais além de uma leitura comum”
(MORAES, 1999, p.2).
A
escrita deste artigo se estrutura em mais três partes após essa introdução. Na
primeira parte, abordaremos a base teórica da pesquisa. Na segunda,
discutiremos, por meio dos dados gerados e das percepções de professores de
línguas, os processos de ressignificação do ensino a partir do uso de TDIC
nesse contexto pandêmico, englobando os impactos positivos e negativos. Por
fim, apresentaremos algumas considerações finais deste trabalho.
1.
Referencial teórico
A utilização de TDIC no âmbito educacional
nunca foi tão necessária como está sendo agora, nesse contexto pandêmico. Com a
disseminação da covid-19, vários professores acostumados ao ensino presencial e
sem experiência com a Educação a Distância (EAD), tiveram que se adaptar a novos
formatos de ensino como o ensino híbrido e o Ensino Remoto Emergencial (ERE)[4].
Dentro desse novo contexto sócio-histórico
entrou em cena o termo ressignificar[5].
A ressignificação nos permite transformar crises e inquietações em aprendizados
que podem trazer, portanto, melhorias (LEFFA, 2001; KUMARAVADIVELU, 2012).
Assim, ressignificar não é apenas atribuir um novo significado a algo. Afinal,
é preciso, nesse processo, transformar pensamentos, mudar escolhas, dar novos
sentidos, saber lidar com o diferente. É tempo de refletir sobre os saberes,
duvidar de certezas tão incrustadas para encontrar saídas. Estamos vivenciando
um tempo de ruptura epistêmica em que reorganizar e reconceituar sistemas de conhecimento
se faz necessário. De uma maneira geral, são os desafios que nos possibilitam
ressignificar.
Antes da pandemia, Leffa (2001) publicou
um artigo intitulado “A linguística aplicada e seu compromisso com a sociedade”
em que ele já considerava a tendência de uma educação redefinida. Ele constatou
que o mundo caminhava para a implementação do ensino híbrido, uma espécie de
integração do ensino presencial e o ensino a distância por meio de aulas
síncronas e/ou assíncronas.
Estamos numa época em
que podemos, com certa facilidade, fundir proximidade com distância; eu posso
estar aqui e em vários outros lugares ao mesmo tempo, não só me replicando para
ser visto e ouvido, de modo passivo, mas também para ver e ouvir, de modo
ativo, interagindo com as pessoas – não só de maneira síncrona mas também
assíncrona, permitindo que a interação ocorra em diferentes lugares e horários.
Essa fusão do presencial com o distante possibilitou algo que se convencionou
chamar de Educação a distância e que é vista por alguns como uma substituição
do ensino presencial. Acho que o ensino não deve ser apenas presencial nem
apenas a distância, mas dos dois modos (LEFFA, 2001, p.12).
Esse ensino se torna cada vez mais viável
com as tecnologias digitais atuais. A difusão
e a distribuição do conhecimento entre as pessoas estão formando uma imensa
rede virtual, construída de maneira coletiva e colaborativa. Leffa constatou
que a sociedade entraria em um tempo em que todo conhecimento seria compartilhado
(LEFFA, 2001, p.8). Nunca antes estivemos tão interconectados como nos tempos
atuais. Em pesquisa recente, Leffa (2020) tem focalizado em estudos de
gamificação como recurso de aprendizagem.
A Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) é um documento oficial que regulamenta acerca das
aprendizagens essenciais que os estudantes da educação básica precisam
desenvolver. O documento adotou a terminologia teórica TDIC (Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação) em vez de TIC (Tecnologia de Informação e
Comunicação) abarcando, assim, as novas abordagens que integram a cultura
digital e o ensino. A BNCC também discorre sobre a necessidade de o ensino de
línguas abarcar os multiletramentos e os novos letramentos, reconhecendo a
importância de utilizar mídias e ferramentas digitais de maneira crítica
(BRASIL, 2018).
Após a implementação da BNCC nas escolas de todo o país com vistas
à universalização da educação básica, o Ministério da Educação entregou para
o Conselho Nacional da Educação uma proposta chamada Base
Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores de Educação Básica (BNC-
Formação)[6].
O documento traz três eixos que compõem as competências profissionais a serem
trabalhadas na formação inicial e na formação continuada dos docentes de todo o
Brasil. Dentre as competências exigidas, destacamos a competência de número
cinco, a qual registra que compete ao professor:
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica,
significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas docentes, como
recurso pedagógico e como ferramenta de formação,
para comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos,
resolver problemas e potencializar as aprendizagens (BRASIL, 2019, p. 13, grifo nosso).
Mesmo em meio ao contexto atual de reformulação curricular das escolas, a BNC-
Formação foi proposta. Contreras registra que “[...]
são cada vez maiores as funções atribuídas ao ensino, pretendendo-se que os
docentes atendam as esferas da educação cada vez mais difusas e ambíguas” (CONTRERAS,
2002, p.151). Na visão de Saviani, é preciso
que haja uma boa formação docente que preze pelas qualidades que constituem a
formação de um bom professor (SAVIANI, 2011, p.16). No entanto, refletindo
sobre essas questões apontadas pelos autores e sobre o que está posto na BNC-
Formação, percebemos que nem todos os professores dispõem do necessário para a
efetivo trabalho docente.
Em maio de 2020, quando o
Brasil já enfrentava o contexto pandêmico, um parecer acerca da Base Nacional
Comum de Formação Continuada (BNC- Formação Continuada)[7]
foi publicado. O documento também versa sobre a
necessidade de docentes utilizarem novas metodologias, dentre elas as que
abranjam a utilização das TDIC para o ensino, seja ele semipresencial, híbrido
ou a distância. Logo, é indispensável aprender novas abordagens educacionais,
em um mundo que se ressignifica e requer de professores e alunos novos
aprendizados (BRASIL, 2020, p.5).
Com a pandemia, voltou à tona um discurso de que em breve não haverá
mais aulas presenciais, elas serão substituídas pelo ensino mediado pelas
tecnologias digitais. Essa afirmação é problemática, apesar de que, realmente,
há um novo significado para o uso das ferramentas digitais no ensino de
línguas, uma vez que elas contribuem nesse contexto vigente, oferecendo novas
possibilidades, porém, a exclusão digital ainda é um sério problema que afeta o
ensino, visto que nem todos dispõem de recursos para as aulas.
Há um novo cenário econômico crítico proveniente da crise no comércio; o
isolamento tem afetado a saúde mental de muitas pessoas e, em meio a tudo isso,
a crise na saúde nos obriga a seguir um rígido protocolo para manter o convívio
entre os indivíduos, tudo isso impacta o ensino de línguas de alguma maneira. Esse
período de pandemia tem sido muito difícil e caótico para docentes tanto da
rede pública, como da rede privada que estão se desdobrando para dar conta das
diversas demandas.
As práticas
digitais estão em constante transformação, e essa fusão de mudanças produzidas
tem impactado os usos da língua. Nos dias de hoje, a comunicação por meios
digitais foi intensificada. Portanto
a língua, por ser viva e dinâmica, se ambienta também no mundo digital,
transformando a nossa relação com o conhecimento e com o mundo. Mediante a
multimodalidade, os recursos que integram o texto se potencializaram e se expandiram.
A maneira como
lemos o mundo também tem ganhado novos significados, um novo ethos. Por meio da diversidade de
recursos da web 2.0[8],
hoje em dia é possível criar conteúdo digital, fazer edição de slides de
maneira colaborativa, contribuir em redes sociais coletivas, realizar as aulas
síncronas através de plataformas on-line, algo que não era possível com
a antiga rede web (DUDENEY;
HOCKLY; PEGRUM, 2016; ROJO; MOURA, 2012).
Com o advento das tecnologias digitais, temos
mudanças que afetam a comunicação. Novos desafios são impostos ao ambiente
educacional e à sociedade como um todo, exigindo, deste modo, que os
professores se apropriem de multiletramentos e de novos letramentos, em
especial, os letramentos digitais[9]
tão importantes nesses tempos contemporâneos em que as fusões estão sendo
favorecidas pela globalização. Ademais, compete ao educador, ampliar o
repertório cultural dos estudantes (LEFFA, 2001; ROJO; MOURA, 2012).
Com a tecnologia existente atualmente, é
possível que o professor, de certa forma, adapte as atividades ao meio virtual.
No entanto, cabe ao professor, escolher criticamente as tecnologias digitais
pertinentes para desenvolver suas aulas. Afinal, só incluir o uso de TDIC não é
suficiente se a aula for conduzida seguindo os moldes tradicionais de
centralidade na gramática, repetição e ênfase no conteúdo que, portanto, não
incorporam as novas abordagens e metodologias de ensino.
A
complexidade presente no mundo de hoje exige do professor uma formação mais
abrangente que abarque a responsabilidade de ser inovador, comprometido,
organizado, sabendo estabelecer um ambiente de aprendizagem prazeroso que se
conecta à realidade dos estudantes. Menezes (2011) utiliza a metáfora do Rizoma proveniente dos filósofos franceses Deleuze e Guatari, definindo esse mundo de hoje como um
mundo “rizomático”, um mundo múltiplo com suas teias de comunicação em que só
os métodos e livros didáticos não bastam.
Nós vivemos
em um mundo complexo, globalizado. Múltiplo. E é um mundo marcado por fluxos de
todos os tipos, fluxos de pessoas, acima de tudo fluxo de capital, fluxos de
artigos, fluxo de informações e esses fluxos acontecem com uma rapidez enorme.
E isso tudo parece acontecer fora da sala de aula, mas dentro da sala de aula
parece que ainda estamos naquele ritmo antigo, bem devagar; no ensino da língua
materna, por exemplo, existe ainda o debate de como é que o professor deve
lidar com os meios de comunicação que o aluno está acostumado a usar fora da
sala de aula, a internet especialmente, videogames, jogos de computador. Qual a
relação entre tudo isso e a sala de aula? (MENEZES, 2011, p. 279-280)
Diante
desse mundo múltiplo, precisamos de uma redefinição para o trabalho em sala de
aula, seja ela virtual ou presencial. Ainda que o acesso à
leitura tenha se ampliado, muitos estudantes se perdem em meio ao fluxo de
informações, à pluralidade de ideias, conceitos e textos diversos. Os educandos
não chegam à sala de aula vazios, eles trazem uma bagagem sociocultural e um
prévio conhecimento de mundo. O papel do professor como mediador da
aprendizagem é conduzir o estudante nesse processo complexo de orientação e
colaboração, sem perder de vista que o educando tenha a função ativa na
construção do conhecimento.
Pensando nesse contexto atual que
vivenciamos e no impacto do uso das novas tecnologias redefinindo a formação de
professores, é válido refletirmos sobre os efeitos positivos e negativos
sentidos pelos professores/as em relação a essas questões. Afinal as
tecnologias digitais são aliadas no fazer docente, estão presentes no cotidiano
de muitos estudantes que, cada vez mais conectados, compartilham informações,
postagens, vídeos, fotos através da rede web. Logo, as TDIC não podem ficar
alheias ao ensino de línguas.
2- A ressignificação do ensino de
línguas a partir do uso intensivo das TDIC em tempos de pandemia: análise de
dados
Como
vimos anteriormente, o objetivo desta pesquisa é discutir processos de ressignificação do modo de ensino por meio das tecnologias
digitais de informação e comunicação nas escolas da rede. Essa
investigação é contextualizada tendo em vista a educação de Brasília nos tempos
atuais. Algumas escolas voltaram a ter aulas presenciais, seguindo um rígido
protocolo, há professores que atuam na EAD, os que trabalham no ERE e os que
gradualmente retornam ao ensino presencial, atuando no que se denominou como
ensino híbrido. Participaram da pesquisa 12 professores de línguas de
diferentes domínios: quatro atuam no ensino fundamental, três lecionam no
ensino médio, dois trabalham na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), dois
lecionam no ensino superior e um atua na educação infantil. Com o fim de
preservar a identidade dos participantes, eles serão chamados pelo pseudônimo
previamente escolhido por eles na pesquisa, como podemos ver no quadro a seguir:
Tabela
1 - Quadro de participantes da pesquisa
Docentes |
Leciona: |
Escola Pública |
Escola particular |
Atua no: |
1-
Quitéria |
Inglês |
X |
|
Ensino Médio |
2-
Wesley Alves |
Espanhol |
|
X |
Ensino Médio |
3-
Raquel |
Português |
X |
|
Ensino Fundamental |
4-
Resistência |
Português |
X |
|
EJA |
5-
Florinda |
Inglês |
|
X |
Ensino Fundamental |
6-
Professora de inglês |
Inglês |
|
X |
Ensino Fundamental |
7-
TK |
Espanhol |
|
X |
Ensino Fundamental |
8-
Zoe |
Inglês |
|
X |
Educação Infantil |
9-
Professor Zion |
Inglês |
X |
|
EJA |
10- Caetano
|
Espanhol |
X |
|
Ensino Médio |
11- João |
Espanhol |
X |
|
Ensino Superior |
12- Leah |
Espanhol |
X |
|
Ensino Superior |
(Fonte: Das autoras, 2021).
Um questionário on-line (formulário
google docs) formulado com 16 questões, sendo oito
questões de múltipla escolha e oito discursivas, foi aplicado aos professores
de línguas. Uma segunda parte da investigação foi realizada com uma professora
veterana (Resistência), uma professora recém-formada (TK) e um professor veterano
(Wesley Alves). A análise está organizada em três fases. Nelas, serão abordados
os pontos positivos e negativos do trabalho docente no início da pandemia,
durante a pandemia e as tendências vislumbradas pós pandemia.
A primeira questão do questionário foi: o
acesso à internet de boa conexão é um dos fatores que viabilizam o trabalho do
professor no ERE. Como está o seu acesso à internet? Onze professores
responderam marcando a opção “tenho acesso à internet banda larga de alta
qualidade”. Já na segunda questão, a pergunta foi: quais são os dispositivos
que mais utiliza em suas aulas? Os professores apontaram os itens:
“notebook” e “smartphone”, como os mais utilizados. Dudney, Hockly e Pegrum (2016) abordam acerca da
proliferação dos dispositivos móveis como uma forte tendência de apoio ao ensino
de línguas. Esse resultado endossa tal perspectiva, já que os
dados nos levam a entender que esses professores têm usado mais os dispositivos
móveis. O uso concomitante do celular e do notebook oferece flexibilidade e
maior comunicação para o preparo e a execução das aulas.
1.1 Fase 1: o trabalho docente com as TDIC no ensino
de línguas no início da pandemia
O início da pandemia exigiu uma ressignificação do ensino com
adaptação em relação ao tempo, a metodologias, à participação dos estudantes
nas aulas, à utilização de plataformas para mediar as aulas, além de vídeos,
tutoriais, cursos variados para treinamento e capacitação de professores. E
toda essa cobrança de preparo e adaptação impactou a própria formação docente:
eles sentiram que estavam despreparados.
Visando a definir o trabalho docente no início da pandemia, a
terceira questão trouxe alguns dados. A pergunta foi: como
foi o seu trabalho docente mediado pelo uso das novas tecnologias no início da
pandemia? “Desafiador” e “difícil” foram os
adjetivos mais utilizados pelos professores que responderam. Realmente, esse
novo tipo de ensino exigiu de professores um processo de adaptação, tanto para
o uso de TDIC, como para o ensino em si, que foi repensado e reconfigurado nos
moldes do ERE. Destacamos algumas respostas:
Raquel:
muito difícil, demorado, maior disposição de tempo para planejamento e criação
de atividades. Para criar uma atividade para o ensino remoto, por exemplo: leva
o dobro do tempo ou mais que para planejar e criar.
Resistência:
desafiador... mas surpreendente pq [sic] apesar de poucos alunos
participando... os que entravam participaram efetivamente.
Zoe: utilizamos diversas
plataformas para mediar aulas síncronas e assíncronas. Tivemos que aprender
muitas coisas (Fonte: Questionário das autoras, 2020).
Com a
mudança de concepção de internet oriunda da web 2.0, não temos apenas uma mera
interação nas aulas, mas a oportunidade de produção coletiva do conhecimento (ROJO;
MOURA, 2012). Esse caso específico, da Professora
Resistência é resultante das novas maneiras de interagir em aulas virtuais
síncronas, sem a presença física do professor e dos estudantes. Se comparamos
com a aula presencial em que, no geral, há uma espera para se ter o turno de
fala, já que o entendimento ficaria comprometido com tanto ruído de várias
vozes falando ao mesmo tempo, nas aulas em ambientes virtualizados, as
interações se transformam, são colaborativas, estudantes dizem o que pensam no
chat de forma simultânea, algo que não acontecia na antiga rede web.
A
pergunta de número 4 foi: como você se preparou para utilizar
as ferramentas digitais no início das aulas no ensino remoto? Florinda afirma que se preparou “com estudos e
reflexões sobre a pedagogia dos multiletramentos” (Fonte: Questionário das
autoras, 2020). A educação multiletrada traz contribuições à formação docente, ampliando
a visão, não só em relação à importância do uso das tecnologias digitais na
educação atual, mas em relação ao multiculturalismo e à multimodalidade dos textos,
que por sua vez ressignificam os modos de ensinar e de aprender (ROJO; MOURA, 2012). Duas
docentes (Raquel e Resistência) contam que
fizeram cursos ofertados pela Secretaria de Educação, os outros docentes
comentaram busca por vídeos, lives,
cursos de capacitação, treinamentos, portanto, em geral, é perceptível que
houve busca de aprimoramento e familiarização com as TDIC.
A questão 5 foi: como você se
sentiu em relação ao ensino mediado pelas tecnologias digitais? “Sozinho”, “desafiado”, “desnorteado”, “impotente” e
“inseguro”, esses foram alguns dos adjetivos usados para descrever o sentimento
desses professores no início da pandemia. As dificuldades foram várias:
dificuldades na interação com os alunos, dificuldades decorrentes da falta de
conhecimento de uso das ferramentas digitais, sobrecarga de atividades,
insegurança gerada pela ruptura do presencial para o virtual sem muito preparo.
Podemos ver algumas respostas a seguir:
Professora de inglês:
menos crítica com as plataformas tecnológicas e otimista com as novas
possibilidades.
TK:
foi difícil, porque foi uma modalidade que tivemos que acatar e realizar sem
muito preparo. Mas com a prática, fomos aprendendo e os alunos também. Posso
dizer que, com o passar do tempo, eu tomei gosto por dar aulas utilizando
totalmente as tecnologias digitais. Gostei da praticidade e da inovação.
Zoe:
me senti sozinha, era estranho ver os alunos pela tela e não pessoalmente.
Tinha medo, me sentia julgada e tive ansiedade, pois era muito mais complicado
planejar as aulas.
Leah: já possuía experiência prévia em
Ead [sic], mas considero que o ensino remoto emergencial promoveu desafios
diferentes (Fonte: Questionário das autoras, 2020).
A angústia de não terem
passado por uma boa preparação antes é quase unânime entre os participantes que
responderam à pesquisa, com exceção da Professora de inglês, que se sentiu otimista.
A competência geral de número 8 da BNC- Formação (BRASIL,
2019, p.5) aborda sobre o autocuidado que o professor precisa ter com sua saúde
física e emocional. Zoe desabafou “Me senti sozinha [...]” esse sentimento dela
e de outros professores revela que, nesses tempos críticos, os docentes estão necessitando
de apoio.
A formação acadêmica é um ponto importante
para refletirmos sobre a ressignificação. A questão 6 registra: você
considera sua formação sólida/robusta em relação ao uso das Tecnologias
Digitais na educação? Busca aperfeiçoamento? Na pesquisa, sete participantes não consideram a formação deles robusta
em relação ao uso de tecnologias digitais na educação. É preciso levar em conta
o fato de que muitos desses professores se formaram quando ainda não tínhamos
esses avanços digitais e tecnológicos, tampouco a BNCC. Wesley Alves pondera
que “sempre é importante se reciclar e inovar” (Fonte: Questionário das
autoras, 2020). Como aspecto positivo, foi possível
constatar que os recém-formados são os que se sentem mais familiarizados com o
uso das novas TDIC nas aulas. Não há dúvidas de que a BNCC vai demandar dos professores de educação básica, um
aprimoramento da prática pedagógica (BRASIL, 2018).
Podemos
inferir, a partir dos dados levantados, que o início da pandemia exigiu uma
ressignificação do ensino com adaptação em relação a diversos aspectos como
tempo, metodologia, entre outros. Os sentimentos gerados nos docentes em
relação ao ensino mediado pelas tecnologias digitais foram mais negativos do
que positivos. Muitos professores alegam que a formação acadêmica não dá conta
de todas as inovações tecnológicas, sendo indispensável ao professor aprimorar
seus conhecimentos.
Menezes afirma que “[...]
nosso papel como professores hoje em dia não é mais transmitir conhecimento,
mas ensinar maneiras novas de buscar conhecimento” (MENEZES, 2011, p.289). Também
é pertinente considerar que a responsabilidade não é totalmente do professor,
uma vez que não é só o docente que lidará com o uso das ferramentas
tecnológicas, os estudantes também têm dificuldades em acompanhar as aulas e
usar os recursos tecnológicos, como veremos no tópico a seguir.
1.2 Fase 2: o trabalho docente com as TDIC no ensino
de línguas durante a pandemia
Nesse processo de
ressignificação do ensino de línguas durante a pandemia, dados quantitativos
revelaram aspectos que mais impactaram o trabalho docente. Perguntados sobre que
aspecto foi mais impactado no trabalho com o ensino remoto emergencial,
11 professores acreditam que a qualidade das
interações com os alunos foi a mais afetada, sendo que cinco desses 11
professores também apontaram as metodologias de aprendizagem como aspecto mais
afetado.
A BNC- Formação Continuada pontua
que “[...] é exigido do Professor sólido conhecimento dos saberes
constituídos, das metodologias de ensino, dos processos de aprendizagem e da
produção cultural local e global, objetivando propiciar o pleno desenvolvimento
dos educandos (BRASIL, 2020, p.1). A questão chave é que o contexto pandêmico trouxe
novos desafios e fez com que os docentes buscassem metodologias diferenciadas
para desenvolver as aulas no ERE.
Buscando conhecer o tempo de dedicação
desses professores ao trabalho no contexto pandêmico, a questão 8 expressa: as
tecnologias digitais impactam a educação na gestão de tempo e espaço. Como foi
esse impacto em relação à quantidade de horas de trabalho? Todos os
participantes responderam que estão trabalhando mais horas, sendo que cinco
deles marcaram a opção “trabalho mais horas” e sete marcaram a opção “trabalho
muito mais horas” do que antes da pandemia. Esses dados alertam sobre o
esgotamento de muitos professores em um trabalho multitarefas não só para dar
conta das demandas das aulas, mas também conciliar as aulas com as outras
demandas da vida, atividades domésticas, o cuidado com os filhos, dentre outras
atividades cotidianas.
Saviani (2011) acredita que o ideal seria
que os docentes não trabalhassem em várias escolas, mas em apenas uma e em
tempo integral, para que assim houvesse tempo suficiente para a preparação das
aulas e demais atividades, corroborando as respostas da pergunta 8. A gestão do
tempo está sendo desafiadora para grande parte dos docentes pesquisados.
A pouca frequência dos estudantes nas
aulas é algo preocupante, no que tange à questão 9: que problemas mais
afetam a presença discente nas aulas? Cinco docentes responderam que cerca
de 30% dos estudantes têm frequência assídua nas aulas. Em contraposição a
isso, apenas um docente (Wesley Alves)
respondeu que tem 100% de presença dos estudantes nas aulas. Correlacionada a
essa questão, a pergunta de número 10 foi: que problemas mais afetam a
presença discente nas aulas? A infrequência de estudantes já era um
problema no ensino presencial e, com o ERE, o problema se agrava ainda mais,
pois os recursos tecnológicos não são acessíveis a todos e são passíveis de
problemas técnicos, à falta de energia, à condições adversas de tempo, que
atrapalham o sinal da internet. A ausência de estudantes nas aulas dos
participantes da pesquisa ocorre, principalmente, por falta de condições em
casa de participar das aulas e falta de acesso à internet.
No que tange à participação dos estudantes
nas aulas, houve um empate técnico dos estudantes que participam das aulas
usando chat, câmera e microfone quando necessário e dos que usam apenas o
microfone e o chat. Há um percentual considerável de estudantes que usam apenas
o chat, além disso também foram citados os que usam o WhatsApp. Os dados gerados estão no gráfico a seguir. A BNCC discorre que “ao aproveitar o potencial de
comunicação do universo digital, a escola pode instituir novos modos de
promover a aprendizagem, a interação e o compartilhamento de significados entre
professores e estudantes” (BRASIL, 2018, p.61). Com as aulas síncronas, há uma
preocupação em relação à efetividade dessa participação.
Figura
1 – Gráfico de participação dos estudantes (Fonte: Das autoras, 2020).
Há um consenso de que a interação com os alunos nesse ambiente
virtualizado está sendo prejudicada. A questão 12 expressa: quais
são as maiores dificuldades que você enfrenta com o uso das novas tecnologias
em suas aulas? As dificuldades se diversificam, há
impacto na interação com os alunos, o cansaço dos estudantes, rotina intensa e
até dificuldade de acesso à internet. Essa exclusão digital é real, há alunos
que não têm os recursos tecnológicos e digitais para participarem das aulas. As
dificuldades apontadas pelos docentes também revelam
a necessidade dos letramentos digitais nesse novo contexto de ensino.
Mencionamos a seguir algumas respostas dos docentes em relação a essas
dificuldades:
Wesley Alves: internet
dos alunos.
Resistência: cumprir
as rotinas... os estudantes vão se cansando ao longo do tempo.
TK: a interação com os alunos, o
fato de não poder controlar a atenção dos alunos por causa da distância. A
dificuldade dos alunos em conseguir entender [sic] o processo a distância
(Fonte: Questionário das autoras, 2020).
Os dados gerados mostram que existem prejuízos na interação
aluno-professor nesse novo contexto virtual. Vale lembrar Menezes (2011) que sublinha
o debate de como o professor deve lidar com os meios de comunicação e as ferramentas
tecnológicas que o aluno está acostumado a usar fora da sala de aula. O referido
autor também traz a ideia dos fluxos, a tecnologia e os fluxos de informação, fluxos
diversos que pressionam a escola. No entanto, observamos, por meio dos dados,
que ainda há problemas em relação à interação, além disso, a ausência de
estudantes nas aulas parece evidenciar essa interação precária.
O
trabalho docente com as TDIC no ensino de línguas durante a pandemia instiga
professores a repensarem o ensino. Essa redefinição
das aulas pode ser positiva em um ensino que cada vez mais precisa inovar. Os
docentes pesquisados vislumbram tendências que abordaremos no tópico a seguir.
1.3 Fase 3: tendências do trabalho docente com as
TDIC no ensino de línguas (vislumbrando as aulas pós pandemia)
Há um consenso dos
participantes da pesquisa de que com a volta das aulas presenciais, o ensino
mudará. Tendo em vista isso, a questão 13 pergunta: você
acha que com o retorno das aulas presenciais sua atuação como professor mudará?
De que maneira? Três professoras (Florinda,
TK e Zoe) mencionaram o ensino híbrido como tendência e realidade já presente
nas escolas em que trabalham, tal como apontava a previsão de Leffa (2001), ao
afirmar que o ensino não seria apenas presencial e nem somente a distância,
porém, uma mescla dos dois modos. Além disso, muitos mencionaram que o trabalho
docente continuará tendo o apoio das tecnologias. Duas docentes (Raquel e
Professora de inglês) acreditam que haverá ainda um protocolo rígido a ser
seguido nas escolas, impossibilitando contato físico, trabalhos em grupo (do
modo tradicional), fato que também desencadeará impacto nas avaliações de
aprendizagem.
Acerca
das mudanças positivas advindas do ensino remoto, os itens mais escolhidos
pelos professores revelam que eles estão se engajando no uso de TDIC para as aulas
on-line e aprendendo novas maneiras de ensinar. O gráfico a seguir
explicita isso:
A BNC- Formação, no eixo da prática
profissional de professores, prescreve que é responsabilidade do
docente “criar e saber gerir ambientes de
aprendizagem” (BRASIL, 2019, p. 2), também ao mesmo
tempo é exigido “planejar as ações de ensino que resultem em efetivas
aprendizagens” (BRASIL,
2019, p. 2). Os participantes da pesquisa nos levam a entender, por meio dos
resultados, que estão se desenvolvendo apesar das dificuldades.
Como
você avalia seu trabalho? O que considera que tem sido mais desafiador no seu
trabalho como docente nesse contexto atual? Metade dos professores acreditam que o trabalho deles está
bom, muitos acreditam que pode melhorar. A adaptação os desafia, o uso das TDIC
também, pois os recursos digitais e a internet, às vezes, falham. O professor
João desabafa que seu trabalho tem sido “Muito desafiador e cansativo”
(Fonte: Questionário das autoras, 2020). Os
participantes da pesquisa se sentem desafiados a melhorar a sua práxis, a
aprender novos métodos, a manter o aluno interessado nas aulas nesse contexto
inédito, e isso os desgasta. Essas autorreflexões dos professores apontam para
uma ressignificação, uma busca constante desses professores de melhorarem o
ensino de línguas.
Em meio a tantas cobranças, os
professores de línguas desejam receber apoio para o trabalho nesses tempos de
pandemia.
A questão 16 foi: que tipo de apoio você considera que seria essencial para
a continuidade de seu trabalho com o ensino remoto? Eles querem apoio, seja apoio psicológico ou na formação, seja tempo
para reflexão docente. Querem ajuda para conseguir assiduidade dos estudantes
nas aulas, suporte da instituição de ensino em termos de estrutura,
investimento em internet, aparelhos eletrônicos. Saviani nos alerta para
o fato de que, predominantemente, em políticas públicas, há uma pauta de que
devemos sempre reduzir custos, cortando investimentos (SAVIANI, 2011, p.17). Ele
considera que, infelizmente, a educação não tem sido devidamente valorizada.
Ressignificar, nesse contexto pandêmico, tem sido fundamental.
Três professores responderam via WhatsApp
à pergunta: para você, o que significa o termo
“ressignificar”? Como você enxerga a ressignificação do uso de novas
tecnologias a partir de suas aulas nesses tempos de pandemia? Os participantes sentiram mudanças que fizeram surgir uma
ressignificação do modo de ensino por meio do uso das tecnologias digitais;
foram elas que deram suporte para que as aulas acontecessem em meio aos novos desafios
do cenário da pandemia, como podemos comprovar nesse argumento da professora
TK.
TK: ressignificar é
dar um novo significado a algo que já existe e que já é utilizado, mas que
agora pode ser utilizado dando novos significados há [sic] diferentes
contextos. No nosso atual cenário, a educação precisou de apoio, e esse apoio
foi proporcionado pelas novas tecnologias. Antes a educação acontecia, às vezes
se utilizava aqui ou ali as TICS, mas na nova situação vigente [pandemia] onde
todos foram e estão proibidos de sair de casa, as tecnologias amparam a
educação, foi através da tecnologia que a educação conseguiu alcançar seus
objetivos, embora com dificuldades de adaptação. As aulas na pandemia
utilizando as tecnologias digitais, foram a princípio difíceis. O professor
estava centrado ao quadro e apagador, ao presencial, olho no olho, a ter “quase”
o total controle da sala de aula. Mas com o advindo das tecnologias, a sala de
aula passou a ser virtual, o quadro passou a ser o PowerPoint e nos víamos por
uma telinha (quando nossos amados alunos a ligavam). A questão é que a
tecnologia ajudou porque nos proporcionou conhecimentos novos, facilitou para que
o ano não fosse perdido e para que os alunos não perdessem conteúdo. Por isso,
digo que nós professores ressigficamos [sic] nossa sala de aula, nossa prática,
tivemos que aprender a mexer em muitas plataformas novas, mas que nos ajudaram
no exercício da docência. Tivemos que mudar nossa postura, controlar o
incontrolável para que a aula fosse produtiva e eficaz. Ressignificar tem haver
[sic] com adaptação é assim que vejo e vi minhas práticas no cenário de
pandemia (Fonte: Questionário das autoras, 2020).
Uma ressignificação da postura
de docentes como TK se fez necessária, horizontes se ampliaram e uma nova visão
acompanha esses professores que agora se veem mais experientes com as vivências
proporcionadas nesse período tão difícil.
Nessa última fase, analisamos
efeitos dos processos de ressignificação no ensino de línguas com as TDIC,
vislumbrando tendências pós pandemia. Não se pode negar que professores que
resistiam ao uso das tecnologias digitais nas aulas, por terem obtido um certo
nível de familiarização com os recursos digitais e tecnológicos continuarão a
utilizá-los. Portanto, há uma forte tendência de que os professores continuem a
produzir materiais digitais para as aulas e utilizem as diversas ferramentas on-line.
Os aspectos que desafiam os participantes para uma nova projeção
de ensino são variados e vão desde a adaptação para atuar no ensino híbrido até
a busca pelo conhecimento, não só para melhorar o planejamento das aulas, mas
para o uso mais eficaz das ferramentas digitais. Para realizar tudo isso e
ainda despertar o interesse dos estudantes nessa nova conjuntura, contudo, é
necessário apoio. Os processos de ressignificação do modo de ensino vivenciados
por esses professores de línguas do DF vislumbram um ensino mais dialogado com
as TDIC e mais conectado ao perfil do estudante contemporâneo. Novas maneiras
de aprender e ensinar emergem, ressignificando a práxis docente para além da
sala de aula física presencial tradicional.
Algumas considerações finais
É inegável que muitas pesquisas já retratavam a importância da inserção
de novas tecnologias na formação de professores. Nos tempos de hoje com a
pandemia, essa inserção se tornou imprescindível. Diante dessa realidade,
buscamos discutir processos de ressignificação do modo
de ensino por meio das novas tecnologias digitais de informação e comunicação nas
escolas da rede, no Distrito Federal. Para a análise dos dados referente ao
tema, tivemos 12 questionários respondidos pelos professores de línguas e uma
questão que foi respondida via WhatsApp
por participantes selecionados.
O trabalho docente
dos participantes da pesquisa com as TDIC no ensino de línguas no início da
pandemia foi difícil e desafiador. Os primeiros resultados evidenciam que houve ressignificação do ensino de línguas quanto à modalidade: ensino
presencial, ensino híbrido e ensino remoto, uma adaptação se fez necessária para os novos formatos de ensino
proporcionados pela pandemia, até os professores
que já tinham intimidade com as tecnologias tiveram que reinventar suas aulas,
utilizando dispositivos e ferramentas digitais em um contexto completamente novo.
Durante
a pandemia, a comunicação entre professores e alunos precisou ser remodelada, especialmente
em ambientes digitais por meio de diferentes suportes e estratégias de ensino.
Os professores participantes da pesquisa já lançados aos novos desafios,
desabafam acerca dos problemas vivenciados com as dificuldades enfrentadas,
expõem que foi preciso uma redefinição das aulas, e os resultados mostram que a interação
com os alunos foi um dos aspectos mais
comprometidos entre os que frequentam as aulas, além disso, alertam para o
problema da infrequência de muitos discentes nas
aulas. A formação docente foi reconfigurada para um novo
panorama de educação, exigindo ainda mais habilidades. Em relação às novas projeções para o ensino, os resultados
vislumbram impacto nas avaliações de aprendizagem, há uma forte tendência de
que o ensino pós pandemia seja híbrido e de que os recursos digitais
continuarão a ser utilizados nas aulas.
É pertinente reconhecer que ainda falta um bom preparo, tanto dos professores como dos
estudantes, para integrar de maneira efetiva as TDIC nas aulas. Com base nos resultados gerados, observamos a
necessidade de novas pesquisas frente a problemas, tais como: a infrequência de
estudantes nas aulas e a adequação de aplicativos e ferramentas para o ensino. É considerável o impacto da utilização de ferramentas
digitais no ensino de línguas no cenário atual. As TDIC desdobram novas possiblidades no processo didático
pedagógico, portanto é possível afirmar que as mudanças advindas
desses tempos de pandemia trouxeram novos
aprendizados aos docentes e ressignificações relevantes ao ensino de línguas.
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<https://www.significados.com.br/ethos/>.
Acesso em: 29 maio 2020.
Reconhecimentos: Nossos
mais sinceros agradecimentos aos professores de línguas do DF que participaram
deste estudo.
Recebido
em: 17/05/21
Aprovado
em: 14/06/21
[1]
Mestranda do
Programa de Pós Graduação em Linguística Aplicada (PGLA-UnB), Licenciada em
Letras espanhol pelo Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia de Brasília
e Licenciada em Letras português e inglês e respectivas literaturas pela
Faculdade Evangélica; Brasília-DF, Brasil; E-mail: jessicamaryrosario@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4458700916399960 ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-2853-6926
[2] Pós-doutora
em Formação Inicial de Professores de Inglês pela Universidade Federal de
Tocantins; Pós-doutora em Formação de Professores e Tecnologias (UFMG); Doutora
em Linguagem e Educação (USP); Mestre em Linguística Aplicada (UNICAMP); Professora
da licenciatura e bacharelado do Departamento de Ensino de Línguas e Tradução
L. E. T.; Professora e Orientadora do Programa de Pós Graduação em
Linguística Aplicada (PGLA-UnB); Brasília- DF, Brasil; E-mail: anafajardo@unb.br Lattes: http://lattes.cnpq.br/2069631468037931 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7239-5668
[3] Ethos é uma palavra com
origem grega, que significa “caráter moral”. É usada para descrever o conjunto
de hábitos ou crenças que definem uma comunidade ou nação (Disponível em: <https://www.significados.com.br/ethos/>. Acesso em: 29 maio 2020).
[4] Entendemos por meio da resolução do
Conselho Nacional da Educação (CNE) que o ensino emergencial remoto pode ser
mediado pelo uso de recursos tecnológicos e digitais ou não, uma vez que há
acesso desigual a tecnologias e casos de estudantes que não dispõem dos recursos
necessários para as aulas, portanto, presuma-se que recebam da instituição
escolar material impresso para realizar as atividades das aulas. Para mais
informações sobre essa resolução, acesse o seguinte link: <https://drive.google.com/file/d/1jrZLd8aI5VQLgutfNwTR3ZW3BqFsAzE8/view>.
[5] Ressignificar é atribuir um novo significado a; dar um sentido
diferente a alguma coisa; redefinir. (Disponível em: <https://www.dicio.com.br/ressignificar/>. Acesso
em: 29 set. 2020).
[6] Para mais informações acerca da Base Nacional Comum para a Formação
Inicial de Professores de Educação Básica, acesse o link:
<http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2019-pdf/135951-rcp002-19/file> .Acesso
em: 29 maio 2020.
[7] Para saber mais
informações sobre esse parecer da Base
Nacional Comum de Formação Continuada,
acesse o seguinte link: <https://formacaoprofessordotcom.files.wordpress.com/2020/05/parecer_fcd_cne_maio_2020.pdf>. Acesso em: 12 set. 2020.
[8] Para mais informações sobre a web 2.0 acesse o link: <https://brasilescola.uol.com.br/informatica/web-20.htm>. Acesso em: 6 ago. 2020
[9] Letramentos digitais: habilidades individuais e sociais necessárias
para interpretar, administrar, compartilhar e criar sentido eficazmente no
âmbito crescente dos canais de comunicação digital (DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016, p.17).